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À frente de seu primeiro mandato no mundo da política, o vereador de Aparecida de Goiânia, Dieyme Vasconcelos, do PL, se considera um conservador e defensor dos valores pregados pelo bolsonarismo, que incluem “Deus, Pátria e família”. O parlamentar preside o PL Jovem em Goiás e mantém forte vínculo com lideranças da legenda no Estado, entre elas o deputado federal Gustavo Gayer, que apoiou sua eleição, e o senador Wilder Morais, presidente do PL em Goiás. Antes de ingressar na vida pública, Dieyme, formado em Administração de Empresas, foi bancário ele, nasceu com o propósito de afrontar estruturas e contrariar narrativas estabelecidas.

Nesta entrevista ao Jornal Opção, Dieyme, atualmente o único vereador do PL em Aparecida, já que os demais integrantes da bancada estão de malas prontas para outros partidos, comenta os rumos de sua sigla e o futuro político de 2026. Embora o partido tenha hoje um pré-candidato ao governo, Wilder Morais, o vereador afirma que a decisão final será do presidente Jair Bolsonaro.

Para ele, no entanto, o foco de 2026 não é a disputa presidencial, mas sim a construção de um Senado forte e disposto a enfrentar o que considera desmandos do STF. Dieyme também critica a prisão de Bolsonaro, ocorrida no último dia 22 de novembro, e acredita que o ex-presidente é alvo de revanchismo do Supremo Tribunal Federal.

Ton Paulo – No último dia 22, após muita especulação, o ex-presidente Jair Bolsonaro, líder mais proeminente do seu partido, o PL, foi preso. Inclusive, ele já começou a cumprir do crime pelo qual foi condenado. Como o PL de Goiás recebeu a notícia da prisão? Vocês foram informados por alguém de Brasília ou viram a notícia pela imprensa?

A gente estava aguardando o desfecho completo. Agora, o que deu para perceber é que parece um revanchismo, né? Escolheram justamente o dia 22. Já haviam multado o partido em 22 milhões e, novamente, esperaram esse dia para decretar a prisão, dessa vez por causa de uma vigília.

Foi convocada uma vigília pelo Flávio Bolsonaro, justamente num momento em que o Bolsonaro estava com a saúde debilitada. Ele enfrenta vários problemas de saúde. E o Flávio Bolsonaro disse que era o momento de reunir o pessoal na porta do condomínio para fazer essa vigília.

Mas que risco isso ofereceria? A casa do Bolsonaro fica em um condomínio com toda a segurança da Polícia Federal, segurança dentro e fora do local. O que um senhor de mais de 70 anos conseguiria fazer naquele ambiente? Como fugiria dali para sair da prisão domiciliar? Isso tudo é uma narrativa, uma alucinação do Supremo Tribunal Federal para justificar essa decisão.

Falam agora que ele “tentou violar a tornozeleira”. Só que o mandado de prisão foi expedido na sexta-feira, dia 21, e a suposta tentativa de violação aconteceu à meia-noite. Portanto, não tem relação com a tornozeleira. No momento de surto, havia mais de dez comprimidos ali. O Bolsonaro, de fato, tentou mexer na tornozeleira com um pedaço de ferro, mas isso é algo que pode acontecer.

Vereador Dieyme Vasconcelos, em entrevista ao Jornal Opção |

De qualquer forma, a prisão foi atribuída à vigília na porta do condomínio, sob o argumento de que ela poderia gerar tumulto e, na cabeça do ministro Alexandre de Moraes, esse tumulto poderia resultar em algo como o episódio do Alexandre Ramagem, que poderia de alguma forma beneficiar o Bolsonaro.

Eu soube pela imprensa. O Fred Rodrigues fez uma convocação, chamou todos os deputados estaduais e federais para ir à vigília pós-prisão. No dia da vigília, eu e o Fred convidamos todos os estaduais e federais para estarem lá.

Conversamos um pouco com o Carlos Bolsonaro. Ele estava muito abatido. Acho que entre todos, era o que estava mais próximo do Bolsonaro nesse momento. O Flávio também estava presente, mas o Carlos realmente parecia muito abalado. Não esperava que isso acontecesse.

O que Bolsonaro, um senhor de mais de 70 anos, conseguiria fazer naquele ambiente? Como fugiria dali para sair da prisão domiciliar? Isso tudo é uma narrativa, uma alucinação do Supremo Tribunal Federal

Infelizmente, hoje vivemos em um estado de exceção. Não vivemos em uma democracia plena. E não estou falando de direita ou esquerda, até porque muitos veem meu mandato como equilibrado. Sou conservador, sim, mas é impossível ignorar as atrocidades que vêm acontecendo.

João Paulo Alexandre – O ex-presidente já havia dado algum sinal de distúrbio ou transtorno? Algo que justificasse a atitude de violar a tornozeleira? E ele teve acompanhamento médico?

O Bolsonaro tem uma equipe médica de São Paulo que o acompanha desde a facada que sofreu em 2018. Toda essa equipe veio para Brasília para realizar o acompanhamento completo, inclusive o deslocamento até a Polícia Federal e todas as análises necessárias.

Antes disso, segundo o relatório médico, ele passou por um atendimento psicológico com um psiquiatra. A equipe que faz o acompanhamento contínuo não soube informar exatamente qual procedimento foi adotado, até porque, conforme surgem novas complicações, a medicação também vai sendo ajustada.

A equipe saiu de São Paulo e foi para Brasília justamente para acompanhar todo esse processo, inclusive o trânsito relacionado à prisão. E, além disso, Bolsonaro recebeu esse atendimento psicológico. Esse atendimento ocorreu, mas a equipe multidisciplinar de São Paulo não conseguiu especificar nos laudos enviados à Polícia Federal como ele foi conduzido.

Ou seja, ele teve um atendimento psicológico antes da prisão. Antes da prisão e antes dessa avaliação que foi feita para determinar se ele poderia ser detido, inclusive levando em conta que, na prática, ele já está preso desde 4 de agosto. Houve uma avaliação médica, e essa avaliação registrou que ele passou por atendimento psicológico, mas a equipe multidisciplinar não soube explicar exatamente o que foi feito.

Não se sabe se foi administrado algum medicamento diferente, porque são equipes distintas. Então, sim, houve esse atendimento psicológico. E, na cabeça de muitos, é fácil criar uma narrativa sobre questões psicológicas, mas esse atendimento aconteceu. Ele ocorreu antes da avaliação da equipe multidisciplinar, composta também por um cardiologista, considerando os problemas decorrentes da facada.

Ton Paulo – Aliados do ex-presidente demonstram muita preocupação. Eles dizem que Bolsonaro está com a saúde debilitada e, agora preso, ele pode ficar ainda mais fora do jogo político. Como fica a situação diante disso? De que forma esses acontecimentos impactam 2026, para o PL, na questão política?

Tomamos a decisão de que o Wilder Morais será o nosso pré-candidato ao governo de Goiás. Já houve algumas conversas com o Bolsonaro e com o Gustavo Gayer antes da prisão domiciliar. Essa conversa começou antes de o Bolsonaro ser preso, porque depois disso o Gustavo Gayer não teve oportunidade de falar com ele pessoalmente.

O Bolsonaro tem conversado bastante com o Valdemar Costa Neto. O Valdemar já havia dado o aval, inclusive no aniversário do Wilder, aqui em Goiás. Em outras ocasiões, em reuniões que tivemos com o Valdemar em Brasília, ele também reafirmou esse aval, chancelando o Wilder como candidato. Agora, neste momento, quem vai tomar a decisão final sobre as candidaturas é o próprio Jair Bolsonaro, juntamente com o senador Rogério Marinho, do Rio Grande do Norte, que é muito próximo dele, além da Michelle e do próprio Valdemar Costa Neto.

Infelizmente, hoje vivemos em um estado de exceção. Não vivemos em uma democracia plena

Acredito que a reunião que o governador Ronaldo Caiado teria com o Bolsonaro trataria especificamente desse assunto. Mas, no momento, as coisas estão bastante confusas. Até a semana passada, dentro do PL, ainda estávamos falando de 2026. Só que não tem como discutir 2026 sem falar do Senado.

Hoje, o mais importante é isso: temos um Senado acovardado. Um Senado que tem medo do STF, e tem medo porque deve, porque muitos têm telhado de vidro. Precisamos fortalecer o Senado. Na cúpula nacional, trabalhamos com uma estimativa, a média é de que seja possível eleger 43 senadores da República. Esse é o índice que vem de cima: cerca de 43 senadores que a direita teria condições de fazer. Com esse número, sim, há condições de eleger um presidente e formar maioria para qualquer tipo de votação, inclusive para enfrentar o STF quando necessário.

Ton Paulo – Nos bastidores, cogita-se que, em uma eventual aliança entre o PL e Daniel Vilela, poderia haver uma abertura para que Wilder desistisse da candidatura, permitindo que um nome do PL, possivelmente Gustavo Gayer, integrasse a chapa ao Senado junto com Graciela Caiado. Diante do cenário atual, com Bolsonaro preso e Wilder já colocado como pré-candidato, você acha que essa articulação ainda é possível? E, se for, considera que seria um bom caminho para 2026?

Um bom caminho para 2026 começa, antes de tudo, por pensar no Senado Federal. Esse é o ponto central em Goiás. Hoje, é possível eleger duas cadeiras, mas isso só acontece se houver uma chapa majoritária. Não tem como conquistar duas vagas no Senado sem uma chapa majoritária estruturada.

E a questão que eu coloco é: se não houver essa chapa majoritária, quem será prejudicado? Eu, por exemplo, que sou pré-candidato a deputado estadual. Quando não existe uma chapa majoritária, toda a estrutura se enfraquece, e a chapa para deputado estadual acaba fazendo menos nomes.

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Dieyme Vasconcelos | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Para deputado federal, temos grandes nomes: Fred Rodrigues, Major Vitor Hugo e outros fortes concorrentes. E temos também a disputa pelo Senado. Por isso, se não houver chapa majoritária, toda a chapa do PL será prejudicada. No momento, a conversa dentro do diretório estadual é de que o Wilder será o nosso candidato ao governo de Goiás. Mas a decisão final caberá ao Jair Bolsonaro.

Ton Paulo – Ainda sobre o PL, durante um tempo houve atritos entre duas das figuras de maior destaque da legenda em Goiás: o deputado federal Gustavo Gayer e o vereador Major Vitor Hugo. No centro do embate, a disputa pela vaga ao Senado em 2026. Como está a situação hoje? Está pacificada? Ou ainda existe uma divisão no partido?

Não existe divisão quando há apenas uma pessoa isolada. O Vitor Hugo estava isolado, hoje não está mais. Antes, o Major Vitor Hugo estava sozinho, por isso não havia uma divisão dentro do PL; havia apenas alguém que estava isolado, no caso, o Major Vitor Hugo. Agora, isso mudou. Já houve reunião, já houve diálogo. Hoje, o Major é líder do PL na Câmara.

Ton Paulo – Por que ele não participou da reunião que definiu Wilder Morais como pré-candidato ao Governo de Goiás?

Foram todos convidados. Todos os mandatários foram convidados. E, infelizmente, não compareceram alguns. Mas já está tudo certo a respeito desses problemas de antes. Eles já conversaram.

Os vereadores de Goiânia têm um apreço muito grande pelo Vitor Hugo também. Houve uma reunião que o definiu como líder do PL na Câmara Municipal, o que passou pelo presidente municipal, que é o Gustavo Gayer. Foi feita essa reunião, e está tudo certo.

Eu acho que ele foi muito precoce nas atitudes no passado. Na política, se você tem um grupo, é preciso conversar com as pessoas. E Vitor Hugo foi direto [em Bolsonaro], sem conversar com o presidente municipal, nem o estadual. Eu acho que foi uma infelicidade dele. Mas o Major Vitor Hugo é uma pessoa muito inteligente, tem uma classe muito forte. É importante no PL, muito importante. E eu acredito que isso, o atrito, já passou.

João Paulo Alexandre – O senhor está há pouco tempo como vereador de Aparecida de Goiânia, e, hoje, é pré-candidato a deputado estadual. O senhor não tem receio de que essa iniciativa, da pré-candidatura, possa passar uma imagem de que o senhor estaria já em vias de abandonar o mandato?

Muitas pessoas me questionam “Mas ele acabou de tomar posse”. Eu realmente ficaria com receio se a Assembleia Legislativa de Goiás não fosse tão desfalcada.

Hoje nós temos um deputado estadual que não é, de fato, um representante de Aparecida. Tenho todo o respeito pelo Veter Martins, mas ele não tem uma atuação presencial forte na cidade. E Aparecida é uma cidade totalmente vinculada à nossa realidade. Para se ter ideia, Aparecida tem cerca de 350 mil eleitores e 600 mil habitantes.

Anápolis, por exemplo, elege quatro deputados estaduais. Já Aparecida, com quase o dobro de eleitores, mal consegue eleger um único deputado. Se Aparecida não estivesse tão desfalcada na Assembleia em termos de representatividade, talvez essa discussão fosse outra. Mas não é o caso. Eu preciso mostrar para Aparecida que a cidade precisa, sim, ter mais deputados estaduais.

Hoje, o mais importante é isso: temos um Senado acovardado. Um Senado que tem medo do STF, e tem medo porque deve, porque muitos têm telhado de vidro. Precisamos fortalecer o Senado

Eu não vou competir com nenhum deles, nem com o Veter, nem com quem mais entrar na disputa, no sentido do voto tradicional. Esse voto que eles disputam é o voto da política tradicional, baseado em liderança, em fazer isso ou aquilo. O nosso voto é diferente.

Dieyme Vasconcelos em entrevista aos jornalistas João Paulo Alexandre e Ton Paulo | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

É um voto ideológico, um voto movido pela necessidade de mudança e por uma perspectiva de futuro. O povo de Aparecida precisa entender que, de fato, falta representatividade na Assembleia Legislativa. Hoje, nós não temos essa representatividade.

Atualmente, temos um deputado que escolheu atuar pelo Estado inteiro e não foca em Aparecida. Por isso, precisamos eleger três ou quatro deputados estaduais para que a cidade possa se desenvolver. Eu diria até que Aparecida precisa se desenvolver muito.

Quando eu vou organizar um evento grande, como fizemos recentemente com o PLJ Nacional, eu sou obrigado a realizar em Goiânia. Se tento fazer em Aparecida, ainda falta infraestrutura: falta rede hoteleira, falta alimentação, falta quase tudo. Em Aparecida, muita gente tem medalha disso e daquilo, diversas homenagens.

Mas será que esse pessoal realmente desenvolveu Aparecida? Muitos, não todos, mas muitos prefeitos foram um atraso para a cidade. Um atraso real. Aparecida só começou a se desenvolver com o pai do Max, o Ademir Menezes, que implantou polos industriais e deu uma nova dimensão ao município, impedindo que se tornasse apenas uma cidade-dormitório, onde as pessoas trabalhavam em Goiânia e só dormiam em Aparecida. Mas, quando observamos outros prefeitos que passaram pela cidade, vemos que eles acabaram prejudicando Aparecida.

Não houve desenvolvimento. Tanto que Maguito precisou sair de outro contexto político e ir para Aparecida para mudar a história da cidade com eixos estruturantes, transformando totalmente a mobilidade urbana. Ainda assim, muita gente do passado, que hoje é homenageada, foi, na verdade, um atraso para Aparecida.

Ton Paulo – Como avalia a gestão de Gustavo Mendanha? Inclusive, a ex-primeira-dama de Aparecida e atual secretária de Assistência Social era do PL.

Foi uma estratégia colocar a Mayara Mendanha em destaque para ser vista pelo Mabel, visando uma possível composição, já que ela seria do PL. E o Gustavo, de fato, fez uma gestão muito estruturada durante a pandemia. Sua administração foi referência para o Brasil inteiro: ele adotou um modelo de Israel, levou para Aparecida e funcionou.

Ton Paulo – Um dos deputados federais de Aparecida no Congresso hoje é o Professor Alcides, sobre quem pesam denúncias muito graves envolvendo crianças e adolescentes. Primeiro, gostaria de saber qual é exatamente a situação atual: o Professor Alcides continua filiado ao PL? Recebi a informação de que sim. Ele ainda participa dos eventos do partido? Como está, hoje, a relação dele com o PL?

O Professor Alcides, hoje, não está no PL. O processo dele na esfera nacional está em fase de finalização, e ele está deixando o partido. No PL, não há mais nenhuma foto ou material dele; nada relacionado ao professor permanece lá.

No principal sistema, o Filia, o processo já está em andamento e próximo de ser concluído, com sua desfiliação. Portanto, atualmente, o Professor Alcides não faz parte do PL.

João Paulo Alexandre – Há uma pressão em cima de Jair Bolsonaro, desde que ele se tornou inelegível, tanto por parte de aliados quanto do centrão, para que ele “passe o bastão”, confirme apoio a outro nome para a corrida presidencial de 2026. Como enxerga essa situação e qual seria o melhor nome pra concorrer com o aval de Bolsonaro?

Hoje, a nossa primeira opção é Jair Bolsonaro. A situação para reverter a inelegibilidade dele é difícil, mas vale lembrar que o Lula foi solto poucos meses antes da eleição e pôde concorrer à Presidência da República. Portanto, insistimos: a nossa primeira opção é Jair Bolsonaro. Ele é o melhor nome para derrotar Luiz Inácio Lula da Silva.

Hoje, a nossa primeira opção é Jair Bolsonaro. A situação para reverter a inelegibilidade dele é difícil, mas vale lembrar que o Lula foi solto poucos meses antes da eleição e pôde concorrer

Esse é o nosso candidato, mesmo com todas as dificuldades que enfrenta, problemas de saúde e os desafios atuais no Judiciário. Há outros nomes, claro. A Michelle, por exemplo, ultrapassa algumas barreiras que o próprio Bolsonaro não ultrapassaria; ela consegue furar bolhas, especialmente entre o eleitorado evangélico. O Tarcísio é um ótimo nome. O Caiado também é um excelente nome, e isso já foi demonstrado na área da segurança pública em Goiás.

Mas estamos em um momento tão delicado para falar de 2026, enquanto vemos o maior líder da direita preso, com a saúde debilitada, e lidando com um juiz que, claramente, tem um lado e uma disputa pessoal. Ainda assim, vejo nomes fortíssimos. O Ratinho Júnior transformou o Paraná. O Zema é outro nome, embora eu ache que ele esteja mais distante. São várias possibilidades, e acredito que a direita precisa se unir em torno de um único projeto presidencial.

Só que, hoje, o foco principal nem é mais a Presidência da República. O foco central é o Senado Federal. O Senado é, hoje, a “menina dos olhos”, porque é ele que pode garantir o equilíbrio do Brasil.

Ton Paulo – Em Aparecida de Goiânia, você se posiciona como vereador da base do prefeito Leandro Vilela? E como avalia a gestão dele?

Hoje eu sou independente na Câmara de Aparecida. Sempre digo ao Leandro: “sou base enquanto não chegar aqui um projeto que vá prejudicar o povo, como aumento de impostos ou qualquer medida que afete quem me colocou lá”. O Leandro assumiu uma situação muito difícil em Aparecida.

No início, tentei montar uma CEI, mas não consegui articular as assinaturas necessárias para investigar por que o ex-prefeito escolheu determinados fornecedores para pagar e por que deixou de pagar a folha de pagamento na época. Nesse um ano, o prefeito conseguiu quitar parte dessa dívida. O Leandro é uma pessoa muito dura e muito sincera, sincero até demais, a ponto de às vezes deixar as pessoas desconcertadas. Ele não faz rodeios: quando tem algo a dizer, vai direto ao ponto.

Vejo essa sinceridade e essa disposição nele. Ele trabalha 24 horas. O Leandro é do MDB, não tem ligação com o PL. No ano que vem, nós teremos nosso candidato, e ele terá o dele. Mas, ainda assim, um dia ele me chamou e disse: “me ajuda a reconstruir a cidade. Quero reconstruir Aparecida, economizar, organizar tudo. Sei que este primeiro ano foi muito difícil, com muitas críticas e muitos problemas”.

Ton Paulo – Em maio deste ano, aconteceu uma situação envolvendo sua pessoa no Cais Nova Era. Na época, você foi acusado por funcionários da unidade e até pelo SindSaúde, que divulgou uma nota, de ter promovido um tumulto no local e desrespeitado os funcionários. O que de fato aconteceu?

Eu estava por perto, sem assessoria nem nada, quando recebi uma ligação: “estou no CAIS Nova Era, estou enfrentando alguns problemas, não estou sendo atendido; há pessoas com câncer aqui aguardando medicação desde as cinco da tarde, e já é quase meia-noite, e ninguém foi atendido”.

O que eu fiz? Como eu estava passando em frente ao Buriti Shopping, fui imediatamente para lá. Ao chegar, a primeira coisa que observei foi o quadro branco: constavam seis médicos de plantão, um intensivista e um clínico, mas havia mais de 30 ou 40 pessoas esperando, inclusive pacientes com câncer. Essas pessoas, em estágio avançado, vão à unidade apenas para receber medicação para aliviar a dor, em tratamento paliativo. Havia duas pessoas com câncer, entre elas uma senhora, e nenhuma havia sido atendida.

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Dieyme Vasconcelos | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Ao analisar a situação, percebi que, dos seis médicos escalados, apenas um estava atendendo. Perguntei pelos horários e pelos profissionais responsáveis, mas ninguém quis me informar. Liguei para o secretário de Saúde, que não me atendeu naquele momento.

Caminhei pelo corredor; não entrei em nenhuma sala de médicos. As imagens mostram isso. Não falei com nenhum médico. Havia um atendendo, e eu não atrapalhei o atendimento. Não entrei em sala de medicação ou qualquer área restrita, se tivesse entrado, a promotora do Ministério Público teria me processado.

A infelicidade foi que havia ali uma representante do sindicato dos profissionais de saúde, que detesta pessoas de direita. Ela pegou na minha mão, sorriu, conversou comigo, disse que a fiscalização era necessária, e depois fez todo esse alarde. Criaram conflitos, espalharam críticas na região do Buriti Sereno, tentando me denegrir.

Ton Paulo – A informação é que a equipe tentou orientar você sobre o que estava acontecendo e que você teria sido desrespeitoso.

Não, isso não aconteceu. O que pediram foi que eu ligasse para a diretora da unidade. Eles não explicaram nada. Eu fazia perguntas e ninguém respondia. Eu só queria saber se o serviço estava funcionando. Por que o nome do médico estava no quadro se ele não estava trabalhando? No final, disseram que se tratava de um revezamento. Para mim, revezamento funciona assim: se há seis profissionais, dois ou três descansam enquanto os demais atendem. Isso é revezamento.

Se eu realmente tivesse cometido alguma infração lá dentro, mesmo no exercício da fiscalização, eu teria sido processado. Compareci a uma audiência com a promotora do Ministério Público. Hoje, para um vereador fiscalizar uma unidade em Aparecida, preciso enviar uma carta formal solicitando a visita. Essa foi a recomendação.

O povo de Aparecida precisa entender que, de fato, falta representatividade na Assembleia Legislativa

Chamaram o presidente da Câmara, fizemos uma reunião sobre isso. A recomendação do Ministério Público foi que eu não tivesse acesso a nenhuma unidade de saúde de Aparecida; e, se eu quiser fiscalizar, deve ser de forma formal e previamente comunicada. É como se um ladrão tivesse que avisar o horário em que vai cometer o crime: se algo está errado e eu preciso fiscalizar, de que serve meu poder de fiscalização se eu tiver que avisar antes que estarei lá?

Ton Paulo – Como é que o PL pretende conter essa debandada de prefeitos e outros mandatários da legenda em Goiás? E por que isso está acontecendo?

Apenas oito dos 246 municípios de Goiás sustentam-se com orçamento próprio. Isso significa que 238 municípios não conseguem sequer fechar sua folha de pagamento. Os prefeitos dependem do governo estadual, de emendas parlamentares e enfrentam muitas dificuldades.

Diante disso, o que vamos fazer? Vamos atuar por meio do Rota 22, que começará agora no dia 4. Já está definido, estávamos aguardando apenas o aval do presidente nacional. O início será no município de Caçu. Vamos levar o nome e os valores do PL para todo o Estado através do Rota 22, do PL Mulher, do PL Jovem e do PL 60+. Vamos disseminar esse trabalho por Goiás.

O ano de 2026 será muito aberto. Ninguém sabe como será a transição do governador Ronaldo Caiado para o Daniel. Não se sabe se os prefeitos permanecerão na base ou não. Muitos, nos bastidores, já falam que podem ir com o Marconi. Então tudo pode acontecer em um ano decisivo.

João Paulo Alexandre – Voltando ao tema da prisão do ex-presidente Bolsonaro: como vai funcionar esse apoio? Vai haver manifestações? Acampamentos? Como vocês estão pensando isso?

Muitas pessoas me ligaram perguntando: “E agora, o que vamos fazer? Vamos fazer manifestação? Vigília? Caminhada? Fora Lula? Universo Bolsonaro? O que vamos fazer?”. Muita gente perguntou isso. Mas acredito que a direita está passando por um amadurecimento importante.

Hoje, penso que, mesmo se levarmos 10 milhões de pessoas às ruas, o ministro Alexandre de Moraes vai simplesmente rir dessa mobilização. Então, ir para as ruas adianta? Eu participei de todas as manifestações convocadas pelo presidente Bolsonaro. Fui ao Rio de Janeiro, fui a São Paulo várias vezes, participei em Goiás, fui a Brasília inúmeras vezes. Participei de todas. E adiantou? O Bolsonaro foi preso.

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Dieyme Vasconcelos | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Então, será que vamos continuar repetindo a mesma estratégia? Acredito que o foco agora será mais interno, dentro das instituições. Será mais eficaz trabalhar junto aos senadores e deputados, demonstrar força ali. Agora, se houver paralisação geral, comércio parado, caminhoneiros parados, o Brasil todo parado, é outra situação. Mas simplesmente ir para as ruas, na minha visão, não funcionou.

Esse é o amadurecimento: apostar mais na articulação interna, no diálogo estratégico, no trabalho institucional.

João Paulo Alexandre – Quais os próximos projetos que o senhor pretende apresentar?

Nós temos projetos que impactam diretamente a população, e um deles trata da educação financeira nas escolas. Hoje, o número de pessoas endividadas e com nome no Serasa é extremamente alto, e muitos desses problemas começam na infância. “Mas Dieyme, você vai mudar o Plano Nacional de Educação?” Não, é algo nacional, não há nada específico ali. O objetivo do projeto é instituir uma semana de campanha, a Semana da Educação Financeira, com atividades extracurriculares nas escolas que incentivem a criança, por exemplo, a montar um cofrinho, entender como funciona um pagamento.

Isso poderia ser feito também em outras áreas, como trânsito. Goiânia enfrenta enormes dificuldades nessa área, e, se o trabalho começasse na infância, teríamos resultados muito melhores no futuro.

A educação financeira é essencial no ambiente familiar, é a base. Trabalhei como bancário por 10 anos, então venho do mercado financeiro e conheço bem o impacto dessa educação. Para mim, é fundamental guardar parte do salário, 30%, se possível, para qualquer eventualidade. Se transmitirmos esse conhecimento ainda na infância, teremos no futuro adultos mais responsáveis financeiramente.

Esse projeto já foi protocolado. Também protocolei outro, que tem gerado bastante discussão: o Dia Municipal de Conscientização contra o Assassinato de Bebês no Ventre Materno, relacionado ao tema do aborto. Eu respeito a opinião de cada um, mas ali existe uma vida. Se há tanto cuidado com a vida em outras situações, por que ali não seria considerado vida? Esse projeto está tramitando há muito tempo na Casa. Eles analisam o impacto, discutem mudanças, querem fazer alterações, e eu disse claramente: não mudo nada. É desse jeito.