O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2025 foi “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”. Segundo professores de redação ouvidos pelo Jornal Opção, a escolha segue a linha da prova dos últimos anos, com a tradição de abordar fenômenos sociais relevantes. No entanto, eles destacaram que houve uma questão interpretativa diferente nesta edição, o que exige uma maior reflexão e menos fórmula.

Por exemplo, a professora Cassiana Carvalho, do Articularte Redação, curso especializado em produção textual para vestibulares, avalia que a nova interpretação é um “convite a um olhar mais crítico”. “Em vez de trazer o problema explícito, como nos últimos anos, a banca usou ‘perspectivas’, o que exige uma leitura mais cuidadosa e uma interpretação mais crítica do aluno. Então, não é uma armadilha, é apenas uma mudança na forma de direcionar o tema”, explica.

Cassiana também destaca que a proposta deste ano contribui para romper com o mito da “receita de bolo” nas redações do Enem. “Embora a gente saiba que há uma estrutura mais ‘engessada’, há uma tentativa de romper com esses modelos prontos de redação. Nesta construção deste ano, não basta encaixar o tema numa estrutura pronta. O aluno precisa construir relações, interpretar o que está sendo pedido e mostrar como essas perspectivas do envelhecimento impactam a sociedade brasileira”, afirmou.

“A seleção de repertório também deixa de ser genérica. O repertório precisa dialogar diretamente com a discussão proposta. Há vários caminhos possíveis, como o filme ‘O Senhor Estagiário’, que aborda trabalho e etarismo, ‘Up’ com a dimensão afetiva e social da velhice, o livro ‘A Velhice’, da Simone de Beauvoir, a música ‘Envelhecer’, do Arnaldo Antunes, ou análises de sociólogos, historiadores e filósofos, como Lilia Schwarcz, que discute a estrutura de desigualdades no Brasil, e, inclusive, trazer exemplos atuais, como a crise da previdência social, o rombo no INSS”, destacou a professora, graduada em Letras pela Universidade Federal de Goiás (UFG).

A professora e corretora do Enem há 12 anos também reforça que o tema do envelhecimento se encaixa perfeitamente na linha adotada pelo exame nos últimos anos. Ela ressalta que as últimas edições estão privilegiando discussões sobre grupos vulnerabilizados, políticas públicas e questões estruturais do país.

Reflexão da sociedade 

No mesmo sentido, o linguista Carlos André, professor em cursos preparatórios de Goiânia e Brasília, também elogiou a escolha do tema. Para ele, a prova deste ano reforça o papel do Enem como um instrumento de reflexão sobre a sociedade brasileira.

“É um tema absolutamente pertinente”, afirmou Carlos, em entrevista ao Jornal Opção. “A sociedade brasileira, assim como a europeia, tende a ter, em pouco tempo, mais pessoas idosas do que jovens, o que significa dizer que é um tema extremamente importante e que foi uma escolha acertada do Governo Federal. Estão de parabéns, porque é um dos temas mais relevantes a serem discutidos no Brasil hoje”, acrescentou.

Ao mesmo tempo, o professor defende que a estrutura da redação do Enem deve ser vista como uma ferramenta, e não como um engessamento. “A dissertação argumentativa tem que ser um modelo, com introdução, desenvolvimento e conclusão. Isso não vai mudar, o aluno que não fizer isso vai sair mal na prova. Ele precisa fazer uma introdução com uma lógica de contextualização, uma apresentação da tese. Depois, deve-se desenvolver percursos analíticos”, analisou. Carlos também comentou sobre pontos que considera importantes abordar no texto. 

“Por exemplo, o Estatuto do Idoso é muito importante. É essencial que o aluno compreenda que existem direitos sociais já adquiridos pela República, pelos idosos, como o direito ao trabalho. Então, um dos pontos fundamentais a se analisar, sob essa perspectiva do envelhecimento, é que ele deve ser saudável e se está ligado à dignidade por meio do trabalho. O último ponto que precisa ser considerado é a questão do preconceito contra idosos, o chamado etarismo. O etarismo está ligado a essa perspectiva neoliberal de que o idoso já não serve mais para nada, e isso precisa ser combatido”, finalizou o professor.

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