O ex-ministro da Educação e ex-governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque, defendeu a federalização do ensino básico. Para o político, essa seria a única forma de garantir qualidade e isonomia das escolas públicas em todo o país. Ele aponta que a medida permite padronizar o nível de formação dos professores e reduzir desigualdades entre redes municipais e estaduais.

“Nós fracassamos na educação. A escola pública precisa oferecer disciplina do respeito, não da imposição”, afirmou Buarque em entrevista ao Jornal Opção, destacando que, apesar dos avanços no ensino superior, a educação básica ainda permanece fragilizada. “O governo do presidente Lula, em 2003, estava muito mais preocupado com o ensino superior. Ele quase nunca fala da educação básica.”

Para o ex-ministro, apenas com a federalização será possível garantir professores mais qualificados e um padrão nacional. “Só assim teremos educação básica de qualidade e isonomia em todo o Brasil”, acrescentou.

Buarque também criticou a promoção automática, a falta de disciplina e a pouca valorização dos professores. Ele apontou que o ensino médio é um dos maiores gargalos, com muitos adolescentes que não retornaram às escolas após a pandemia, somado à carência de infraestrutura e tecnologia. “Dar aula só com giz para quem nasceu com celular é como condenar a andar de carruagem em pleno século XXI”, disse.

O ex-ministro também comentou sobre programas sociais. Segundo ele, o Bolsa Família perdeu parte do efeito educativo ao deixar de exigir frequência escolar. Já o programa Pé-de-Meia, adotado por ele em 1995 como “Poupança Escola”, ficou engavetado por décadas. “É preciso cuidado para que as boas ideias não virem más práticas”, afirmou.

Buarque defendeu o aproveitamento de vagas ociosas em escolas particulares, sugerindo que prefeituras negociassem essas vagas por valores menores do que o custo de manter novas turmas na rede pública. “Uma escola particular cobra em média R$ 1.000 por mês, mas o município poderia negociar a vaga por R$ 500 para uma criança carente. Isso sai mais barato do que manter toda a estrutura de uma escola pública”, defendeu.

Ele também propôs a criação de cidades-modelo em educação, onde escolas receberiam atenção especial e investimentos estratégicos, permitindo que experiências bem-sucedidas fossem replicadas em outras regiões.

“Levei recentemente a sugestão ao governo Lula de adotar 50 a 100 cidades pequenas e dizer: essas cidades eu vou transformar em modelo de educação. A revolução na educação não começa no país inteiro de uma vez. Ela tem que começar em alguns pontos e depois se espalhar, como aconteceu com aeroportos e hidrelétricas”, disse o ex-governante.

Serviço militar

Buarque ressaltou que a disciplina deve ser um instrumento democrático e defendeu o serviço militar educativo para jovens fora da escola ou do trabalho. Segundo ele, essa proposta serviria tanto para o desenvolvimento pessoal dos jovens quanto para a segurança do país, oferecendo uma alternativa educativa para aqueles que não estão inseridos no sistema escolar.

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