Estudo da UFG revela: só 1,3% dos autores na ciência do esporte são negros
19 novembro 2025 às 14h00

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Apenas 1,3% dos autores de artigos em ciência do esporte são negros. Destes, menos de 1% ocupam posições de primeiro ou último autor, que indicam liderança na pesquisa. A presença de mulheres negras é ainda menor: 0,34%.
Os dados são de um estudo liderado pelo professor Claudio Andre Barbosa de Lira, da Faculdade de Educação Física e Dança da UFG, publicado no British Journal of Sports Medicine. A pesquisa analisou 1.737 artigos e 11.158 autores das quatro revistas de maior impacto na área entre 2018 e 2022.
Lira afirma que o problema é estrutural e prejudica a própria ciência. Segundo ele, a diversidade racial é essencial para ampliar perspectivas e qualificar a produção de conhecimento. O estudo também alerta que a falta de representatividade pode afastar jovens negros da carreira acadêmica.
A sub-representação é evidente ao se comparar os dados com a população global: cerca de 17% das pessoas no mundo se identificam como negras ou de ascendência africana. Apesar de um aumento de 0,85% para 2,01% na presença de autores negros entre 2018–2020 e 2021–2022, o crescimento foi mínimo nas posições de liderança — alta de apenas 0,13% entre primeiros autores e 0,63% entre últimos autores.
Os pesquisadores atribuem o cenário ao racismo sistêmico no meio acadêmico. Entre os fatores que limitam o avanço de estudantes e pesquisadores negros estão a menor progressão na formação, o “viés de afinidade” — quando líderes orientam pessoas que lhes são semelhantes —, barreiras linguísticas, falta de financiamento e os altos custos de publicação em revistas de alto impacto.
O estudo descreve um ciclo que se retroalimenta: pouca referência gera menor senso de pertencimento, que reduz ainda mais o número de pesquisadores negros e seu impacto científico.
Para romper esse ciclo, os autores defendem políticas institucionais de inclusão, ações afirmativas na pós-graduação, programas de mentoria e estímulo explícito à diversidade racial em equipes de pesquisa. Também cobram que editoras, agências de fomento e universidades adotem medidas para reduzir a desigualdade na produção científica.
