O que os brasileiros realmente queriam em 1994 e 1998, quando Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, foi eleito e reeleito presidente da República?

Fernando Henrique Cardoso não era um político popular e já havia perdido a Prefeitura de São Paulo para Jânio Quadros. Porém, nas duas disputas presidenciais, contou com um “general” eleitoral poderoso — o Plano Real.

O Plano Real, constituído no governo do presidente Itamar Franco — por uma equipe reunida por Fernando Henrique Cardoso —, controlou a inflação e estabilizou a economia. Independentemente de ideologias partidárias, os brasileiros aprovaram o plano que deu um rumo de curto, médio e longo prazo à economia do país.

O PT não entendeu ou não quis entender a real dimensão do plano de estabilização e recuperação econômica. Então, começou a criticar o Plano Real.

O resultado é que o popularíssimo Lula da Silva perdeu duas eleições seguidas para Fernando Henrique Cardoso.

FCH tinha uma pauta positiva, o Plano Real, que era aprovado pela população. Já o PT, com a crítica ao Plano Real, não tinha uma pauta. Não soube apresentar uma crítica alternativa e uma proposição de avanço.

Então, o fenômeno da pauta única, o confronto ao Plano Real, resultou em duas derrotas.

Por que a pauta única é um risco? Porque o problema pode ser resolvido até o período eleitoral, digamos assim. Então, às vésperas das eleições, o candidato da pauta única pode acabar sendo deixado de lado.

PCC não teme o Estado oficial

A pauta da segurança pública pode se desidratar nos próximos dez meses — até a eleição presidencial de 4 de outubro de 2026?

Talvez seja a única pauta que continuará forte no país — dado o fato de que, em dez meses, o governo federal não conseguirá, por certo, combater o crime organizado de maneira altamente eficaz.

Lula da Silva e Dilma Rousseff: governos do PT não souberam combater o crime organizado | Foto: Reprodução

O Primeiro Comando da Capital (na verdade, está se tornando Primeiro Comando do País), o Comando Vermelho e outros grupos de menor expressão constituíram exércitos e infiltraram-se nos poros da sociedade brasileira.

O PCC, sobretudo, e o CV, dada a quantidade imensa de dinheiro que movimentam diariamente, tiverem de se organizar — como as máfias italianas — para lavá-lo. Ou seja, para legalizá-lo. Para tanto, compraram concessionárias de automóveis, hotéis, motéis, postos de gasolina, usinas de produção de álcool, distribuidoras de bebidas, construtoras de imóveis, empresas de transporte coletivo e mercadejam no mercado financeiro. Participa até de licitações públicas.

As máfias brasileiras, principalmente o PCC, se profissionalizaram. Então, mantêm um pé na legalidade e um pé no mundo ilegal. Como diria Don Altabello, o personagem do filme “O Poderoso Chefão”, o PCC se tornou uma organização de dois mundos.  

O exército do PCC já conta com 40 mil integrantes, atua em cerca de 28 países e organizou até mesmo uma espécie de “tribunal de justiça” para julgar membros e ex-membros. Nos últimos tempos, decidiu atacar autoridades. Matou um delegado aposentado da Polícia Civil e permanece ameaçando assassinar o diretor de um presídio em São Paulo e um promotor de justiça (Lincoln Gakiya).

O que o PCC está dizendo é: “Nossa estrutura não teme o Estado. O Estado precisa nos temer”.

Se o PCC, assim como o CV, decidiu enfrentar o Estado, inclusive matando e ameaçando matar alguns de seus representantes, o que o sistema legal deve fazer?

Não se está defendendo que o Estado constitua um sistema que organize a matança de membros do PCC e do CV. Mas a discussão em pauta no Congresso deve gerar um sistema legal de combate duro ao crime organizado. Os criminosos precisam mesmo temer a força das leis e, portanto, as autoridades.

A discussão se ao PCC — o crime organizado em geral — se aplica a pecha de narcoterrorismo é, em parte, retórica. O meio acadêmico tende a contorná-la, alegando que terrorismo se aplica mais a questões políticas. E se isto for uma explicação velha — superada — para um problema relativamente novo?

Na prática, o PCC e o CV se comportam como organizações terroristas (e vale observar que, aos poucos, derivam para a arena política, financiando candidatos). Para combatê-las, as leis comuns não servem mais. Se tornaram tão anacrônicas quanto a ideia de que não podem ser nominadas de narcoterroristas.

A rigor, não importa a nomenclatura — narcoterrorista ou não-narcoterrorista —, e sim o combate duro e sistemático ao crime organizado. São vitais leis específicas e objetivas, que permitam que juízes não tenham, ao julgar, de se “submeter” a interpretações artificiosas de advogados.

Digamos assim: um membro do PCC ou do CV matou um delegado de polícia. Qual deve sua pena? 30 anos de cadeia, sem redução alguma. O controle das penitenciárias precisa ser mais rígido. Um líder mafioso não pode dirigir uma organização criminosa a partir de um presídio. O criminoso está preso exatamente para ser excluído de qualquer ação — e reincidência — na sociedade.

Marcola e Marcinho VP, líderes do PCC e do CV: presídios se tornaram “palácios” das organizações criminais, verdadeiras máfias tropicais | Foto: Reprodução

Esquerda não soube combater crime organizado

Se a segurança está na ordem do dia, como estará em 2026? Possivelmente, ainda com forte apelo. Resta saber se com o mesmo peso de hoje.

O presidente Lula da Silva, do PT, é candidato à reeleição e, por saber do peso da segurança — avaliado e demonstrado pelas pesquisas —, opera para tentar melhorá-la. Vai conseguir? Não se sabe.

Com quase 18 anos dirigindo o país, os governos do PT não souberam criar uma política de segurança — nacional — para combater o crime organizado. Um dos motivos é o equívoco, derivado de uma interpretação superada, de que o crime deriva necessariamente das desigualdades sociais. O petismo é refém desta interpretação.

O crime organizado não deriva de desigualdades sociais. Na verdade, é um empreendimento “moderno”, já de cunho empresarial, nada tabajara. PCC e CV podem até contar com soldados pobres — a turma da linha de frente, a infantaria —, mas são organizações de elite.

Ninguém deve se surpreender se, em breve, um chefão do crime organizado aparecer na lista de bilionários. Alguns já são multimilionários.

Se o governo do PT acordou agora para o combate ao crime organizado, em especial por causa de o assunto ter aparecido nas pesquisas como prioridade, em Goiás, assim como em outros Estados, há um combate mais sistemático e eficaz às ações tropicais.

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Ronaldo Caiado mostrou que, se o gestor tiver vontade, o crime organizado pode ser combatido | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Desde que Ronaldo Caiado assumiu o governo de Goiás, em 2019 e até hoje, sete anos depois, o crime organizado passou a ser combatido de maneira sistemática e tenaz no Estado.

É óbvio que, se o crime organizado está atuando em todos os Estados — notadamente em São Paulo e Rio de Janeiro —, não há como impedir de entrar, por exemplo, em Goiás. Mas no Estado, pelo combate sistemático, a presença do PCC e do CV se configura em menor escala.

As pesquisas, feitas por institutos nacionais independentes, mostram que a segurança em Goiás funciona. Porque o Estado, sempre presente, é eficiente.

Pode-se dizer que, mesmo antes de novas leis, é possível combater o crime organizado com a polícia e as leis que se têm. Bastam duas coisas. Primeiro, vontade. Segundo, competência operacional.

Diz-se que a polícia de Goiás é dura no combate ao crime organizado. De fato, é. Mas não se pode falar em matanças. O crime organizado em Goiás tem sido contido, em larga escala, pelo combate duro, mas também por um setor de inteligência que, operando com eficiência, tem evitado algumas ações dos criminosos.

O que dizer às classes médias na campanha?

A política de segurança rigorosa do governo de Goiás tem chamado a atenção do país para Ronaldo Caiado, pré-candidato a presidente da República pelo União Brasil.

Porém, político de rara habilidade e capacidade de interpretação dos cenários — com base em pesquisas e na própria experiência —, Ronaldo Caiado sabe que não poderá ir para a disputa de 2026 com uma única pauta.

Para a disputa da Presidência da República, Ronaldo Caiado, ou qualquer outro candidato de oposição, sabendo que é preciso ficar de olho na conjuntura (e na estrutura, nas coisas de longo prazo), precisa acrescentar outras ideias de interesse dos brasileiros.

Lula da Silva, tão hábil quanto Ronaldo Caiado, está criando medidas de interesse das classes médias, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais por mês.

As classes médias são, no geral, o “patinho feio” da sociedade brasileira. Assistem, da plateia, o governo federal criando políticas para beneficiar industriais e produtores rurais e programas de assistência social aos pobres.

As classes médias podem decidir uma eleição. Não são de direita ou de esquerda. Apreciam, basicamente, aqueles gestores que contribuam para aumentar sua capacidade de consumo.

Em 2026, o que os candidatos à Presidência da República apresentarão para beneficiá-las? Melhorar a educação pública? Talvez. Porque hoje uma família de classe média com dois ou três filhos tem dificuldade de pagar escolas particulares. Em Goiás, as classes médias já matriculam seus filhos nas escolas públicas, em especial naquelas em que militares participam da gestão. Melhorar o SUS? Talvez. Porque as classes médias não estão conseguindo pagar seus planos de saúde.

É bem provável que o candidato que galvanizar a atenção das classes médias, que se tornar confiável — no sentido de que suas propostas sejam críveis —, pode ser eleito presidente da República.

Candidato que falar em recuperação da infraestrutura do país pode atrair o interesse dos empresários, mas não dos eleitores. É preciso falar, com planos críveis, em melhorar a renda, manter a inflação baixa e reforçar o crescimento econômico (portanto, ampliar a capacidade de consumo das pessoas).

Há uma pauta que pode acabar retornando: o governo de Lula da Silva está combatendo a corrupção com o devido rigor? Se sim, ponto para o petista. Se não, ponto para a oposição, que precisa explorar o assunto.

A história da corrupção no INSS ainda não está inteiramente explicada — assim como a do Banco Master, de Daniel Vorcaro. Por que a demora (quase três anos) em “brecar” a ação desta unidade financeira?

Segurança Pública é a chave para abrir a “porta” da campanha eleitoral de 2026. Mas, certamente, não será a única. É preciso incluí-la numa pauta mais ampla, de melhoria da qualidade de vida dos brasileiros, que inclua mais capacidade de consumo (automóveis, televisões, geladeiras, casas, viagens etc.) e empregos com rendas que superem três salários-mínimos.