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Quando examina questões de um futuro distante, ou relativamente distante — dois anos e três meses (em Garanhuns e Anápolis falam num beicinho de pulga) —, o analista tem de alertar os leitores de que aquilo que está escrevendo, ou problematizando, é, sobretudo, especulação.

Posto o alerta, é preciso acrescentar que o futuro chega mais cedo do que se imagina. Tanto que o país discute não apenas a eleição de 2024 — a de 2026 está na ordem do dia, e conectada ao que vai ocorrer daqui a três meses.

Quem vai realmente disputar a Presidência da República em 2026 tanto pela esquerda quanto pela direita e talvez pelo centro? Não dá para saber, é claro. Mas há nomes colocados, o que permite um exame do quadro.

Se tiver saúde, Lula da Silva será o candidato das esquerdas — inclusive do PDT de Ciro Gomes (que, a rigor, é filiado ao PCG — Partido do Ciro Gomes). O petista-chefe será um postulante fortíssimo, um rival difícil de ser derrotado.

Lula da Silva é um profissional da política. No momento, enfrenta dificuldades. Porque não está conseguindo atrair o centro — e não apenas o Centrão —, de maneira consistente, para o seu lado. O centro tem negociado pontualmente com o governo do líder do PT. Mas não firma posição — sempre jogando, com habilidade, no varejo para ganhar no atacado.

Porém, que a direita não se engane com Lula da Silva. Nos próximos dois anos, dada sua experiência — está no seu terceiro mandato de presidente e ajudou a eleger Dilma Rousseff duas vezes, portanto jamais pode ser subestimado —, o red, de um pragmatismo que impressiona, vai operar para, pelo menos, dividir o centro.

Parte do centro político certamente vai acoplar-se à direita, mas parte tende a negociar com Lula da Silva, a partir de seus interesses no governo. O presidente aposta nisto. Portanto, deverá ceder, em 2025, e remontar o governo.

Para ter alguma viabilidade eleitoral em 2026, Lula da Silva terá de refazer seu ministério — tornando-o mais de centro e menos petista. Quanto menos petista, mais o presidente será forte, possivelmente.

Ir apenas com as esquerdas para a eleição de 2026 pode ser uma espécie de suicídio político tanto para Lula da Silva quanto para o PT. Portanto, a operação para conquistar e manter, até a eleição presidencial, uma fatia do centro é a missão do petista-chefe e dos que realmente querem a sua reeleição.

Área está ficando limpa para Ronaldo Caiado

Se as esquerdas estão meio perdidas, e isto deve ser provisório, as direitas estão ampliando seu raio de ação no país. Fala-se em direitas porque, a rigor, há pelo menos duas: a bolsonarista, que é radical — talvez de extrema-direita (aderiu à ideia de golpe de Estado, seguindo o velho modelo udenista, ao se sentir sem viabilidade eleitoral) —, e a não bolsonarista.

O bolsonarismo-raiz — se isto existe num movimento tão novo — tem em seus quadros, para uma possível disputa presidencial, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do Republicanos, e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, do PL.

Tarcísio de Freitas já teria avisado Jair Bolsonaro: bem avaliado, não quer correr riscos e, por isso, vai ser candidato à reeleição.

A pedra no caminho de Michelle Bolsonaro é o próprio Bolsonaro — que receia movimentos, inclusive judiciais, para retirá-la do páreo, o que a queimaria, em termos políticos. Então, a tendência é que o ex-presidente a banque para senadora no Distrito Federal.

Inclusive, pesquisas, feitas recentemente, mostram que a ex-primeira-dama tem chance de conquistar uma vaga em Brasília, onde conta com o apoio do governador Ibaneis Rocha (que deverá ser candidato a senador), da senadora Damares Alves e da vice-governadora Celina Leão (que será candidata a governadora).

A rigor, portanto, o bolsonarismo dito raiz não tem um nome consistente para presidente da República — se realmente os projetos político-eleitorais de Tarcísio de Freitas e de Michelle Bolsonaro forem outros.

A direita não-bolsonarista, pelo contrário, tem nomes dispostos a disputar a Presidência: Ronaldo Caiado, do União Brasil, Ratinho Júnior, do PSD, e Romeu Zema, do partido Novo.

Os três são de direita, é claro, mas a escola da política ensinou-os que, para ganhar uma eleição majoritária (e nem precisa ser a Presidência da República), é preciso conquistar o centro, integral ou parcialmente.

Quem ganha o centro leva o poder. Jair Bolsonaro parece ter perdido parte do centro — políticos e eleitores —, em 2022, e por isso foi derrotado por Lula da Silva.

O governador Ratinho Júnior foi eleito e reeleito no Paraná, sinal de que sua gestão foi aprovada pela maioria dos eleitores. É visto como gestor eficiente. Mas teria experiência para administrar, política e tecnicamente (em termos econômicos, por exemplo), o país que é oitava maior economia da Terra? Talvez sim. Talvez não.

Há o problema do nome. No concerto internacional, Ratinho Júnior seria motivo de deboche. Vale ressalvar que o Brasil já teve um primeiro-ministro com o nome de Brochado da Rocha (1910-1962).

Eleito e Reeleito, o governador mineiro Romeu Zema tem experiência administrativa, mas, como político, não é um articulador de primeira linha. Talvez por isto esteja admitindo ser vice, possivelmente do governador de Goiás, Ronaldo Caiado.

Ronaldo Caiado foi deputado federal, com vários mandatos, e, depois, senador. Por isso, sabe como funciona o Legislativo e como se deve negociar com seus líderes e, para governar, eventualmente até com os parlamentares do baixo clero (como Bolsonaro, antes de ser presidente). Romeu Zema, do ponto de vista estritamente político, parece ser uma alma gêmea da ex-presidente Dilma Rousseff. Quer dizer, um tanto avesso à política do real.

Ter permanecido por vários anos em Brasília, no Congresso Nacional, deu a Ronaldo Caiado a dimensão do que é o país, do que é preciso ser feito e, essencialmente, como Executivo e Legislativo devem conectar-se em prol da governabilidade.

A experiência de Brasília foi e é crucial para Ronaldo Caiado administrar Goiás, como governador, e no relacionamento com a Assembleia Legislativa.

Quando se fala em Ronaldo Caiado, em comparação com Ratinho Júnior e Romeu Zema — e não se trata de depreciá-los, porque têm valor —, há o que se pode denominar de “plus”.

Ronaldo Caiado é político e é gestor. Sabe conectar bem as duas cousas. Politicamente, é de direita —  na verdade, é um liberal que incorpora o social como questão essencial. A rigor, talvez seja necessário qualificá-lo de centro-direita, especialmente se se compará-lo à direita bolsonarista.

À direita que Ronaldo Caiado representa é seminal acrescentar que se trata de um político civilizado, que dialoga com os vários setores da sociedade, inclusive com a esquerda, sem excluir ninguém. Isto, claro, quando se trata de governar, e não de alianças políticas.

O governador goiano é democrata, avesso a qualquer ideia de golpe de Estado e ditadura. E é um humanista — daí os programas sociais inclusivos de seu governo. Ele está mais próximo, nas questões sociais, da social-democracia europeia.

Alegando falta de recursos e de apoio do governo federal, alguns governadores deixam a segurança pública no piloto automático. O resultado é que o crime organizado tomou conta, como se fosse um segundo Estado — o PCC, segundo estimativas, teria um exército de 40 mil integrantes no Brasil e mais mil adictos no exterior.

Claro, o PCC também atua em Goiás e em todos os Estados. Mas em menor escala, porque é vigorosamente combatido pela polícia, que conta com integral apoio de Ronaldo Caiado. E não há meio de combater o crime organizado — que é uma máfia similar à italiana e à americana — senão com extremo rigor. É a linguagem que entende e respeita.

Por não ser populista, por entender que a autoridade conferida pelo voto dos eleitores precisa ser exercida, Ronaldo Caiado é forte e acatado pela sociedade. Sobretudo, é a antítese do presidente Lula da Silva. Se quiser ter alguma chance contra as direitas — que, unidas, serão muito fortes em 2026 —, o petista-chefe terá de ficar mais parecido com Ronaldo Caiado e nada parecido com Guilherme Boulos (o Lula da Silva da década de 1980).

Parece que Ronaldo Caiado caminha para ser o candidato das direitas e, portanto, o anti-Lula da Silva (anti-esquerda), em 2026. A área está cada vez mais limpa para ele.