O Democratas e o MDB caminharam juntos em 2014. O realismo sugere que os dois políticos, se marcharem unidos, ganham no primeiro turno no próximo pleito 

A eleição para governador será disputada daqui a um ano e oito meses. As desincompatibilizações ocorrerão daqui a um ano e dois meses. Há quem acredite que está longe, mas, para políticos, que precisam definir projetos e alianças, está próximo. Um “pulinho” — costumam dizer. Há vários aspectos a dizer a respeito do próximo pleito. Alguns serão discutidos a seguir.

Daniel Vilela, presidente do MDB, e Ronaldo Caiado, governador de Goiás: a lógica sugere que caminhem juntos em 2022 | Foto: Reprodução

Não se sabe quem será eleito em 2022, porque há a possibilidade do imponderável e o que parecia líquido e certo pode mudar de configuração. Mas, analisando pelo caráter lógico da política — sob a aparência de caos há uma certa racionalidade —, é possível postular, inclusive com base em pesquisas, que começam a ser feitas, que o favorito para a disputa do governo em Goiás, no próximo pleito, é o governador Ronaldo Ramos Caiado, do partido Democratas.

Do ponto de vista da sociedade, do eleitorado, Ronaldo Caiado faz um governo competente, decente e, decisivo, humanista (sua ação no combate à pandemia ganhou o aplauso da sociedade). A possibilidade de trocá-lo não está no radar dos eleitores. Ele integra a galeria dos favoritos. Dos superfavoritos.

Sua força advém do governo eficiente, transparente, e também da aliança política que montou e, aos poucos, está expandindo. No poder, Ronaldo Caiado exibiu um perfil conciliador e pragmático (o presidente Jair Bolsonaro deveria ouvi-lo mais). Como o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o gestor goiano pensa em esperança (hope) e paz (peace). Mudar o mundo, para melhor, e com menos conflito e desgaste.

Se reeleito, no lugar de fechar, Ronaldo Caiado “reabre” a política de Goiás para os demais políticos — Vanderlan Cardoso, do PSD, Alexandre Baldy, do PP, Roberto Naves, do PP, Daniel Vilela, do MDB, Gustavo Mendanha, do MDB, e Diego Sorgatto, do Democratas.

Noutras palavras, se reeleito, o líder do Democratas não poderá disputar o governo em 2026 (certamente lutará por uma das duas vagas para o Senado). Assim, o espaço estará aberto para Vanderlan, Baldy, Naves, Daniel, Mendanha, Sorgatto e outros. A vice de Ronaldo Caiado será disputada, até com certa intensidade, porque o vice, se o democrata deixar o governo para disputar mandato de senador, se tornará governador e, portanto, candidato “natural” ao governo. (Alerta ao leitor: a análise é especulativa, pois Ronaldo Caiado precisará, antes, ser reeleito.)

A reinvenção de Daniel Vilela como conciliador

O governador Ronaldo Caiado está dialogando com o presidente do MDB, ex-deputado federal Daniel Elias Carvalho Vilela, e com o prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (MDB). A conversa entre eles é republicana, não há qualquer barganha. Mas, claro, há a possibilidade de o emedebismo caminhar com Ronaldo Caiado em 2022.

Porque, apesar da disputa de 2018, quando Ronaldo Caiado derrotou Daniel Vilela para o governo, os dois se respeitam e foram aliados na eleição de 2014, quando o líder do Democratas foi eleito para o Senado e bancou Iris Rezende, do MDB, para governador (não foi eleito). Maguito Vilela e Daniel, pai e filho, trabalharam, irmanados, na campanha de Ronaldo Caiado, há seis anos. No interior, a presença deles era mais sedimentada do que a do próprio Iris Rezende — mais forte na capital (perdeu três eleições para o governo, duas delas seguidamente, em 2010 e 2014).

Cristalizou-se a ideia de que Maguito era moderado e conciliador e Daniel, até para se distinguir do pai, era radical, e até mais posicionado, tanto que chegou a confrontar Iris Rezende, o que o político mais experimentando nunca ousou fazer. Jovens são assim mesmo: mais aguerridos e pensam mais no presente do que no futuro. Se não fossem assim, teriam nascido velhos. O tory Winston Churchill recomendava até ilusões para os jovens — como ser esquerdista.

Frise-se que, mesmo diferente do pai, por ser mais “agressivo” (no sentido de ser mais posicionado e menos cauteloso), o percurso de Daniel é semelhante ao do genitor: Maguito foi vereador, deputado estadual, deputado federal, governador, senador e prefeito. Daniel foi vereador, deputado estadual, deputado federal e disputou o governo de Goiás. Quiçá, em 2022, poderá ir para o Senado.

Há uma característica em Daniel: a capacidade de mudar, de rever seus passos. Portanto, o Daniel de 2018, mais atirado e menos conciliador, talvez não tenha sido o mesmo de 2020. Na disputa pelas prefeituras, articulou em todo o Estado, remontando e renovando as bases do MDB, com vitórias expressivas. Mas não só. Talvez o principal tenha sido a reconstituição das bases, sobretudo a operação foi feita exclusivamente pelo jovem político. Mesmo onde seus candidatos foram derrotados, fincou-se uma estrutura política renovada, forte e leal. Citemos nove casos, entre perdedores e vitoriosos.

Em Porangatu, o advogado Márcio Luis da Silva perdeu para Vanuza Valadares, do Podemos, mas apenas por 45 votos. O MDB se tornou a segunda força política local, suplantando o PSDB e o PP. Em Goianésia, Pedro Gonçalves perdeu para Leonardo Silva Menezes, do Democratas, mas, além de representar um fato novo, conseguiu o apoio do PSDB local, que é dirigido pelos empresários Otavinho Lage e Jalles Fontoura (o que sinaliza para outras alianças, em nível estadual). Em Anápolis, onde o MDB era visto como um partido fantasma, o dentista e empresário Márcio Corrêa ficou em terceiro lugar, com uma votação expressiva. Pode-se dizer que, hoje, o partido tem pé — e até “alma” — no município. Em Catalão, o pecuarista Elder Galdino ficou em segundo lugar, superando Gustavo Sebba, do PSDB, e perdendo apenas para o prefeito Adib Elias, do Podemos, um ícone da política local.

Em Jataí e Mineiros, duas cidades emblemáticas do Sudeste goiano, o MDB elegeu Humberto Machado e Aleomar Rezende. Em Valparaíso, o prefeito Pábio Mossoró derrotou a deputada estadual Lêda Borges, a pupila do ex-governador Marconi Perillo. Em Águas Lindas, em que pese o prefeito Lucas Antonietti ser filiado ao Podemos do deputado José Nelto, sua ligação mais forte é com Daniel. E há, claro, o prefeito Gustavo Mendanha, de Aparecida, a cidade com o segundo maior eleitorado de Goiás, superando Anápolis e ficando atrás apenas de Goiânia.

O que se está pontuando é que o MDB tem uma máquina forte no interior, assentada historicamente, e agora renovada e mais ativa. Sobretudo, tal máquina foi operada e fortalecida por Daniel, que, para tanto, teve de desdobrar-se (porque também participou da campanha de Maguito-Rogério Cruz em Goiânia). Noutras palavras, é o chefe solitário desta máquina. Não é pouco para quem tem tão-somente 37 anos.

Pode-se sugerir, portanto, que 2022 passa essencialmente por Ronaldo Caiado, que é o elemento político que faz a situação e as oposições girarem e se mexerem. Mas Daniel está no jogo. Se o governador é um Garry Kasparov, Daniel é um Henrique “Mequinho” Mecking (com saúde, é claro).

Com a morte do pai, que havia sido eleito para governar Goiânia — e um de seus méritos era a capacidade de conciliar e agregar —, eis que, mais uma vez, Daniel se reinventa, readaptando-se à nova modelagem da política. O ex-deputado federal permanece posicionado, firme, mas percebeu que, a partir de agora, como líder sem a sombra frondosa de Maguito, tem de ficar mais parecido com o falecido líder e menos parecido com o Daniel de antes.

O que se nota, ao articular como líder solitário, sem a presença do pai, é que Daniel passou a perceber a necessidade de ser conciliador, de se abrir para outras forças políticas, não unicamente para fortalecer seu projeto político, mas essencialmente para robustecer o partido e seus líderes municipais. Radicalizar-se em relação ao governador Ronaldo Caiado pode fortalecer o ego, confortar os radicais de opereta — os irrealistas de sempre —, mas não contribui em nada para o projeto político de Daniel e do MDB, principalmente não colabora para fortalecer as gestões municipais do emedebismo e de seus aliados.

Diálogo fortalece a democracia e a governança

O que se vê, de maneira concreta, é um Daniel conciliador, de mãos estendidas — como as de Ronaldo Caiado —, para fortalecer tanto o emedebismo quanto o desenvolvimento de Goiás. Seu objetivo não é ocupar o espaço que era do pai, mas sim honrar a história e a conduta de Maguito, um político que passou a vida como artífice do diálogo, da política de boa vizinhança, e avançar um pouco mais. Maguito gostava de política e de gente — e o filho segue pelo mesmo caminho. Maguito ensinou a quem quis aprender que a força da democracia e da governança eficiente advém, em larga medida, da capacidade de dialogar com todas as forças políticas, independentemente de gostos pessoais. Daniel segue pela mesma seara — a dos vencedores. Cabe a ele liderar o MDB para rumos distantes, por exemplo, do PSDB — que, desgastado, representa o que se costuma apontar como “abraço dos afogados”. Quem estender a mão para tentar “salvar” o tucanato poderá acabar assinando sua própria sentença de morte política. Vale uma verificada no resultado das eleições de 2020 nos vinte principais municípios de Goiás. O tucanismo saiu-se malíssimo. Repita-se: as mãos estendidas de Ronaldo Caiado podem ser um caminho de luz e força para o emedebismo. Trata-se de uma constatação, não de mera opinião.

Gustavo Mendanha: prefeito de Aparecida de Goiânia | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

No emedebismo, a liderança de Daniel é inconteste. Portanto, Gustavo Mendanha, entendendo que há mesmo “fila” em política, deve concluir seu mandato e se preparar para novas disputas eleitorais a partir de 2026. O líder que rearticulou o MDB em nível estadual, como voz solitária, para além de Goiânia e Aparecida, foi Daniel, não outro. Portanto, a inteligência política sugere que o prefeito precisa “segurar” seus radicais — alguns deles sem experiência política, sem luz própria e sem maturidade como indivíduo — e entender que, sim, Daniel é o ás do emedebismo. Uma chapa majoritária com Ronaldo Caiado, Roberto Naves e Daniel Vilela, para mencionar apenas os três, é, provavelmente, imbatível. Talvez vença no primeiro turno. Está se tratando aqui de razão e lógica. E, claro, de realpolitik.