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Bela cidade, Goiânia encanta dos moradores aos turistas. Aos 92 anos, persiste uma jovem — tanto que está em permanente construção. Trata-se de um município que, sempre em movimento, inova e se renova.

Goiânia não parece mas é uma cidade turística. A crescente rede de hotéis e restaurantes (como o recente Cucina Mia, de Claude Troisgros) — de qualidade — sugere um turismo multifacetado e conectado.

Há pessoas que visitam Goiânia para conhecer sua diversidade arquitetônica modernista e, digamos, pós-modernista. As construções art déco, como o Teatro Goiânia — uma espécie de “escultura” piramidal incrustada entre a Avenida Anhanguera e a Rua Tocantins — e o Palácio das Esmeraldas, são um atrativo à parte. São a mistura do moderno com o eterno (vale lembrar o bardo Carlos Drummond de Andrade: “E como ficou chato ser moderno./Agora serei eterno”).

O Grande Hotel, como sugere o jornalista Herbert Moraes — que trabalhou como correspondente da TV Record no Oriente Médio por quase 20 anos —, poderia ser transformado num museu (digamos um Museu da Construção de Goiânia e de suas mutações ao longo do tempo) ou num centro cultural.

A Academia Goiana de Letras (AGL), a Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás (Aflag), a União Brasileira de Escritores-Goiás (UBE-GO), o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG) e o Conselho Estadual de Cultura, sobre o comando de Aidenor Aires (depois, Lêda Selma), Andréa Teixeira, Ademir Luiz, Jales Mendonça e Carlos Willian Leite, poderiam, juntos, se responsabilizar pelo museu-centro cultural.

Há o turismo de negócios, que envolve uma rede de múltipla de empreendimentos — desde soja, imobiliários, serviços, moda-roupas (os hotéis nas proximidades da Rua 44 estão quase sempre lotados) à área de saúde (a rede hospitalar é uma das melhores do país), entre outros.

Os vários tipos de visitantes adotam um consenso quando falam da capital goiana: é bonita, moderna, acolhedora e muito segura.

O haitiano Jean, motorista de aplicativo — Uber —, disse a um repórter do Jornal Opção na terça-feira, 21: “Nasci para morar em Goiânia. A cidade não tem violência, é bonita, o povo é educado e simpático. Não volto mais para o meu país”.

Jean mora em Goiânia há três anos, conseguiu comprar um automóvel Polo usado — paga prestações —, mora num quarto, com um amigo, e frequenta uma igreja metodista, salvo engano, no Jardim Guanabara, ao lado de dezenas de outros haitianos.

Rogério: a Cruz que os goianienses carregaram por quatro anos | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

O prefeito Sandro Mabel assumiu há apenas 10 meses — menos de um ano — e cobra-se dele mais do que se cobrou do ex-prefeito Rogério Cruz em quatro anos.

Durante quatro anos, na gestão de Rogério Cruz, Goiânia funcionou no piloto automático.

A cidade teve prefeitos de alta qualidade, como Nion Albernaz e Iris Rezende — dois gestores competentes e sérios. Entretanto, sob Rogério Cruz, a cidade parecia não ter prefeito. A rigor, não tinha, exceto formalmente, no sentido de alguém assinar papeis como gestor.

Sob a Cruz de Rogério, Goiânia se tornou, por assim dizer, uma sociedade anárquica. Por isso, muitos goianienses, quiçá a maioria, já haviam se acostumado com a falta de autoridade. Existia um indivíduo tido como prefeito, mas absenteísta. Nunca ou raramente presente. Era uma nulidade.

Durante quatro anos, os goianienses carregaram uma Cruz, quer dizer, Rogério. Habituaram-se tanto à bonomia brejeira quanto à ausência frequente do “prefeito”.

Numa cidade ao deus-dará, podia-se fazer tudo, ou quase tudo. A regra era desrespeitar o setor público. Porque não acontecia nada. Se os goianienses moravam (e moram) em Goiânia, Rogério Cruz parecia habitar Marte.

A prefeitura, a partir do Paço Municipal — até o edifício horroroso, um puxadinho público, deteriorou em quatro anos, com buracos no teto e possivelmente ratos noturnos passeando alegremente pelas salas —, estava isolada da sociedade. Arrecadava muito dinheiro e pouco fazia.

Onipresença sem populismo

Então, quando se tem um prefeito com autoridade — como o onipresente Sandro Mabel, do União Brasil —, há quem confunda, por má-fé ou inocência, com autoritarismo.

Sandro Mabel não é autoritário. Na verdade, exerce a autoridade que os eleitores lhe conferiram por meio do voto.

Num país em que o populismo reina — há sempre um populista “vendendo” enganos e autoenganos às plateias —, aqueles que têm autoridade, e a exercem, às vezes são criticados. Sandro Mabel não é populista. É um gestor vocacionado — tanto na iniciativa privada quanto no setor público.

O que se processa neste momento, com um político-gestor de ação no e fora do Paço Municipal — que anda pela cidade, pois seu gabinete são as ruas e as praças —, é Goiânia, a cidade, sendo, por assim dizer, “retomada” para o setor público, quer dizer, para a sociedade.

Como antes imperava o desleixo, a retomada de Goiânia para o público — para a sociedade — assusta algumas pessoas que estavam acostumadas com a modorra, com o abandono da cidade.

Insista-se: a cidade “ocupada” por nichos agora está sendo reconquistada pela prefeitura para devolvê-la à sociedade.

Dizer que Goiânia estava “encardida”, sob Rogério Cruz, chega a ser eufemismo. A cidade estava suja. Agora, está limpa. Não foi nada fácil fazer ajustes, utilizar o dinheiro público para organizar a limpeza das ruas, dos bairros.

Os interesses contrariados — de um deputado e de alguns vereadores — se movimentaram para tentar atrapalhar as ações de Sandro Mabel na questão da limpeza pública (a velha e falida Comurg era, antes, usada para fins pouco católicos e evangélicos, o sentido de decência).

Sandro Mabel poderia ter recuado, como Rogério Cruz se submeteu às pressões, mas, até por ser um gestor experimentado, enfrentou as máfias da cidade, que são poderosas, e, como as ruas voltaram a ficar limpas, pode-se falar que está vencendo a guerra.

Claro, enfrentar os lobbies é uma guerra permanente. Mas, em nome do interesse público, Sandro Mabel tem seguido firme, mantendo sua autoridade — o que, certamente, deixaria Pedro Ludovico, Venerando de Freitas Borges, Hélio de Brito, Darci Accorsi, Nion Albernaz e Iris Rezende, se vivos fossem, orgulhosos.

Há vereadores competentes e decentes na Câmara Municipal de Goiânia? Sim, há. Mas há também aqueles que colocam o interesse pessoal acima do interesse público. Eles podem até pensar que prejudicam Sandro Mabel, mas, quando tentam atrapalhar sua gestão, acabam por prejudicar a cidade, seus moradores — que também são eleitores.

A política de “desocupar” os esconderijos (quiçá habitações) de usuários de crack, maconha e outras drogas nada tem a ver com “higienismo”, como chegaram a sugerir. É uma maneira de proteger os cidadãos de bem. Mas objetiva-se também cuidar — atender — de maneira adequada aqueles que moram em determinados locais e até nas ruas. A prefeitura tem políticas sociais e está atenta aos pobres — seres humanos que precisam de cuidados — que saem de seus Estados para morar em Goiânia, nas ruas e cortiços.

Então, quando forem avaliar Sandro Mabel, é preciso admitir que não se trata de um prefeito “excessivo”.

Na verdade, Sandro Mabel é prefeito e age como tal — o que parece óbvio (o antropólogo Darcy Ribeiro dizia que o óbvio precisa ser dito até que se torne óbvio). Mas nem sempre é percebido na sua extensão correta e precisa.

Um prefeito presente, que opera e observa tudo o que a prefeitura e a sociedade fazem, é altamente positivo para a sociedade, para o público. Sandro Mabel foi eleito para ser o representante de todos os goianienses. Por isso, imbuído de uma autoridade conferida pelo voto popular, ele é tão presente na vida dos goianienses, de sua cidade.

Depois de quatro anos, certamente os goianienses terão se esquecido, merecidamente, de Rogério Cruz. Mas certamente dirão: “habemus papam”, ou melhor, “temos prefeito”.