COMPARTILHAR

Há uma crise do bolsonarismo ou uma crise da família Bolsonaro? Pelo visto, apesar de o presidente Lula da Silva, do PT, ter se fortificado devido ao tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não se pode, pelo menos não ainda, apostar numa crise do bolsonarismo nem da família Bolsonaro.

Mesmo tendo a voltado a falar em socialismo — talvez um equívoco político-eleitoral —, Lula da Silva opera para retomar a bandeira nacionalista, que parecia apropriada pelo bolsonarismo. Isto pode ser o diferencial da política patropi em 2026, quando se terá a eleição presidencial, daqui a um ano, um mês e alguns dias.

O quadro de hoje, se mostra Lula da Silva robustecido, pode não ser o de 2026. Há tempo para mudança. Uma aliança global da direita, com o apoio do bolsonarismo, será um páreo dificílimo para o petista-chefe.

Há espaço para um candidato de centro, como o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, do PSD? Não parece.

Donald Trump e Tarcísio de Freitas 1
Donald Trump e Tarcísio de Freitas: apoio inicial ao americano manchou imagem | Fotos: Reproduções

Ao escolher trocar o PSDB pelo PSD, Eduardo Leite pode ter cometido um equívoco. Porque o presidente do partido, Gilberto Kassab, se o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, for candidato a presidente, não apoiará o político do Rio Grande do Sul — por sinal, nascido no Rio de Janeiro.

Há outra montanha no caminho de Eduardo Leite: se o PSD bancar candidato a presidente será o governador do Paraná, Ratinho Júnior.

Ante a polarização entre lulismo e bolsonarismo, fortemente sedimentada, não há espaço para nenhum outro candidato de centro ou de esquerda. Tanto que o senador Ciro Nogueira, presidente nacional do pP, não se apresenta como pré-candidato a presidente, e sim como possível pré-candidato a vice-presidente… de Tarcísio de Freitas.

No campo da esquerda, Lula da Silva “matou” Leonel Brizola — o que os militares não conseguiram fazer, nem quando lhe retiraram o PTB — e Ciro Gomes, do PDT (o partido criado pelo gaúcho).

A esquerda é (de) Lula da Silva. De ninguém mais. Enquanto for vivo, e estiver disputando eleição, será seu nome mais competitivo. Talvez seja possível compará-lo a Getúlio Vargas. O petista seria uma espécie de Vargas da esquerda.

Flávio Bolsonaro: senador é mais moderado e, por isso, talvez não empolgue tanto o bolsonarismo | Foto: Reprodução/Youtube

No espectro da direita, há seis pré-candidatos a presidente que têm força política: Flávio Bolsonaro, do PL, Michelle Bolsonaro, do PL, Ratinho Júnior, do PSD, Romeu Zema, do Novo, Ronaldo Caiado, do União Brasil, e Tarcísio de Freitas, do Republicanos.

Por ser filho de Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro se torna forte. Mas lhe falta a energia do pai e do irmão Eduardo Bolsonaro, o estafeta de Donald Trump. É o típico candidato ideal a ser derrotado. Com a ressalta de que não há candidato fraco se apoiado pelo bolsonarismo e pelo ex-presidente.

Michelle Bolsonaro é carismática, aparece bem nas pesquisas e, se for bancada pelo bolsonarismo, será um nome forte, com potencial de derrotar Lula da Silva. Mas consta que Jair Bolsonaro — dada a possível pancadaria da campanha — prefere que seja candidata a senadora no Distrito Federal, onde lidera as pesquisas de intenção de voto.

O governador do Paraná, Ratinho Júnior, mantém ligação estreita com o bolsonarismo, mas, se mesmeriza o Paraná, parece não empolgar o país. É do tipo anódino. Falta-se sal, o que sobra em Eduardo Leite.

54648300644_457c413fa6_k
Lula Silva: fortalecido pelo tarifaço de Donald Trump | Foto: Secom presidencial

O que falta ao governador do Rio Grande do Sul é sintonia com o bolsonarismo. Não é de direita o suficiente e dificilmente o bolsonarismo apoiaria um candidato a presidente assumidamente gay. Por preconceito, conservadorismo.

Se quiser ser candidato a presidente, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, precisa se tornar Carlos Drummond de Andrade. Quer dizer, precisa se tornar um político nacional. Drummond era um poeta nacional, não apenas de Minas.

Eleito e reeleito governador de Minas, Romeu Zema não consegue pôr o “pé” nas “estradas” do país. É mineiro demais — do tipo político insulado. Não se tornou, como gestor estadual, um político nacional. Não seguiu o exemplo do presidente Juscelino Kubitschek, que conquistou o país com seu carisma estampado no rosto empático.  

Diferentemente do sorridente Juscelino Kubitschek, Romeu Zema tem cara de bedel-carrasco de escola. Não se está sugerindo, porém, que seja mau gestor. Porque é eficiente.

Fica-se com a impressão de que, depois de quase sete anos no governo de Minas, Romeu Zema continua mais empresário do que político. Para ganhar uma eleição presidencial, é preciso ser político — dos mais profissionais.

Michelle Bolsonaro | Foto: Reprodução
Michelle Bolsonaro: direcionada para a disputa de mandato de senadora | Foto: Reprodução

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, é um político notável e um gestor dos mais gabaritados. Resolveu aquilo que Romeu Zema e Tarcísio de Freitas não conseguiram: o problema da segurança.

Se em São Paulo, o Primeiro Comando da Capital deixa o governador Tarcísio de Freitas como Segundo Comando do Estado — seu sistema de segurança é altamente falho —, em Goiás Ronaldo Caiado, com uma ação firme, ancorada numa política de inteligência policial eficiente, conteve o crime organizado e mesmo violências corriqueiras.

Nascida na cidade de Mara Rosa, Leonina, de 66 anos, disse ao Jornal Opção que só começou a trabalhar como motorista da Uber — tem um Renault Kwid prata — porque Goiânia se tornou uma cidade segura. Por qual motivo? “Por causa do governador Ronaldo Caiado.” O que a ex-cuidadora de idosos — no Setor Jaó — diz é repetido por outros motoristas de aplicativo.

Do ponto de vista político, que é essencial para negociar com o Congresso e com a sociedade, Ronaldo Caiado é o mais experimentado. Ele foi senador uma vez e deputado federal por vários mandatos.

Mas qual será realmente o candidato apoiado por Jair Bolsonaro e pelo bolsonarismo? Tarcísio de Freitas parece o “príncipe” — no sentido maquiaveliano — escolhido pelo ex-presidente, porém com resistência do bolsonarismo, que parece não considerá-lo de direita o suficiente.

Candidato a presidente não pode ser relutante. Entretanto, Tarcísio de Freitas não tem convicção — tanto que prefere disputar a reeleição. Um dos motivos é que receia perder para Lula da Silva e ficar sem mandato por quatro anos.

Fica-se com a impressão de que, se disputar a Presidência da República, Tarcísio de Freitas estará sendo empurrado para o “matadouro”… político. Mas Jair Bolsonaro parece acreditar que, entre todos os pré-candidatos, é o mais “controlável” (o que pode ser um equívoco político).

Como ficam os demais pré-candidatos a presidente? No espectro da direita, não se elogia Jair Bolsonaro por entusiasmo — por considerá-lo um líder respeitável —, e sim por necessidade.

Mesmo em prisão domiciliar e usando tornozeleira eletrônica — e deve ser condenado à prisão, em caráter definitivo, até o fim de 2025 —, Jair Bolsonaro é o amalgama que atrai e sedimenta o eleitorado de direita em todo o país. Não há outro líder equivalente, ao menos em termos de popularidade.

Por incrível que pareça, milhões de eleitores — sim, milhões — avaliam Jair Bolsonaro como “o” símbolo da direita no país, como o político capaz de impingir uma derrota ao PT.

É como se acreditassem que — ante Jair Bolsonaro —, Ronaldo Caiado, Ratinho Júnior e Romeu Zema “são”, não de direita, e sim de centro.

Eleitores de direita — parte significativa é bolsonarista, outra parte, substantiva, só quer retirar o PT do poder — querem votar no candidato a ser escolhido por Jair Bolsonaro e, em segundo plano, pelo bolsonarismo.

Por isso, toda a direita — de Ronaldo Caiado a Romeu Zema e Ratinho Júnior — cultiva Jair Bolsonaro. Para ganhar de Lula da Silva será preciso conquistar o apoio do ex-presidente, que, por seu turno, puxará o bolsonarismo para o “premiado”. É a realidade. O resto é ficção política.