O que Iris e Nion podem ensinar aos candidatos a prefeito de Goiânia

21 janeiro 2024 às 00h33

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Diz-se: Goiânia precisa de um gestor. Certo: é o que os eleitores pedem — exigem — nas pesquisas qualitativas. A capital teve prefeitos supimpas, para usar uma palavra em desuso: Venerando de Freitas Borges, Hélio Seixo de Brito, Iris Rezende Machado, Nion Albernaz (embelezou a cidade — deixando-a tão cheirosa quanto vistosa) e Darci Accorsi. Só o último de esquerda. No poder o petista — pai da deputada federal Adriana Accorsi (PT) — comportou-se de maneira moderada e empática com os moradores e líderes de segmentos organizados.
Iris Rezende foi prefeito de Goiânia quatro e Nion Albernaz três vezes (uma delas nomeado pelo primeiro). Qual o segredo dos três para cair nas graças dos eleitores?
Tem a ver com o fato de que eram gestores eficientes. Tem a ver a ver com o fato de que prestavam muita atenção na cidade. Tem a ver com o fato de que zelavam, em tempo integral, da capital. Tem a ver com o fato de que eram políticos atentos aos clamores dos cidadãos de Goiânia.
Iris Rezende: credibilidade e seriedade
Comecemos por Iris Rezende, que foi prefeito da capital na década de 1960 e no século 21. Por certo, o líder do MDB não inventou o mutirão, mas deu-lhe uma dinâmica.
O mutirão, além de ser um modo de acelerar determinados trabalhos, como a limpeza de bairros e a construção de casas, é uma maneira de os cidadãos participarem da vida pública, da vida coletiva. Num tempo de individualismo, reforçado pelas estruturas capitalistas, o mutirão é uma atividade praticamente socialista. As pessoas se irmanam para fazer o bem para os indivíduos, coletivamente.

No século 21, depois de ter sido governador de Goiás, por dois mandatos, e ministro de dois governos — o de José Sarney e o de Fernando Henrique Cardoso —, além de senador, Iris Rezende voltou a ser prefeito de Goiânia.
Havia um encanto dos goianienses com Iris Rezende — uma, por assim dizer, empatia. Talvez um caso de amor correspondido. Mas, exatamente, por quê?
Difícil explicar em poucas linhas. Mas, claro, o fato de que era um gestor eficiente é decisivo. De Iris Rezende dizia-se, em linguagem popular, mais ou menos assim: ele não deixa a peteca cair.
Não deixar a peteca cair é o seguinte: manter a cidade limpa, não permitir que o poder público seja acossado por vereadores solertes (o emedebista nunca se submeteu à Câmara Municipal), manter as contas em dia, não atrasar o salário do funcionalismo público e o pagamento dos fornecedores. Costuma-se sugerir que o emedebista não era preocupado com educação e saúde. Talvez não fosse mesmo. Mas, pelo menos, mantinha as duas atendendo a coletividade.

Afirma-se que a Comurg é um antro, uma escola do submundo. Não é bem assim. É preciso respeitar seus funcionários, pois a maioria absoluta é decente. E, se havia problemas nos tempos de Iris Rezende, pode-se sugerir que talvez fossem menores. A Comurg tem de ser enquadrada pelo prefeito — qualquer que seja ele — e não pode enquadrar o prefeito. Assim como Câmara Municipal, que deve fiscalizar, não pode controlá-lo.
Nos últimos anos, ao cuidar do básico, Iris Rezende não se preocupava em se tornar um político moderno. Ainda assim, a população sempre esteve ao seu lado. E o motivo era exatamente que cuidava do básico, ao menos razoavelmente. Não era dado a firulas e pirotecnias. Ruas e bairros bem cuidados, com pavimentações renovadas, eram uma espécie de cartão de visita das gestões do veterano emedebista.
Dada sua autoridade, Iris Rezende poderia ter ousado mais, sobretudo na educação. Entretanto, era mais preocupado com a infraestrutura da cidade. Alguns dos problemas enfrentados pelo prefeito Rogério Cruz têm a ver com o fato de que o emedebista iniciou várias obras, algumas delas de alta complexidade, e o pepino caiu nas mãos do líder do Republicanos.
Nion Albernaz e a cidade limpa
Filiado ao MDB e, mais tarde, ao PSDB — e um dos responsáveis pela vitória de Marconi Perillo para governador, em 1998 —, Nion Albernaz era mais “culto” do que Iris Rezende. Mas ambos eram inteligentes e astutos (aliás, em astúcia o filho da Cidade de Goiás não superava Iris Rezende).
Por ter mais visão de mundo, sobretudo porque lia mais e apreciava viajar — para a Europa e América Latina —, Nion Albernaz acrescentou algo mais nas suas gestões. Adversários diziam que plantar flores era “frescura” e algo descartável.

A população conseguiu compreender o objetivo de Nion Albernaz e o apoiou. O prefeito estava dizendo, com as flores, que Goiânia podia ser uma cidade mais bela e agradável — “cheirosa”, ele dizia; e “não encardida”, acrescentava — e isto sedimentou-se no inconsciente coletivo. Tornou-se um inconsciente coletivo. No início, algumas pessoas chegavam a arrancar mudas para levar para suas casas, mas, aos poucos, entenderam que manter as flores era importante, deixando a cidade com um brilho especial, tão admirado pelos turistas.
Sob Nion Albernaz, os goianienses aprenderam a sentir orgulho de sua cidade, a frequentar as praças — nas quais faziam fotografias.
Paralelamente às flores — do bem, diria um Charles Baudelaire do Cerrado —, que, por si, davam um ar de limpeza, de leveza e esplendor, Nion Albernaz cuidou da limpeza das áreas públicas (ruas, bairros).
Nion Albernaz não era, porém, apenas o “prefeito das florzinhas”, como adversários chegaram a apodá-lo. Era mais do que isto. O prefeito percebeu, de cara, que um dos setores mais fortes da economia da capital é o de serviços. Então, seguindo a excelência da iniciativa privada, operou para melhorar os serviços públicos, com o objetivo de facilitar a vida dos cidadãos. A gestão vapt-vupt foi, em larga medida, uma iniciativa do gestor municipal.

Claro, Iris Rezende e Nion Albernaz não eram perfeitos — ninguém é. Mas foram gestores eficientes e, por isso, foram eleitos tantas vezes. Os dois caíram nas graças dos goianienses por serem administradores públicos eficientes e austeros. Mas não só por isso. Eles pareciam amar Goiânia — e certamente amavam. Eram homens do interior que se tornaram mais goianienses do que muitos goianienses.
Adriana Accorsi, Bruno Peixoto (União Brasil), Gustavo Gayer (PL), Jânio Darrot (MDB), Pedro Sales (União Brasil) e Vanderlan Cardoso (PSD), de olho nas pesquisas qualitativas, têm de se apresentar como possíveis gestores. Mas, sobretudo, têm de convencer os goianienses de que, uma vez eleitos, amarão Goiânia, não vão deixá-la encardida. Gestores frios não são figuras emblemáticas e apaixonantes. Podem ter boas ideias para melhorar a cidade, mas, se faltar empatia com os eleitores, poderão ficar fora do poder.
O candidato forte certamente não será apenas gestor, não será apenas político (de matiz populista ou não). Mas precisará ter empatia com os goianienses.
Curiosidade sobre as mortes: 87 anos
Nion Albernaz, nascido na Cidade de Goiás, em 1930 — o ano da Revolução de Getúlio Vargas e Pedro Ludovico Teixeira —, morreu em 2017. Aos 87 anos.
Iris Rezende, nascido em Cristianópolis, em 1933, morreu em 2021. Aos 87 anos.
Ou seja, os dois morreram com a mesma idade — 87 anos.