O que a lógica e a razão dizem sobre um candidato do União Brasil a prefeito de Goiânia

16 julho 2023 às 00h01

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Na política, aqueles que esperam ventos melhores, podem até não naufragar, mas também não navegarão para portos e postos de mais amplitude.
Há uma frase atribuída ao político mineiro Tancredo Neves, mas que talvez seja eterna: “Na política, não existe cedo — só tarde”. Acrescente-se que o futuro não existe — é uma ficção. Noutras palavras, o futuro é uma construção do presente, vai sendo elaborado. Quanto menos se espera, ele chega — pronto. Porque já estava em processo de gestação.
Então, os verdadeiros políticos não esperam a “chegada” do futuro e, por isso, vão se colocando no presente, firmando-se a partir de determinadas eleições. Ao se postarem no cenário, apresentando-se, fisicamente e em termos de ideias, vão conquistando os eleitores aos poucos. Aqueles que esperam ventos melhores, podem até não naufragar, mas também não navegarão para portos e postos de mais amplitude.

Políticos que demoram a se colocar no centro do palco, esperando não se sabe o quê (a astúcia dos lentos é irmã, em política, do cemitério), acabam sendo atropelados pela história. Veja-se o caso de Ana Paula do Iris — a Ana Paula Rezende — que, embora filiada ao MDB, passa a impressão de não ter filiação alguma. Tanto que não participa da vida do partido. Como se sabe, a participação em um programa político (sobretudo se novato) na televisão é quase nada se comparada com a participação em encontros partidários em Goiânia e no interior. Aquele que quer se tornar líder precisa conhecer, de perto e sem intermediários, os liderados.
Aliados de Ana Paula falam do legado do pai, Iris Rezende, e da mãe, Iris Araújo. Estão certos, porque o legado conta, tem sua importância. Mas um político só se firma e se torna político de verdade se procura sedimentar sua própria identidade… para além do legado familiar.
Para cargos legislativos, os eleitores escolhem políticos de variados matizes — inclusive aqueles que adotam um discurso agressivo, como o senador Jorge Kajuru (que está se moderando, com inteligência) e o deputado federal Gustavo Gayer, do PL. Porém, para cargos executivos, como o governo do Estado e prefeituras, os eleitores escolhem pela lógica e pela razão. Buscam políticos equilibrados e que, no geral, tenham alguma experiência administrativa.

Não se trata de falar mal de Ana Paula quando se diz que não tem experiência política e administrativa. Trata-se de uma constatação. A experiência não é transmitida de pai para filha de maneira automática. Ela é uma jovem ponderada e decente, mas falta-lhe, sobretudo, ter participado da política de maneira mais ativa. Não foi vereadora. Não foi deputada.
Políticos precisam manter contato com outros políticos. Necessitam aprender a se relacionar, a estabelecer compromissos. Isto só se aprende com vivência, ou melhor, convivência.
Sobretudo, não se deve delegar o estabelecimento de compromissos a terceiros. É preciso se envolver pessoalmente nos diálogos. Porque isto aumenta o grau de confiança entre os aliados, o que vai levá-los a se enfronhar, com mais empenho, nas campanhas.
Pesquisas de intenção de voto referentes à disputa para prefeito de Goiânia mostram Gustavo Mendanha (prestes a se filiar ao MDB), ex-prefeito de Aparecida, na frente do senador Vanderlan Cardoso (PSD), dos deputados federais Adriana Accorsi (PT) e Gustavo Gayer (PL) e de Ana Paula.
O recall de Gustavo Mendanha não tem a ver com o fato de ter disputado o governo do Estado, e sim com ter sido considerado um prefeito eficiente em Aparecida por cinco anos e três meses, entre 2017 e 2022. Sua experiência administrativa, que gerou uma imagem positiva, é seu diferencial.
Os eleitores estão dizendo que querem um novo Iris Rezende — um gestor experimentado. Por isso Gustavo Mendanha é apontado como favorito. Ao mencioná-lo, deixando Ana Paula bem atrás, os eleitores estão sugerindo que preferem “identidade” administrativa — Iris Rezende e Gustavo Mendanha eram da velha escola do MDB (o político de Aparecida está voltando a ela) — à filiação afetiva.
Se está indicando que Ana Paula é fraca eleitoralmente? Não. Pelo contrário. Se for candidata com o apoio das máquinas partidárias do MDB — com o vice-governador Daniel Vilela (MDB) e Gustavo Mendanha à frente — e do União Brasil, com o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) norteando a aliança, certamente será uma postulante difícil de ser derrotada.
Porém uma frente política forte, altamente consolidada — e com projeto para conectar a disputa de 2024 à de 2026 —, precisa não apenas de um candidato eleitoral e politicamente consistente. Necessita de um postulante com energia e vontade de efetivamente disputar o pleito. Precisa ser — ou se tornar rapidamente — um líder. Há indícios de que, se isto sobra em Gustavo Mendanha e Bruno Peixoto, falta em Ana Paula.
Entretanto, se Ana Paula é relutante, o que deixa sua base política hesitante — e gera dúvidas nos eleitores —, Gustavo Mendanha dificilmente será candidato a prefeito de Goiânia. A lei não lhe faculta disputar um terceiro mandato consecutivo — foi eleito e reeleito prefeito de Aparecida em 2016 e 2020.
A Justiça Eleitoral, se permitir que Gustavo Mendanha seja candidato em Goiânia, estará criando a Lei Mendanha, como ocorreu, na ditadura, com a famosa “Lei Fleury” (criada para livrar da cadeia o delegado e torturador-mor Sérgio Fleury). A lei, para ser lei, tem de servir a todos — e sempre —, não apenas a uma, duas ou três pessoas, e não apenas em determinadas circunstâncias.
A hora e a vez de Bruno Peixoto?
Então, com Ana Paula relutante e Gustavo Mendanha vetado pela lei, abre-se espaço para alternativas na base governista.
Como se sabe, nas cinco cidades com maior eleitorado de Goiás — Goiânia, Aparecida, Anápolis, Rio Verde e Luziânia —, a base governista tem postulantes fortes. O MDB tem nomes em Goiânia (Ana Paula), Aparecida (Vilmar Mariano, possivelmente), Anápolis (Márcio Corrêa ou Amilton Filho), Rio Verde (Wellington Carrijo). O União Brasil tem nomes consistentes em Goiânia (Bruno Peixoto, Silvye Alves, Delegado Waldir Soares) e Luziânia (o prefeito Diego Sorgatto).
Das cinco cidades, o União Brasil vai lançar candidatos apenas em Luziânia, submetendo-se à hegemonia do MDB, com candidatos em quatro dos maiores municípios? Pode até ser. Mas carece de lógica, quer dizer, o partido que tem o governador do Estado e o presidente da Assembleia Legislativa vai renunciar a ter poder para abrir espaço só para o emedebismo? No sentido de disputas entre grupos, mesmo aliados, a política não é espaço adequado para samaritanos.
Como vai apoiar os candidatos do MDB em Aparecida, Anápolis e Rio Verde, é provável que o União Brasil também lance o postulante da base governista em Goiânia. A lógica e a razão sugerem isto.
Se sugerem que se tenha alguma experiência tanto política quanto administrativa, as pesquisas excluem, de cara, os marinheiros de primeira viagem, como Silvye Alves. A deputada está começando a se tornar política e a melhor “escola” é a Câmara dos Deputados. Ao final de quatro anos, terá experiência suficiente para voos mais altos. Delegado Waldir dificilmente deixará o Detran para disputar a Prefeitura de Goiânia. Se é assim, o nome mais ranqueado é o do presidente da Assembleia Legislativa, Bruno Peixoto.
Vereador e deputado estadual por vários mandatos, Bruno Peixoto é o que se pode chamar de uma força da natureza. Faz política em tempo integral e é o que o sociólogo alemão Max Weber denominava de “político profissional” e “político por vocação” (de alguma maneira tem mais a ver com Iris Rezende do que a própria Ana Paula).
A Assembleia Legislativa, como o nome diz, agasalha um poder — o Legislativo. Mas a Alego é muito mais do que aparenta o edifício que a sedia e a seus 41 deputados.
A Assembleia é uma espécie de “prefeitura” que serve a todo o Estado. Sua estrutura é gigante e confere ao seu presidente uma experiência administrativa ímpar. Além, é claro, de ampliar sua capacidade de articulação política. Legislar, lidando com 41 parlamentares, é o mesmo que compartilhar ideias e projetos — mesmo quando há divergências. A rigor, o presidente da Alego é uma espécie de “prefeito” dos deputados.
Bruno Peixoto foi eleito presidente da Assembleia com 41 votos. Porque articulou com habilidade, acolhendo as diferenças político-ideológicos sem exigir identidades forçadas. Hoje, o deputado conta com endosso amplo na Alego e, se for candidato a prefeito, poderá obter o apoio de quase todos os parlamentares que têm atuação em Goiânia — como Virmondes Cruvinel (União Brasil), Cairo Salim (PSD), Charles Bento (MDB), Eduardo Prado (PL), Lincoln Tejota (União Brasil), Talles Barreto (União Brasil), Júlio Pina (Solidariedade).
O presidente da Câmara Municipal de Goiânia, Romário Policarpo — que também é o vice-prefeito —, também tende a apoiá-lo. Pode, inclusive, ser o seu vice.
Romário Policarpo é um articulador hábil, conhece Goiânia como a palma de sua mão e mantém relacionamento estreito com políticos da capital. Tanto que, ele próprio, também é cotado para disputar a prefeitura.
Uma chapa com Bruno Peixoto para prefeito e Romário Policarpo para vice-prefeito — uma aliança de jovens renovadores — pode cair no gosto dos eleitores da capital. Acrescente-se que ambos, se efetivados, contarão com o apoio de um formidável exército eleitoral: Ronaldo Caiado, Daniel Vilela, Gustavo Mendanha, Delegado Waldir, Silvye Alves e, entre outros, Ana Paula. Candidatos isolados — como o senador Vanderlan Cardoso e o deputado Gustavo Gayer — podem até sair na frente, por serem mais conhecidos, mas dificilmente derrotarão um exército tão robusto quanto o citado.
Se efetivada, a aliança liderada por Bruno Peixoto, com o apoio de Ronaldo Caiado e Daniel Vilela, deve conquistar o apoio de União Brasil, MDB, Solidariedade, PTB, pP (por certo, no final, não ficará com o prefeito Rogério Cruz), Avante, parte do PSD (o de Vilmar Rocha e Francisco Júnior), entre outros. Em suma, não será fácil enfrentar o exército eleitoral que se constituirá em torno do candidato governista — seja Ana Paula do Iris ou Bruno Peixoto.