O que 2024 nas 5 cidades com maior eleitorado de Goiás tem a dizer sobre 2026 para o governo

12 novembro 2023 às 00h18

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Goiás tem 4,87 milhões de eleitores e quase 2 milhões deles estão radicados em cinco cidades: Goiânia (1.032.004), Aparecida de Goiânia (334.859), Anápolis (286.946), Rio Verde (142.441) e Luziânia (125.775).
Sem menosprezar as demais cidades, as cinco arroladas acima têm peso decisivo nas eleições para governador, senador, deputado federal e deputado estadual. Então, pode-se sugerir que os partidos que forem bem nestes municípios — na disputa 2024, elegendo mais prefeitos e vereadores — terão força político-eleitoral expressiva em 2026.
Comenta-se que a disputa para governador em Goiás em 2026 terá o vice-governador Daniel Vilela, do MDB, e o senador Wilder Morais, do PL.
Daniel Vilela representará não apenas o MDB, e sim uma base política que incluirá vários partidos, como o União Brasil do governador Ronaldo Caiado. Noutras palavras, ele terá uma espécie de “federação” partidária a bancá-lo em termos eleitorais.
Se os candidatos desta “federação” forem bem em 2024, notadamente nas cinco cidades (e mais algumas, como Águas Lindas, Catalão, Itumbiara, Jataí, Senador Canedo e Valparaíso), possivelmente Daniel Vilela se tornará imbatível para a disputa do governo. Dependendo do resultado da eleição, Wilder Morais poderá ficar isolado em 2026 — tal como ocorreu com Gustavo Mendanha na disputa de 2022. O postulante do Patriota ficou com apenas 25,20% dos votos válidos. O governador Ronaldo Caiado foi reeleito no primeiro turno.
1
Goiânia

Há pelo menos seis pré-candidatos a prefeito eleitoralmente consistentes em Goiânia — uma cidade cujas notícias reverberam em todo o Estado. Portanto, o prefeito eleito em 2024 terá influência no pleito de 2026. De alguma maneira, o prefeito da capital, que tem abastada estrutura financeira e um grande eleitorado, é uma espécie de micro-governador. E, se articular bem politicamente, sua força dobra, indo além do peso da estrutura da máquina.
Os seis pré-candidatos são, em ordem alfabética: Adriana Accorsi (PT), Bruno Peixoto (União Brasil), Gustavo Gayer (PL), Jânio Darrot (MDB), Rogério Cruz (Republicanos) e Vanderlan Cardoso (PSD).
Dos seis listados, qual, se sentar na cadeira de prefeito no Paço Municipal, subirá no palanque de Daniel Vilela ou de Wilder Morais em 2026?

Bruno Peixoto, Jânio Darrot e Rogério Cruz, como pertencem à base governista, certamente acompanhariam Daniel Vilela. Gustavo Gayer irá, por certo, com Wilder Morais, pois pertencem ao mesmo partido (ainda que ele e o senador tenham estilos bem diferentes).
Vanderlan Cardoso é uma incógnita, pois tanto poderá apoiar Daniel Vilela quanto Wilder Morais. Sua mulher, Izaura Cardoso, é a primeira suplente de senadora de Wilder Morais. Então, se este for eleito governador, ela ganha quatro anos de mandato.
Entretanto, se Vanderlan Cardoso for para o segundo turno, e se o candidato da base governista não estiver no páreo, ele poderá obter o apoio de Daniel Vilela? Não dá para saber. Porém, se obtiver, poderá apoiá-lo em 2026.
Por causa da rivalidade ideológica entre o PT e o PL — símbolos da esquerda e da direita —, Adriana Accorsi não terá como apoiar Wilder Morais para governador. A tendência é que o petismo lance um candidato a governador e, na hipótese de segundo turno, acompanhe Daniel Vilela. O MDB, afinal, está na base do governo do presidente Lula da Silva, do PT. Quem mais “atrapalha” a gestão do petista-chefe no Congresso é exatamente o PL de Wilder Morais.
Então, desde já, há um certo isolamento de Wilder Morais e um fortalecimento de Daniel Vilela. Frise-se que, em 2026, o emedebista vai disputar o governo sendo governador — o que o fortalecerá ainda mais com os prefeitos, não apenas com o de Goiânia.
Dos cinco arrolados, quem tem mais chance de ser eleito prefeito da capital: Adriana Accorsi, Bruno Peixoto, Jânio Darrot, Rogério Cruz ou Vanderlan Cardoso? O candidato da base governista — Bruno Peixoto ou Jânio Darrot — certamente, pela estrutura de campanha (apoios), irá para o segundo turno. Quem será seu adversário? Adriana Accorsi ou Vanderlan Cardoso. Ou talvez Rogério Cruz, que, sendo prefeito, não pode ser subestimado. Se a imagem não é muito positiva hoje, talvez possa ser mudada em 2024.
Apesar do discurso afiado, Gustavo Gayer terá de entender que, para disputar um cargo majoritário, terá de adotar uma fala que contemple um público mais amplo. No momento, está falando para seus representados — e não para todos os eleitores goianienses. Candidato a prefeito tem de jogar para todas as torcidas, e não apenas para a torcida da direita. Os eleitores de centro talvez se assustem com o radicalismo do líder do PL. O deputado deveria observar o caso da Argentina. Javier Milei, se tivesse adotado uma tática menos tresloucada, poderia ter sido eleito no primeiro turno. Agora, corre o risco de ser derrotado pelo peronista Sergio Massa.
2
Aparecida de Goiânia

Na cidade com o segundo maior eleitorado de Goiás, dois candidatos devem terçar forças: o deputado federal Professor Alcides Ribeiro, do PL, e o prefeito Vilmar Mariano, do MDB.
Em 2026, dos principais líderes da cidade, ficarão com Daniel Vilela o ex-prefeito Gustavo Mendanha e Vilmar Mariano. A base governista fará um esforço hercúleo para reeleger o prefeito, pois, se Professor Alcides for eleito, a oposição ganhará uma base sólida numa cidade importante política e economicamente.
Professor Alcides é aliado do senador Wilder Morais e, se eleito prefeito, colocará a máquina pública de Aparecida a serviço do senador na disputa de 2026.
A 11 meses da eleição, que ocorrerá em 6 de outubro de 2024, pode-se falar efetivamente em favorito? Não. Porque o eleitorado não está minimamente envolvido com disputa eleitoral e mal sabe quais são os candidatos.
Em Aparecida, em pesquisas divulgadas pelo grupo do Professor Alcides, o prefeito aparece em segundo lugar e o deputado em primeiro. É provável que o quadro, o retrato do momento, seja este.
Pode-se falar numa frente inercial. Algo assim: no momento, os eleitores estão “apoiando” aquele que avalia como “mais conhecido” — e não necessariamente como o “melhor”.
Vilmar Mariano assumiu a Prefeitura de Aparecida em abril de 2022, ou seja, não governou nem dois anos. Havia sido vereador e vice-prefeito. Aos poucos, está se tornando conhecido e as pesquisas, mesmo desfavoráveis, sinalizam que está em ascensão.
Sobretudo, Vilmar Mariano, o Vilmarzim, terá uma aliança político-eleitoral poderosa ao seu lado. Gustavo Mendanha, Ronaldo Caiado e Daniel Vilela, para citar apenas três generais eleitorais, assumirão sua campanha como se fosse deles. Ademais, o prefeito terá vários meses de 2024 para consolidar sua gestão.
Professor Alcides parece ter um teto — na faixa de 30% das intenções de voto — e não está conseguindo superá-lo. A bem da verdade, não se pode falar isto ainda. Entretanto, por ser mais conhecido e por não ter tanto desgaste — nunca geriu a prefeitura —, poderia ter ao menos 40% das intenções de votos. E não tem.
O parlamentar do PL será capaz de montar uma máquina eleitoral poderosa para enfrentar a estrutura que está sendo articulada por Vilmar Mariano? É provável que não. Porque a montagem de uma máquina de campanha não depende apenas de dinheiro (que o deputado tem de sobra). Depende, acima de tudo, de estrutura político-partidária — o que o PL não tem condições de lhe proporcionar e nem o parlamentar tem condições de formatar. Porque, frise-se, Professor Alcides não estará enfrentando apenas Vilmar Mariano, mas toda uma base política que, pensando em 2024, já está de olho grande em 2026.
3
Anápolis

Anápolis é a Suzhou de Goiás (já foi a Manchester do Cerrado, mas a cidade britânica ficou para trás, em comparação com a chinesa, hoje a maior cidades industrial do mundo), ou seja, uma cidade industrial cada vez mais desenvolvida e, notadamente, em expansão.
O quadro político da cidade, olhando de maneira superficial, parece relativamente definido. Mas não está. Eleitoralmente, a situação é mais complexa do que parece. O deputado estadual Antônio Gomide, do PT, lidera, com relativa folga, as pesquisas de intenção de voto — com Márcio Corrêa, do MDB, em segundo lugar e, crucial, em ascensão.
Antônio Gomide foi prefeito duas vezes e é visto como um administrador eficiente. Então, sua frente pode ser inercial, quer dizer, é o postulante, no momento, mais conhecido. Sua posição na pesquisa pode derivar disto, e não necessariamente de popularidade consolidada (prestígio, digamos).
A resistência ao PT em Anápolis é impressionante e isto tende a prejudicar, em larga escala, Antônio Gomide. Pode levá-lo ao isolamento. Talvez não seja surpreendente se largar na frente, no primeiro turno, e caminhar para o segundo turno atrás de outro candidato — como Márcio Corrêa ou o deputado Amilton Filho (MDB, talvez a caminho do União Brasil).
Aos poucos, Márcio Corrêa, se definido como candidato da base governista, tende a crescer, encostando em Antônio Gomide. Porque terá ao seu lado uma força político-eleitoral poderosa — a base governista —, com o possível acréscimo do bolsonarismo.
O bolsonarismo é forte em Anápolis, mas pode não eleger um candidato a prefeito, por falta de estrutura local. Mas tende a ser decisivo para eleger um postulante com estrutura adequada, como o deputado federal Márcio Corrêa ou Amilton Filho. O deputado federal tem conversado com Wilder Morais, com o ex-deputado Major Vitor Hugo e com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Se for eleito, Antônio Gomide estará em qual palanque em 2026? Ao menos no primeiro turno, não apoiará, possivelmente, Daniel Vilela, porque o PT tende a lançar candidato próprio. E no segundo turno? Aí é possível uma aliança.
Eleito ou não, Márcio Corrêa estará com Daniel Vilela na disputa para governador em 2026. Então, o vice-governador estará presente na sua campanha em Anápolis.
4
Rio Verde

Há três pré-candidatos consistentes na disputa pela prefeitura. Rio Verde é a maior e mais próspera cidade do Sudoeste goiano. Trata-se da capital do agronegócio de Goiás.
Lissauer Vieira, do PL, Osvaldo Fonseca Jr., do Republicanos, e Wellington Carrijo, do MDB, são os nomes mais cotados para a disputa. O PT deverá lançar um candidato, mas ainda não definiu o nome — pode ser o Professor Vavá. Nos últimos pleitos, o petismo tem lançado candidato para marcar posição, pois não tem força eleitoral no município.
O médico Wellington Carrijo tem o apoio do prefeito Paulo do Vale, do deputado estadual Lucas do Vale (MDB), de Ronaldo Caiado e Daniel Vilela. O exército político-eleitoral que terá à disposição o coloca, desde já, como o nome mais forte para a disputa. Dirão: “Mas há pesquisa mostrando-o em segundo lugar, atrás de Lissauer Vieira”. Talvez a informação esteja correta, mas é um retrato do momento, prestes, talvez, a ser superado.

A definição de Wellington Carrijo — que será candidato pelo MDB ou pelo União Brasil — como postulante bancado por Paulo do Vale e Lucas do Vale poderá levá-lo, em breve, ao primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto.
Se eleito, Wellington Carrijo será um dos principais coordenadores da campanha de Daniel Vilela para governador, no Sudoeste, em 2026. Lissauer Vieira provavelmente será um dos articuladores da campanha de Wilder Morais, se este realmente for candidato a governador. Osvaldo Fonseca Jr., por ser bolsonarista, tende a ficar com o senador do PL.
A incógnita é a deputada federal Marussa Boldrin, que, presidente do MDB, até agora não declarou apoio a Wellington Carrijo e pode não compor com Daniel Vilela para 2026. Possivelmente, a parlamentar embarcará na campanha de Wilder Morais, ao lado de seu patrocinador, José Mário Schreiner, presidente da Faeg. Frise-se que a base governista em Rio Verde também não abre espaço para a jovem política — o que poderá levá-la para os braços das oposições. O governismo local precisa ser mais tolerante com a emedebista.
Osvaldo Fonseca Júnior afirma que será candidato a prefeito. Talvez seja. Se aceitasse a vice de Lissauer Vieira — sublinhe-se que tem dito que não vai compor —, aí, juntos, criariam uma chapa forte para enfrentar o nome indicado por Paulo do Vale.
O Agro está dividido em Rio Verde. Parte significativa seguirá com Wellington Carrijo, em especial por causa de sua aliança com Paulo do Vale, que também é produtor rural. E parte apoiará Lissauer Vieira.
Se terá um quadro polarizado entre Wellington Carrijo e Lissauer Vieira? É possível. Mas Osvaldo Fonseca Júnior está se colocando, com o objetivo de polarizar com o candidato governista. O que se diz na cidade é que a disputa se dará entre o candidato de Paulo do Vale e Lucas do Vale e outro candidato — que pode ser Lissauer Vieira ou Osvaldo Fonseca Júnior.
5
Luziânia

Assim como em Aparecida, em Luziânia a disputa se dará entre um aliado de Daniel Vilela e Ronaldo Caiado — o prefeito Diego Sorgatto, do União Brasil — e uma aliada de Wilder Morais, a vice-prefeita Ana Lúcia. Os dois estão rompidos politicamente.
Há um consenso de que, para disputas majoritárias, só ganham eleições aqueles que se aliam a um grupo político representativo. É preciso pôr a campanha nas ruas e redes sociais — que são uma espécie de ruas digitais — e isto só aliados coesos e articulados podem fazer.
Pode-se afirmar que em campanhas majoritárias ganham aqueles que têm o rolo compressor mais forte, e não necessariamente o que apresenta as melhores ideias (por sinal, os eleitores costumam desconfiar mais de candidatos que apresentam projetos extraordinários, mas não críveis).

Diego Sorgatto conta com amplo apoio interno (por exemplo, o deputado federal e ex-prefeito Célio Silveira, do MDB), em Luziânia, e externo (Daniel Vilela e Ronaldo Caiado). Sua estrutura é equivalente a um exército eleitoral. Sua gestão é bem avaliada, sobretudo porque está contribuindo para o desenvolvimento do município.
Ana Lúcia não tem experiência com gestão e, principalmente, não tem um grupo coeso e estruturado ao seu lado. De última hora, fechou uma aliança com Wilder Morais, que promete bancá-la (porém, como terá de bancar vários outros candidatos pelo Estado, dificilmente terá como se concentrar unicamente em Luziânia).
Se Diego Sorgatto tem aliados internos e externos importantes em Luziânia, não se pode dizer o mesmo de Ana Lúcia. Wilder Morais não tem presença nenhuma na cidade. É o que chamam no Entorno de “ilustre desconhecido” ou “famoso… quem?”.
Em 2026, Ana Lúcia, se não mudar de partido mais uma vez, deverá palanquear com Wilder Morais. Diego Sorgatto irá para a batalha com o grupo de Daniel Vilela.
É cedo para avaliações peremptórias. Mas os indícios são de que Daniel Vilela caminhará mais forte para 2026 do que Wilder Morais e quaisquer outros nomes.