Nem Bolsonaro crê na faceta Bolsonarinho paz e amor. Panelaço mostra insatisfação
23 março 2021 às 22h27

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Presidente diz que se terá vacina para todos os brasileiros. Mas no atual ritmo do Ministério da Doença não dá para acreditar em suas palavras
O Brasil verá daqui pra frente um Bolsonarinho paz e amor? Ninguém acredita. Nem ele. Só os “mictórios do ódio” das redes sociais.
Mas, no seu pronunciamento de terça-feira, 23, o presidente Jair Bolsonaro, ante o aumento das mortes, queda de sua popularidade e pressão da sociedade civil e do Centrão, decidiu dizer que as vacinas estão garantidas. Até o final de 2021, “haverá” vacina para todos os brasileiros — segundo ele, 500 milhões de doses. O ritmo atual do Ministério da Doença — quer dizer, da Saúde — não sugere que a crença do presidente condiz com a realidade.
“Somos incansáveis na luta contra o coronavírus”, afirmou o presidente. Até agora, a palavra apropriada talvez seja “cansados” de não lutar contra a Covid-19.
Distorcendo dados, o presidente “informou” que o Brasil é o quinto país que mais vacina no mundo (na verdade, vacinou apenas 6% da população). Mas, como dizem os cientistas, este dado tem a ver com números absolutos. Em termos proporcionais, revelam dados do Our World in Data, o Brasil é o 60º no ranking de doses que foram aplicadas.
Bolsonaro destaca que se empenhou pessoalmente junto à Pfizer para conseguir vacina. Entretanto, a empresa contrapõe e afirma que, apesar de ter oferecido as vacinas, o governo brasileiro não se mostrou empenhado em tempo hábil. Chegou tarde, e intencionalmente, porque tinha um discurso anti-vacina, assim como tem um discurso anti-máscara. Bolsonaro e seu entorno estavam mais preocupados com cloroquina e tratamento precoce — que, a rigor, não é tratamento nem é precoce (joga-se dinheiro fora ao investir no curandeirismo presidencial).

Só a vacina, produto da ciência — que Bolsonaro renega como, possivelmente, coisa “de” comunista —, pode reorganizar a vida dos brasileiros. Como dizem os economistas, a recuperação da economia depende mais da vacinação de que de qualquer outra ação.
Pensando na eleição de 2022, Bolsonaro não está mudando, e sim adaptando, o seu discurso. Continua anti-ciência, permanece distorcendo dados. Mas, de olho das pesquisas, percebeu que tem de parecer menos abúlico e mostrar empatia com a população.
Seu discurso-pronunciamento foi recebido com panelaço em todo o país. Em Goiânia, assim como em outras cidades, notadamente nas capitais, além do panelaço, pôde-se ouvir as pessoas dizendo “fora Bolsonaro!”, além de outras palavras duras contra a inação do presidente que, para cada ocasião, adota um discurso para torná-lo mais palatável à sociedade.
Mas o Brasil está se cansando de Bolsonaro. Finalmente, parece que ele está percebendo isto.