Pondo fim à avalanche de dúvidas que cercava sua viabilidade, a federação entre União Brasil e Progressistas caminha, enfim, para se tornar realidade. O pedido de registro já foi protocolado no Tribunal Superior Eleitoral, que tem até seis meses antes das eleições de 2026 para se manifestar. Nos bastidores, contudo, a expectativa é de aprovação sem sobressaltos. Não há entraves jurídicos relevantes e tampouco disposição política no TSE para criar dificuldades onde elas claramente não existem.

Batizada de União Progressista, a federação foi recebida, num primeiro momento, com desconfiança e críticas. Questionava-se a utilidade prática de uma aliança entre duas legendas já robustas, com forte presença institucional e capilaridade nacional. A dúvida, embora compreensível, ignora a lógica mais elementar da política: tamanho nunca é demais quando o objetivo é poder.

Os números falam por si. O PP conta atualmente com 50 deputados federais e sete senadores. O União Brasil, sozinho, soma 59 deputados e cinco senadores. Juntas, as siglas alcançam 121 parlamentares, superando com folga o PL, hoje a maior bancada do Congresso, com 101 representantes. Trata-se, sem exagero, de um gigante eleitoral em fase final de gestação.

Ainda assim, causa estranheza o aparente titubeio da futura federação em assumir, de forma clara, um nome para a disputa presidencial. Estranheza apenas aparente, diga-se. Na prática, a escolha está posta há meses.

O nome mais óbvio é o do governador de Goiás, Ronaldo Caiado. Foi o primeiro governador da direita a lançar oficialmente sua pré-candidatura ao Planalto, em um evento de grande porte realizado em Salvador (BA), reduto historicamente associado ao PT. A escolha do local não foi casual. Funcionou como teste simbólico e político de aceitação nacional, algo que Caiado parece disposto a enfrentar sem subterfúgios.

Desde então, o governador atua de maneira contínua para consolidar sua candidatura, deixando claro que seu projeto não é moeda de troca. Com passagem pela Câmara, pelo Senado e atualmente no segundo mandato como governador (foi reeleito em primeiro turno), Caiado conhece o jogo político e não tem histórico de recuos estratégicos para agradar plateias momentâneas. Tudo indica que seguirá até o fim.

Sua principal credencial, porém, não está no discurso, mas na gestão. E os dados confirmam isso. Pesquisa do instituto AtlasIntel, divulgada nesta semana, com quase 201 mil entrevistados entre outubro e dezembro, aponta Caiado como o governador mais bem avaliado do país, com 80% de aprovação. Fica à frente de Rafael Fonteles, do Piauí, e de Helder Barbalho, do Pará. Não se trata de margem apertada, mas de liderança confortável.

Grande parte dessa aprovação decorre dos resultados na área de segurança pública. Comparada à gestão anterior, os indicadores de violência em Goiás despencaram. Crimes violentos letais intencionais caíram mais de 60%. Latrocínios recuaram mais de 90%. Roubos de veículos e de cargas praticamente foram dizimados. São números que não admitem retórica nem relativizações convenientes.

O contexto nacional torna esses dados ainda mais relevantes. Pesquisa Genial/Quaest divulgada em outubro apontou a segurança pública como a maior preocupação do brasileiro, superando economia, corrupção, saúde e problemas sociais. Em um país exausto da violência cotidiana, quem entrega resultados concretos larga com vantagem evidente.

Caiado ainda reúne outro diferencial decisivo. É o único pré-candidato da direita que não depende do bolsonarismo para existir politicamente. Não pede bênção, não aguarda sinal verde e faz questão de frisar essa autonomia. Em um campo político que insiste em confundir lealdade com subserviência, isso não é detalhe, é ativo.

O nome ungido por Jair Bolsonaro segue na direção oposta. Flávio Bolsonaro, senador e filho do ex-presidente, carece de densidade política até para disputar com competitividade o próprio Rio de Janeiro. Pensar nele como candidato à Presidência beira o delírio. Sua trajetória é marcada menos por realizações e mais por episódios constrangedores, tratado publicamente pelo próprio pai como problema de um “garoto” – entrevista de Jair Bolsonaro em janeiro de 2019: “Não é justo atingir o garoto, fazer o que estão fazendo com ele, para tentar me atingir”. A declaração se referia ao fato de Flávio, na época, ter entrado na mira da Receita Federal por suspeita de rachadinha.

A pergunta é inevitável: que imagem transmite um senador tratado dessa forma em público pelo ex-presidente da República? Certamente não a de liderança nacional.

O veredito é quase constrangedor de tão simples. A federação União Progressista abriga um pré-candidato que reúne experiência administrativa, resultados mensuráveis e independência política. Esse nome é Ronaldo Caiado. Em 2026, segurança pública e capacidade de gestão estarão no centro do debate. Lula atende parcialmente a essa demanda (admitamos, o petista tem vasta experiência. Mas amarga quando o assunto é segurança). Flávio Bolsonaro, não atende a nenhum dos requisitos postos à mesa. A escolha da federação UB-PP, portanto, não é apenas lógica. É inevitável.

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