Detalhe relevante: Gustavo Gayer foi indiciado pela Polícia Federal. Não é o mesmo que ser condenado. Por sinal, nem foi julgado. Se não puder disputar mandato de senador, o PL apostará em Major Vitor Hugo.

Não há dúvida de que, na iniciativa privada, o engenheiro civil Wilder Morais é um vencedor. Pelos próprios méritos. Fez obras para o Carrefour e se consagrou como dono da Construtora Orca e de shoppings (Goiânia, Anápolis, Valparaíso de Goiás). Trata-se de um empresário de primeira linha.

Wilder Morais se tornou senador, no primeiro mandato, não pelas graças dos eleitores. Com a cassação do senador Demóstenes Torres, que havia sido eleito e reeleito, o primeiro suplente assumiu.

O primeiro suplente era Wilder Morais. Então, seu primeiro mandato foi, por assim dizer, quase um “presente” inesperado da “providência divina”. Quase é o termo a reter.

Comparemos alguns dados de duas eleições para senador em Goiás — a de 2018 e a de 2022.

Em 2018, Vanderlan Cardoso, então filiado ao pP, foi eleito — com 1.729.737 votos (31,35%). O segundo eleito, Jorge Kajuru, então no PRP, obteve 1.557.415 votos (28,23%).

Wilder Morais ficou em terceiro lugar, com 796.387 votos (14,43%). Era filiado ao DEM e concorreu sem o apoio do bolsonarismo.

Major Vitor Hugo: projeto pessoal de Wilder Morais pode prejudicá-lo | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Quatro anos depois, Wilder Morais foi eleito senador, com 799.022 votos (2.635 votos a mais do que em 2018). Uma das votações mais baixas da história da disputa por mandato ao Senado.

Qual foi o diferencial de Wilder Morais, ao impor uma derrota a Marconi Perillo (PSDB), que ficou em segundo lugar? O apoio de Jair Bolsonaro, que estava na Presidência da República, e do bolsonarismo. Filiado ao PL, foi carregado por, entre outros, o influencer Gustavo Gayer — que foi eleito deputado federal (ficou em segundo lugar). Há outra questão: o postulante tucano era eleitoralmente fraco.

Comparemos os números: Vanderlan Cardoso recebeu 930.615 votos a mais do que Wilder Morais. Jorge Kajuru conquistou 758.393 a mais do que Wilder Morais. Os dados são referentes aos pleitos de 2018 e 2022.

O que os números — que não mentem, sobretudo porque são os apresentados nas urnas eletrônicas (não têm a ver com pesquisas de intenção de voto) — dizem é que, mesmo com o apoio do bolsonarismo, Wilder Morais obteve uma votação bem menor. Noutras palavras, se não fosse o bolsonarismo o carregando — um candidato pesado — teria perdido, possivelmente, para Marconi Perillo.

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Márcio Correa, prefeito de Anápolis: aliado de Daniel Vilela; é do PL | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Portanto, Wilder Morais é o típico candidato-mochila. Ou seja, precisa ser carregado por outros políticos ou por um movimento de massa. Ressalve-se: apesar de bancado pelo bolsonarismo, o senador não é, a rigor, bolsonarista — é wildista. Joga pra si — o que, aliás, não é incomum na política.

Não se trata de depreciar Wilder Morais por ter menos votos do que Vanderlan Cardoso e Jorge Kajuru. O que se está dizendo é que se trata de um candidato não popular e que, sem apoio amplo, tem dificuldade de se eleger.

Como senador, não brilha, exceto na aprovação de emendas para alguns municípios. É um senador comum, sem grandes projetos de interesse do Brasil e de Goiás. Mas ao menos não é envolvido em falcatruas. Até onde se sabe, é decente. Um ponto positivo, pois.

Carlinhos do Mangão: prefeito de Novo Gama é do PL e apoia Daniel Vilela | Foto: Reprodução

“Derrota” de Wilder em 2026 será do PL

Wilder Morais tem dito a aliados — poucos, sinal: cabem numa van, quem sabe — que será candidato a governador de Goiás em 2026, daqui a nove meses e alguns dias. É um direito do senador. Afinal, é filiado a um partido político e está no jogo.

Mas qual é o verdadeiro jogo de Wilder, e não exatamente do PL?

Empresário atilado, desses que aproveitam as melhores oportunidades (negócios), Wilder sabe que a disputa de 2026 será muito difícil — tanto que, em algumas pesquisas, aparece em quarto lugar, atrás de Daniel Vilela, do MDB, de Marconi Perillo, do PSDB, e de Adriana Accorsi, do PT.

Costuma-se dizer, entre os wildistas, que Wilder Morais não tem nada a perder. Porque, se for derrotado, continuará senador. Estão certos, em parte. Mas não no geral.

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Jerônymo Siqueira, prefeito de São Miguel do Araguaia, saiu do PL para apoiar Daniel Vilela | Foto: Divulgação

O maior articulador político dos governos dos presidentes Ernesto Geisel e João Figueiredo, Golbery do Couto e Silva, dizia que, no bojo de uma derrota, logo se terá uma nova derrota.

Porque derrotas, por assim dizer, “atraem” derrotas. Iris Rezende perdeu três vezes para Marconi Perillo, em 1998, 2010 e 2014.

Então, se perder em 2026 para governador, Wilder Morais poderá sacrificar sua carreira política. Por que o PL poderá apoiá-lo em 2030 para senador ou para governador?

Sobretudo, uma derrota (de acontecer) de Wilder Morais em 2026 poderá ser não apenas uma derrota pessoal, e sim do PL. O senador poderá contribuir para derrotar de candidatos a deputado federal, estadual e senador.

Se Wilder Morais for candidato a governador em 2026, o PL perderá praticamente toda a sua base político-eleitoral no interior. Pouquíssimos prefeitos e líderes municipais o acompanharão no que consideram como uma “aventura pessoal, e não partidária”, quer dizer, não do PL no geral. Os prefeitos de Anápolis, Márcio Corrêa, de Novo Gama, Carlinhos do Mangão, seguirão com Daniel Vilela.

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Gustavo Mendanha: pré-candidato a senador | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Candidatos a governador, a senador e a deputado federal e estadual precisam de bases no interior. Só candidatos furacões, em termos de eleição, podem ganhar sem bases fortes nos municípios — casos de Silvye Alves, do União Brasil, e de Gustavo Gayer, do PL, em 2022. Mas os demais precisam de estrutura partidária, de apoios locais.

Já candidatos majoritários — a governador e a senador — precisam de apoio sólido na maioria das cidades do interior. Gustavo Mendanha sofreu na pele o fato de não ter estrutura nos municípios goianos, em 2022. Perdeu a eleição para governador, no primeiro turno, amargando um segundo lugar e com apenas 25% dos votos válidos.

Wilder poderá “retirar” Gayer do Senado

Se Wilder Morais perder, nada demais? Bem, é o esperado. As pesquisas de intenção de votos, assim como as qualis, mostram que os eleitores goianos querem a continuidade do governador Ronaldo Caiado — que resolveu o problema da segurança e acabou com a indecência da falta de probidade no governo do Estado de Goiás.

A continuidade de Ronaldo Caiado é Daniel Vilela. É o preferido dos eleitores e a tendência é que seus números cresçam, quando foi mais for ressaltada a conexão entre o vice-governador e o governador.

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Daniel Vilela ao lado de Gracinha Caiado: forte para o governo e para o Senado | Foto: Hegon Corrêa

A questão-chave é que, se Wilder Morais for muito mal, pode levar, junto, a candidatura de Gustavo Gayer — o postulante a senador pelo PL — e alguns candidatos a deputado federal do partido.

Então, uma derrota de Wilder Morais poderá representar uma derrota coletiva do PL. A aposta num projeto exclusivamente pessoal — não partidário — pode ser uma catástrofe para o PL de Goiás. O ex-presidente Jair Bolsonaro, mesmo preso, e o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, não são amadores políticos e, por isso, sabem o que está acontecendo e o que pode acontecer em 2026.

O que Wilder Morais, como presidente estadual do PL, deve fazer? O que ele quiser, é claro. É um direito do senador disputar o governo, insistamos. Mas é um direito do empresário — um homem sensato, cordato e ponderado — contribuir para enfraquecer os integrantes do Partido Liberal em todo o Estado? Podem sair prejudicados: Gustavo Gayer, Major Vitor Hugo, Fred Rodrigues, Hugo Christiani, Ismael Alexandrino (deve se filiar ao PL), Major Araújo, Eduardo Prado, Oséias Varão, Coronel Urzeda, entre outros.

Gustavo Gayer é, não há a menor dúvida, um forte candidato a senador. Mas, por experiência — e se trata de um político tão sagaz quanto inteligente —, sabe como os políticos que estão no poder representam uma máquina poderosa.

Sandro Mabel e Leandro Vilela foram eleitos prefeitos de Goiânia e Aparecida de Goiás graças à máquina poderosa que “atropelou” Fred Rodrigues e Professor Alcides Ribeiro, ambos do PL. A história pode se repetir, como sugeria Golbery do Couto e Silva.

A base governista já definiu uma candidatura ao Senado. Será Gracinha Caiado, do União Brasil. Formuladora dos programas sociais do governo estadual, é uma das políticas mais populares de Goiás e tem um discurso afiado e racional. Tende a obter mais de 1,5 milhão de votos e, por isso, puxar o segundo senador.

Qual será o outro candidato da base governista: Gustavo Mendanha ou Vanderlan Cardoso? Não está definido porque o governismo espera a decisão do PL.

Se o PL optar pela composição com a base governista, bancando Gustavo Gayer como parceiro de Daniel Vilela e Gracinha Caiado, o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia Gustavo Mendanha certamente sairá do páreo, por lealdade ao governador Ronaldo Caiado e ao vice-governador Daniel Vilela. Quanto a Vanderlan Cardoso, não se sabe.

Na chapa com Daniel Vilela e Gracinha Caiado, Gustavo Gayer tem chances concretas de ser eleito senador. Numa chapa com Wilder Morais, o deputado continuará forte, mas poderá perder devido à força eleitoral da estrutura governista em todo o Estado — da capital para o interior e vice-versa.

A missão de salvar eleitoralmente o PL em Goiás está nas mãos tanto de Wilder Morais quanto de Gustavo Gayer. Na verdade, muito mais do deputado, se se mostrar pragmático.

Gustavo Gayer deveria ouvir os prefeitos de Goiás. Todos eles. O que querem? Uma aliança com Daniel Vilela e Gracinha Caiado. Porque são pragmáticos.

Os líderes do PL sabem, de Norte a Sul de Goiás, que, se Wilder Morais for derrotado, poderá retirar Gustavo Gayer do Senado e, inclusive, da política.