Eleitores de Goiânia cobram um “novo” Iris Rezende ou Maguito Vilela para a Prefeitura de Goiânia

29 janeiro 2023 às 00h00

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Há um truísmo em política: não há cedo — só tarde. A frase é atribuída a Tancredo Neves, mas talvez seja mais antiga que o estadista mineiro. Portanto, os políticos que demoram a articular, a trabalhar para a formação de uma aliança política poderosa, podem ser superados por aqueles que são mais sagazes e percebem as mudanças que, visíveis ou invisíveis, estão se processando.
Três fatos, que ocorreram entre 2020 e 2022, mudaram e continuarão mudando a política de Goiás e de Goiânia, que é o objeto deste Editorial, nos próximos anos. Primeiro, Maguito Vilela, que havia sido eleito prefeito de Goiânia em 2020, faleceu em 13 de janeiro de 2021, há dois anos. Segundo, Iris Rezende abandonou a política em 2020 e morreu em 9 de novembro de 2021, há pouco mais de um ano. Terceiro, o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) foi reeleito, em 2 de outubro de 2022.

As mortes de Maguito Vilela e Iris Rezende encerraram um ciclo na política de Goiás e no MDB. Tanto que a principal referência do partido é o vice-governador Daniel Vilela, de 39 anos. Quer dizer, houve uma renovação completa no partido. A missão do jovem político é formar novas lideranças, que sejam tão consistentes quanto ele. E 2024, daqui a um ano e oito meses, será o grande laboratório de testes do partido. As eleições municipais criam líderes locais que, com o tempo, podem se tornar líderes estaduais. Nenhum partido pode ter apenas um único líder, notadamente nos tempos contemporâneos. O líder maior precisa de líderes-referenciais, digamos assim, que possam a ajudá-lo a pensar o próprio projeto político-eleitoral e, sobretudo, o do partido.
A reeleição de Ronaldo Caiado, associada ao fato de que Maguito Vilela e Iris Rezende faleceram, em vez de fechar, reabriu a política de Goiás e de Goiânia. Em 2026, ele poderá disputar mandato de presidente da República — o espaço de centro-direita está, no momento, vago”, por assim dizer — ou de senador. Ou seja, não disputa mandato de governador daqui a quatro anos, porque foi reeleito. Sua vitória também enfraqueceu as oposições, sobretudo para a disputa de 2026.

Para a disputa da Prefeitura de Goiânia o quadro é complexo. Pesquisas qualitativas começam a sugerir que os eleitores da capital querem um prefeito que seja — mais do que jovem e com espírito de renovação — gestor, uma espécie de gerentão. Por incrível que possa parecer, há uma busca por um perfil próximo ao de Iris Rezende, que foi prefeito por quatro mandatos, sempre bem avaliado.
Rogério Cruz, prefeito de Goiânia
Por que os eleitores querem um gerentão, ainda que tenha de ser criativo? Iris Rezende, ao término de seu mandato em dezembro de 2020, deixou várias obras por terminar. O prefeito Rogério Cruz, que era vice de Maguito Vilela e assumiu por causa da morte do emedebista, está trabalhando para conclui-las. Se finalizar as obras que facilitarão a mobilidade do transporte coletivo — portanto, a de todos os demais veículos —, pode sair consagrado.
No momento, porém, Rogério Cruz tem sido cobrado, de maneira intensa, pela população. Trata-se de um prefeito ruim? Não. Mas precisa, se quiser disputar a eleição em igualdade de condições com outros postulantes, construir a imagem de que é gestor, de que faz as coisas. Os moradores de Goiânia querem sentir mais a “mão” do prefeito na cidade. Ao contrário do que muito pensam, e dizem nas redes sociais, o administrador municipal está trabalhando, já tem o que mostrar. Mas a sociedade ainda não tem a percepção de que está gerindo a máquina corretamente, com responsabilidade. O que falta a ele é se apresentar mais à sociedade e mostrar o que já fez e o que ainda poderá fazer em um ano e 11 meses. Do ponto de vista eleitoral, tem apenas um ano e oito meses para firmar sua imagem de gestor, ou seja, daquele que, tendo Iris Rezende jogado a peteca, não a deixou cair.
Fala-se muito no novo, mas o novo não surge de repente e do nada. Tanto que, no momento, busca-se um “novo” Iris Rezende. Rogério Cruz ainda tem tempo para se tornar o novo Iris Rezende? Sim, tem. Mas não será fácil. Precisará, inclusive, ajustar sua comunicação. Mas quem precisa comunicar mesmo é o prefeito, se apresentando à sociedade, discutindo e resolvendo os problemas da cidade. Ele deveria se espelhar na imagem do presidente Lula da Silva, que, percebendo a força da comunicação moderna, passa a impressão de que é onipresente. Rogério Cruz é simpático (e não basta isto; portanto, precisa ser visto como competente), no contato pessoal, mas tem de ser visto assim pela sociedade. Ele precisa se mostrar e exibir o que está fazendo, de maneira profissional.
Vanderlan Cardoso, ex-prefeito de Senador Canedo

A questão central é que os eleitores de Goiânia estão cobrando para 2024 um candidato que seja gestor, que tenha experiência com administração pública. O senador Vanderlan Cardoso, do PSD (talvez a caminho do PL), é visto como gestor (foi prefeito de Senador Canedo e dirige a empresa Cicopal). Pesquisas sugerem que é bem-visto na capital. Perdeu para dois ícones, Iris Rezende e Maguito Vilela — grandes profissionais da política e da gestão pública, mas, em 2024, o campo estará livre.
Vanderlan Cardoso sabe que, para uma disputa majoritária, não pode se colocar sozinho no processo. Por isso, se for para o PL, poderá contar com o apoio do senador Wilder Morais, do PL.
No momento, Wilder Morais está se aproximando do governador Ronaldo Caiado, de quem é amigo. Porém, o senador sabe que o candidato a governador de Ronaldo Caiado para 2026 será Daniel Vilela, e isto pode definir seu apoio para Vanderlan Cardoso em Goiânia, em 2024.
Vanderlan Cardoso — os políticos dizem “não” ser “confiável” (a rigor, poucos são) — apoiaria Wilder Morais para governador em 2026. Isto, é claro, se Wilder Morais optar pela disputa contra Daniel Vilela, que será uma pedreira, pois o emedebista estará, possivelmente, no governo. (E, claro, há a possibilidade de o próprio Wilder Morais se testar como candidato a prefeito da capital.)
Jânio Darrot: de Trindade para Goiânia

Há um político com perfil de gestor que poderá se colocar em Goiânia. Trata-se de Jânio Darrot, ex-prefeito de Trindade por dois mandatos.
Jânio Darrot é considerado o prefeito que “reinventou” Trindade, acabando com a ideia de “cidade-dormitório” (o mesmo que Vanderlan Cardoso fez em Senador Canedo) e ajustando as contas públicas. Consagrou-se de tal forma que conseguiu fazer o sucessor, o jovem Marden Júnior.
Se conquistar o apoio de Ronaldo Caiado e de Daniel Vilela, Jânio Darrot passa a ser um dos candidatos mais consistentes em Goiânia. Porque, além da imagem de gestor eficiente, terá o apoio de uma ampla base política. Será um grande rival tanto para Rogério Cruz quanto para Vanderlan Cardoso.

Ana Paula Rezende: falta interesse
Comenta-se, nos bastidores, que o governador Ronaldo Caiado e Daniel Vilela gostariam de apoiar Ana Paula Rezende, do MDB, para prefeita. A ressalva é que a filha de Iris Rezende, quando sondada, não demonstra vontade de disputar a prefeitura. Numa eleição majoritária, principalmente para uma cidade do porte de Goiânia — que é um micro Estado, com um orçamento extraordinário —, candidato que hesita, como Ana Paula Rezende, não tem a mínima chance de vencer candidatos persistentes e vocacionados para o poder e para a gestão pública. Como é pouco conhecida, precisa, se quiser concorrer, apresentar sinais positivos de que planeja disputar, desde agora, e não apenas em 2024. Se a base governista esperar muito corre o risco de não ter um candidato consistente e pode assistir um candidato da oposição, como Vanderlan Cardoso, deslanchar. (Diga-se mais: se for eleito em 2024, Vanderlan Cardoso fortalecerá o candidato da oposição ao governo do Estado em 2026.)
Há alternativas, na base governista, a Ana Paula Rezende e Jânio Darrot? Há pelo menos seis nomes: Alexandre Baldy, Bruno Peixoto, Lucas Calil, Pedro Sales, Silvye Alves e Zacharias Calil.
Alexandre Baldy, Bruno Peixoto e Pedro Sales

O presidente do pP em Goiás, Alexandre Baldy, é um nome consistente e tem experiência administrativa, pois foi secretário da Indústria do governo de Goiás, ministro das Cidades e secretário dos Transportes Metropolitanos do governo de São Paulo (administrando um orçamento maior do que o da Prefeitura de Goiânia). Resta saber se conquistará o apoio do MDB e do União Brasil. Baldy poderia ter um integrante do PT na vice? É cedo para saber.
O deputado estadual Bruno Peixoto (União Brasil), próximo presidente da Assembleia Legislativa de Goiás, nasceu em Goiânia e tem 48 anos. A operação para se eleger presidente da Alego mostrou uma expertise política rara. Sua capacidade de agregar tem sido elogiada por deputados da situação e das oposições. Pode ser candidato a prefeito de Goiânia?

Bruno Peixoto foi o deputado estadual mais votado do pleito de 2022, com mais de 70 mil votos. Ele quer ser candidato a prefeito de Goiânia? Claro que quer. Mas, como sabe que não pode ser candidato de si próprio, vai esperar sinalização tanto de Ronaldo Caiado quanto de Daniel Vilela. Se perceber uma “oportunidade” — como percebeu na Assembleia —, o parlamentar se colocará. Sua capacidade de trabalho — seus colegas enfatizam que “não tem preguiça” — é imensa, assinalam até adversários. “Bruno faz política 24 horas por dia”, dizem. Pois Goiânia quer certamente quer isto: um político profissional com espírito de gestor e que queira “crescer” na política do Estado. Porque, se tiver a intenção de “progredir” na política, tende a fazer uma administração qualitativa.

Há também outros quatro bons nomes: Lucas Calil, Pedro Sales, Silvye Alves e Zacharias Calil.
Lucas Calil (MDB) foi reeleito deputado estadual, com excelente votação. É jovem, de Goiânia e tido como “agregador” e “articulado”.
Pedro Sales, secretário de Infraestrutura, já conta com quatro anos de experiência administrativa. A estrutura da Seinfra, se não for maior, aproxima-se da estrutura da Prefeitura de Goiânia. Daqui a um ano e oito meses, Pedro Sales será um gestor ainda mais eficiente e experimentado. É jovem, responsável e decente. Ronaldo Caiado tem apreço pelo golden boy da gestão estadual. Ele figura no time de “administradores”, quer dizer, o de Vanderlan Cardoso, Jânio Darrot, Alexandre Baldy e Edward Madureira.

O médico e deputado federal Zacharias Calil, do União Brasil, é íntegro, responsável, capaz e um verdadeiro humanista. A ressalta é que precisa expandir sua ação política para além da saúde. E necessita se aproximar mais dos políticos, em busca de aliados. Não é impossível, mas é muito difícil outsiders ganharem eleições majoritárias.
Silvye Alves é popularíssima. Porém, como eleição majoritária é muito diferente de eleição proporcional, corre o risco, se for candidata a prefeita, de sair na frente e, como Delegado Waldir Soares, perder a eleição. O mais adequado é adquirir experiência na Câmara dos Deputados, ampliar seu leque de aliados — inclusive usando a eleição de 2024 como uma espécie de “moeda de troca” —, disputar a reeleição em 2026 e, em 2028, disputar um cargo majoritário.
Adriana Accorsi e Edward Madureira

Há espaço para a esquerda em Goiânia? Sim, sobretudo porque há um vazio político na capital. Eleita deputada federal, a quarta mais votada em Goiânia, Adriana Accorsi é o principal nome do presidente Lula da Silva em Goiás. Se o petista-chefe pedir — será uma “ordem”, digamos —, a parlamentar será candidata a prefeita.
Adriana Accorsi disse ao Jornal Opção que não planeja disputar a Prefeitura de Goiânia — já foi derrotada duas vezes — e quer ganhar experiência em Brasília. Ela está certa, até porque precisa abrir espaço para outros políticos na capital, tanto para fortalecê-los quanto para fortalecer o partido. O que se comenta-se no PT é que a jovem política de 49 anos planeja disputar mandato de senadora em 2026.

A principal alternativa a Adriana Accorsi é o ex-reitor da Universidade Federal de Goiás Edward Madureira, primeiro suplente de deputado federal do PT.
O orçamento da UFG é maior do que o de muitas prefeituras de Goiás, o que transforma seu reitor numa espécie de prefeito ou até governador. Portanto, Edward Madureira, reitor por três mandatos, têm experiência como gestor. Ao lado de Antônio Gomide — prefeito de Anápolis por duas vezes —, é o político do PT no Estado com mais experiência em termos administrativos.
Edward Madureira disse ao Jornal Opção que, se tiver o apoio do PT, pode disputar a Prefeitura de Goiânia. É um nome tão consistente quanto o de Adriana Accorsi, e com ampla aceitação na sociedade.

O PSDB pode bancar Aava Santiago, uma política articulada. O difícil é a jovem vereadora ter de carregar o partido, hoje um peso morto. O jornalista Matheus Ribeiro é cotado para disputar mandato de prefeito ou de vereador.
Gustavo Gayer (PL) e Delegado Humberto Teófilo (Patriota) também são lembrados para a disputa. O primeiro recebeu excelente votação para deputado federal (foi o segundo mais votado em Goiânia e em Goiás) e foi eleito. O segundo perdeu a disputa para a Câmara dos Deputados e é cotado para disputar as prefeituras de Goiânia e de Inhumas.