Direitas unidas podem ganhar no 1º turno? Divididas garantem o 2º turno, o que pode ser positivo para Lula
16 agosto 2025 às 21h00

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A eleição para presidente da República em 2026, daqui a um ano e um mês — um pulinho, como se diz lá em Garanhuns, Glicério e Anápolis —, terá uma disputa acirrada entre Lula da Silva, do PT, e um candidato da direita, possivelmente o nome sugerido por Jair Bolsonaro e acatado pelo bolsonarismo.
Mas a polarização pode enfrentar uma dificuldade se a direita lançar de dois a três candidatos a presidente. A tese de união geral no segundo turno, longe de favorecer, pode acabar prejudicando a direita. No momento, as direitas — sim, no plural — têm cinco nomes competitivos: Flávio Bolsonaro, do PL, Ratinho Júnior, do PSD, Romeu Zema, do Novo, Ronaldo Caiado, do União Brasil, e Tarcísio de Freitas, do Republicanos.
É óbvio que as direitas não vão lançar cinco candidatos a presidente. Porque seria contraproducente. Porém, mesmo se lançar dois ou três candidatos, pode não ser positivo.

Porque, com vários candidatos no páreo, todos da mesma corrente ideológica, o eleitorado de direita e centro-direita ficará dividido. Isto, claro, se um deles não deslanchar, como Tarcísio de Freitas ou Ronaldo Caiado.
O presidente Lula da Silva, correndo sozinho entre o eleitorado de esquerda e deve absorver parte do eleitorado de centro — aquele que não aprova a aliança dos Bolsonaros com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump —, pode acabar ganhando no primeiro turno? Não.
Mas pode ir para o segundo turno em primeiro lugar, e com uma frente expressiva. O que obviamente criará uma expectativa de poder para o petista-chefe — o que na reta final, numa campanha curta, pode contar muito e se decisivo.
No momento, Lula da Silva, até pelo contencioso com os Estados Unidos, está relativamente bem. Liderando as pesquisas de intenção de voto. Um dos motivos é que as direitas não têm um pré-candidato, e sim vários — o que divide e até confunde os eleitores.
Se Lula da Silva for para o segundo turno com cerca de 40% a 45% dos votos e o primeiro da direita aparecer com 30% a 35%, a possiblidade do líder red ganhar não é pequena. Repetindo: porque a expectativa de poder estará com ele. Ressaltando que se trabalha, neste momento, com conjecturas, ou seja, especulações a partir do que estão revelando as pesquisas de intenção de voto.
Nomes das direitas para confrontar Lula
Quem, de fato, as direitas poderão lançar para a disputa?
1
Ratinho Júnior

O governador do Paraná, Ratinho Júnior, tem uma eleição garantida para o Senado, de acordo com pesquisa recente. O fato de que poderá não fazer o sucessor sugere que tem votos para si, mas não transfere votos para seus aliados. Falta-lhe, quiçá, liderança. O favorito para o governo é o senador Sergio Fernando Moro (União Brasil), que não é do grupo do gestor estadual.
Ratinho Júnior aparece relativamente bem nas pesquisas de intenção de voto. Mas não se sedimentou como um político nacional. Sua identificação é com os paranaenses, mas não com os brasileiros do restante do país.
Por não ter um perfil autônomo no país, uma identidade fortemente nacional, Ratinho Júnior só seria um candidato forte se obtivesse o apoio exclusivo de Jair Bolsonaro e do bolsonarismo ou bolsonarismos. Porque hoje há o bolsonarismo de Jair Bolsonaro, o mais forte, o bolsonarismo de Eduardo Bolsonaro, o mais radicalizado e avesso a Tarcísio de Freitas, e o bolsonarismo do deputado federal Nicholas Ferreira, ainda incipiente (inicia-se uma disputa pelo “espólio” de Jair Bolsonaro com ele vivo).
Frise-se: Ratinho Júnior diz que será candidato a presidente, o que o fortalece no Paraná. Portanto, se o plano nacional for uma jogada para se cacifar em seu Estado, não está agindo de maneira equivocada.
2
Romeu Zema
De todos das direitas que estão no páreo o mais fragilizado é o governador de Minas Gerais, Romeu Zema. Não porque seja um gestor ruim. Mas porque, além de não ter presença nacional, não tem um discurso de direita sólido. Em termos ideológicos, é o menos associado ao bolsonarismo.

A rigor, Romeu Zema, ao contrário do que sugere, nem pode ser considerado um nome da direita patropi. Ou melhor, deve ser circunscrito à centro-direita. Está tentando se “afastar” do centro, aproximando-se da direita, para tentar cair nas graças do bolsonarismo.
Entretanto, o bolsonarismo não se empolga com Romeu Zema. Diz-se que mineiro nunca é totalmente de direita — nem mesmo o grande Milton Campos e o conspirador-mor Magalhães Pinto. O modelo de Minas Gerais é Tancredo Neves — sempre no centro. Às vezes, em cima do muro.
Se eleito presidente, Romeu Zema manteria o bolsonarismo à margem, mas não inteiramente. Porque o bolsonarismo tende a eleger grandes bancadas tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado.
O próximo presidente — de esquerda ou mesmo de direita — governará sob pressão do bolsonarismo. A direita usará o Congresso, como agora, para criar uma espécie de parlamentarismo. E, repetindo, qualquer que seja a corrente ideológica do gestor.
3
Tarcísio de Freitas
Tarcísio de Freitas é o nome mais apreciado por Jair Bolsonaro, mas, curiosamente, não pelo bolsonarismo. Por enquanto, o bolsonarismo submete-se às ordens de Jair Bolsonaro. Porém, se o ex-presidente for condenado pelo Supremo Tribunal Federal, passando a cumprir pena num presídio, o bolsonarismo, órfão de pai e emancipado, poderá buscar protagonismo.

O grupo de Eduardo Bolsonaro tolera, mas não tem apreço por Tarcísio de Freitas. O governador de São Paulo prefere disputar a reeleição — praticamente garantida, apesar do desgaste recente, por ter se revelado pró-Donald Trump (recuou, mas a imagem ficou — tanto que sua fotografia com o boné do Maga é onipresente na internet) —, mas pode ser empurrado para a disputa presidencial por Jair Bolsonaro.
Conhecido como José de Paris — o eminência parda francês, auxiliar do Cardeal Richelieu —, Gilberto Kassab opera para que Tarcísio de Freitas seja candidato a governador. Mas o que o membro — e não líder — do Republicanos fará? Consta que ouve Kassab com atenção, mas, ao mesmo tempo, segue (obedece) cegamente Jair Bolsonaro.
4
Flávio Bolsonaro

Flávio Bolsonaro é uma opção de Jair Bolsonaro mas não empolga tanto o bolsonarismo, que o considera moderado. O mais provável é que Jair Bolsonaro não coloque seu filho no “fogo” eleitoral que será a disputa de 2026. As histórias pessoais sobre o senador serão retomadas e podem espalhar desgaste para todos os Bolsonaros. (Por sinal, Michelle Bolsonaro definiu-se: irá a senadora pelo Distrito Federal.)
5
Ronaldo Caiado
Ronaldo Caiado é, dos nomes da direita, o de mais presença na política nacional no sentido de ter autonomia e experiência (inclusive no trato com o Parlamento). É ligado a Jair Bolsonaro e tem o apreço do bolsonarismo. Mas não é da direita ocasional. É da direita histórica. Desde 1989, na sua primeira eleição presidencial, reformatou seu discurso, no sentido de evolução, mas não mudou seus princípios.
O que se está dizendo é que Ronaldo Caiado não é um político de direita por causa do bolsonarismo. Por isso se fala que é independente e o que tem um diálogo mais forte com o caráter plural da sociedade.
De todos os nomes apresentados é o que se mostra mais decidido a disputar a Presidência. Ele nunca recuou e não tem dois discursos. Sempre diz que será candidato no plano nacional.
Ronaldo Caiado pode ser o candidato da direita bolsonarista? É possível, ainda que nada esteja decidido. O bolsonarismo sabe que, no poder, o gestor goiano não negociará com a esquerda e, por isso, fará um governo diferente — liberal na economia e duro na segurança pública, por exemplo.

Se, sob pressão de Jair Bolsonaro, o bolsonarismo bancar Tarcísio de Freitas para presidente, como ficará a situação de Ronaldo Caiado? A tendência é que também seja candidato — até porque parte do eleitorado da direita não acompanhará o governador de São Paulo e o centro ficará dividido, quem sabe, em busca de um nome como o do goiano, um político equilibrado, sensato e posicionado.
Se as direitas lançarem Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado, há a possibilidade também de mais um nome entrar na disputa, quer dizer, Ratinho Júnior ou Romeu Zema podem acabar colocando seus nomes.
É provável que, pensando na possibilidade de segundo turno — contra Lula da Silva, claro —, as direitas lancem vários candidatos. O que, repetindo, poderá não ser positivo.
A ideia das direitas é esta, ao menos no momento: união no segundo turno. Mas, como se sabe, a campanha do primeiro turno gera desgaste e, por vezes, ataques contundentes. Uma disputa acirrada entre os candidatos das direitas, ainda no primeiro turno, poderá prejudicar uma aliança verdadeira — presencial, por assim dizer — no segundo turno.
Uma aliança global das direitas no primeiro turno representa um risco — gigantesco — para Lula da Silva. Porque a disputa pode ser decidida no primeiro turno. As direitas, se unidas, têm chance de liquidar a fatura já na etapa inicial do pleito.
Na música “Dança da Solidão”, Paulinho do Vale canta e encanta: “Meu pai sempre me dizia/ Meu filho tome cuidado/ Quando eu penso no futuro/ Não esqueço o meu passado”. Portanto, convém relembrar o resultado da eleição de 2002, há quase três anos.
Lula da Silva foi eleito presidente com 50,90% dos votos válidos (60.345.999) e Jair Bolsonaro obteve 49,10% (58.206.354 votos). Como se diz em Araxá, Jandaia do Sul e Rio de Janeiro, a vitória se deu por um beicinho de pulga.
O quadro de 2026 poderá não ser muito diferente do de 2022, com a ressalva de que Lula da Silva, altamente profissional, estará no poder. Mas é possível sugerir que o próximo presidente — da esquerda ou da direita — poderá ser eleito no primeiro turno, num quadro de polarização. Mas, se a direita lançar vários candidatos, a disputa irá para o segundo turno. Com o petista, quem sabe, robustecido.
