Debate, economia e segurança podem levar Caiado a se tornar o mais competitivo rival de Lula
04 outubro 2025 às 21h00

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Por que Tarcísio de Freitas, do Republicanos, receia tanto enfrentar Lula da Silva, do PT? É uma pergunta difícil de responder com precisão.
Mas uma coisa é certa: o engenheiro Tarcísio de Freitas ganhou uma eleição, para governador do Estado mais rico e poderoso do Brasil — com PIB superior ao de vários países —, São Paulo, mas permanece muito mais como gestor do que como político.
Comenta-se que São Paulo tem dois governadores. O formal cuida da gestão — das obras, das finanças. Trata-se de Tarcísio de Freitas. O informal, Gilberto Kassab, presidente do PSD, opera a parte política.
Gilberto Kassab lida com prefeitos, deputados, senadores. É uma espécie de primeiro-ministro. Assim, libera Tarcísio de Freitas para melhorar e ampliar a infraestrutura do Estado.

Na política nacional, o operador político é ou era Jair Bolsonaro. Em prisão domiciliar, sem poder articular nos Estados, o ex-presidente tem visto Tarcísio de Freitas desabar política e “psiquicamente”. O gestor de São Paulo parece abalado e com receio de disputar a Presidência da República contra um profissional como o presidente Lula da Silva.
O funil da política é estreito e Tarcísio de Freitas sabe que foi eleito governador de São Paulo por acaso, ou melhor, dada a força de Jair Bolsonaro e do bolsonarismo.
A eleição mais fácil para Tarcísio de Freitas é a do governo de São Paulo. Já uma disputa nacional, que exige que o candidato circule por todo o país e converse com as lideranças de todos os Estados, exige um político profissional, que saiba dialogar e articular.
Em São Paulo o bolsonarismo articulou a campanha do, em 2022, quase desconhecido Tarcísio de Freitas. Mas articular em todos os Estados, num país de ampla diversidade, não é uma tarefa fácil. É missão para profissionais da política.

Tarcísio de Freitas é o típico gestor que, por acaso, se tornou político. Porém, a rigor, político não é. É um simulacro. Inclusive não tem a mínima vontade de se tornar um político profissional como Lula da Silva, Jair Bolsonaro e Ronaldo Caiado.
Por não ser político, no sentido tradicional, Tarcísio de Freitas espera que os políticos o carreguem, como em 2022. O governador de São Paulo precisa de Jair Bolsonaro, Valdemar Costa Neto e, entre outros, de Gilberto Kassab. Ele fica de longe, numa posição tipicamente asséptica.
Mas, para disputar a Presidência da República, e ainda mais contra um profissional da estirpe de Lula da Silva, é preciso muito mais do que ser meramente gestor. É preciso pôr a mão na massa e circular por todo o país para conversar com políticos, empresários e populares.
Tarcísio “arma” o marketing de Lula
Há o problema das bandeiras. A da segurança, por exemplo. No momento em que Lula da Silva começa a operar na área de segurança, São Paulo explode em insegurança, com o Primeiro Comando da Capital (PCC) “governando” o Estado, juntamente com Tarcísio de Freitas. A máfia tropical já pode até mudar de nome. O mais adequado é Primeiro Comando do Estado (PCE).

Parte substancial da Polícia Militar de São Paulo está altamente contaminada pelo PCC. Tarcísio de Freitas faz discurso “duro” e os artífices da máfia patropi não se importam. Porque sabem que contam com a proteção em parte da PM e, quem sabe, da Polícia Civil.
O fato é que as palavras de Tarcísio de Freitas não surtem nenhum efeito quando se trata do PCC. A máfia brasileira, ligada à italiana ‘Ndrangheta, não se sente “ameaçada” pelo aparato policial do governo de São Paulo.
Ao perceber a, digamos, “moleza” do governo de Tarcísio de Freitas, Lula da Silva, por meio do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, colocou a Polícia Federal para atuar em São Paulo. O que, ante a ineficiência do governo paulista, é mesmo necessário.
Noutras palavras, a inoperância de Tarcísio de Freitas, no combate ao crime organizado, está “armando” o marketing eleitoral de Lula da Silva para 2026.

O timing político de Lula da Silva é preciso — daí o repentino interesse pela segurança pública. Noutras palavras, o petista-chefe está tentando tomar uma pauta que não é e nunca foi sua.
Quem está entregando a pauta para Lula da Silva é Tarcísio de Freitas, que, com sua obsessão por infraestrutura, não gere, de maneira adequada, o combate ao crime organizado e à criminalidade em geral. Ele faz o que os governos do PT faziam (a rigor, ainda fazem), ou seja, vai levando o problema com a barriga, procrastinando o combate sistemático à violência.
O “dono” da pauta da segurança
Se Tarcísio de Freitas está “perdendo” a pauta da segurança — que, ao lado do crescimento da economia, tende a ser a principal bandeira de 2026 — para Lula da Silva, ao menos um pré-candidato a presidente, Ronaldo Caiado, do União Brasil, não está.
Se São Paulo se tornou a central que distribui o crime pelo país, Ronaldo Caiado se tornou o exemplo de governador que soube formular uma política de segurança pública bem-sucedida.
Frise-se: o crime organizado não está inteiramente fora de Goiás, porque isto é impossível, sobretudo porque a central do crime, São Paulo, não para de distribuir criminosos altamente periculosos pelo país afora. Mas no Estado governado por Ronaldo Caiado o crime organizado está contido e sob pressão.
Para ilustrar o que se está dizendo vale o registro da história de Wallace, que, carioca, mudou-se para Goiânia há três anos. O motorista de aplicativo conta que o Rio de Janeiro se tornou uma espécie de “inferno”.
“Lá, além da criminalidade comum, há o império do crime organizado. Quando me mudei para Goiânia, com mulher e um filho, fiquei impressionado. Não pensava que num Estado se pudesse ter tamanha segurança e tranquilidade”, assinala Wallace, da Uber.
“No Rio, onde meu pai foi morto dentro de uma igreja — ‘uma bala perdida o encontrou’ —, eu jamais teria coragem de ser motorista de aplicativo. Além da violência em si, a sensação de insegurança é absoluta no Rio. É mais terrível que que se pensa. Em Goiás, ando na rua à noite e nunca fui assaltado. Tenho uma sensação de paz imensa. Eu e minha família saímos direto do ‘inferno’ para o ‘céu’”, diz Wallace.
Há ao menos quatro razões para a contenção do crime organizado em Goiás.
Primeiro, uma política de segurança moderna, dura e eficaz.
Segundo, as polícias do Estado, a Militar e a Civil, não estão contaminadas pelas máfias PCC e Comando Vermelho.
Terceiro, as polícias têm o apoio do governo para agir com firmeza.
Quarto, as polícias usam sistemas de Inteligência altamente funcionais e, portanto, preventivos. Muitas vezes, antes de cometer o crime, os mafiosos são presos e desarticulados.
A pauta da “segurança que funciona”, com exemplos práticos, é de Ronaldo Caiado — não é do presidente Lula da Silva. Com habilidade, o petista-chefe está tentando se apropriar da pauta, mas esquecendo que precisa atuar não apenas em São Paulo, e sim em todo o país.
Crescimento, debates e propaganda

Política é conjuntura e os dados sugerem que o Brasil tende a crescer menos em 2026. Se for assim, a situação de Lula da Silva — na circunstância surfando nas melhores ondas da soberania devido à rivalidade com os Estados Unidos — pode não ser a mesma de 2025.
Inflação relativamente baixa mas sem crescimento tende a desagradar a população. No momento, os sinais são positivos para Lula da Silva. Mas não se sabe como será no próximo ano.
O sucesso na defesa da soberania, se ela não continuar sendo ameaçada por Donald Trump, pode esmaecer em 2026. Porém, se o presidente dos Estados Unidos persistir no ataque, o petista-chefe só terá a agradecê-lo. Eduardo Bolsonaro tem sido o principal general eleitoral do presidente red.
O grande lance de 2026, ao lado do crescimento da economia e da segurança pública, serão, por certo, os debates e a propaganda política na televisão.
Tarcísio de Freitas, Ratinho Júnior e Romeu Zema não ssão páreos para Lula da Silva — um dos políticos mais experimentados do país. Mas Ronaldo Caiado tem discurso, fala bem e tem o que mostrar.
Num debate, dos quatro nomes das direitas, Ronaldo Caiado talvez seja o único que oferece risco para Lula da Silva. Os dois, além de gestores, são políticos e debatedores com larga experiência. A firmeza do político goiano pode desconcertar o político de Pernambuco que se fez em São Paulo. Em termos de segurança pública, o presidente enfrentará um oponente que dirá não só o que poderá fazer, e sim, sobretudo, o que já fez e está fazendo.
Então, se Tarcísio de Freitas estiver realmente saindo do páreo — os profissionais da política acreditam que se trata de uma estratégia, e não de uma decisão definitiva —, que ninguém se surpreenda se, dada sua capacidade de formulação, Ronaldo Caiado ocupar o espaço e se firmar como o nome das direitas para a disputa presidencial de 2026, daqui a um ano.
