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Há políticos que, de tão excessivos, se atropelam e acabam por ter voo de pato. Costuma-se sublinhar que há “fila” em política e, por incrível que possa parecer à ciência política, há mesmo.

Em 2022, o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia Gustavo Mendanha (então no Patriotas) tentou “furar” a fila e decidiu disputar o governo do Estado. Dada sua militância no MDB, histórica — porque até familiar —, esperava-se que apoiasse a aliança do governador Ronaldo Caiado, do União Brasil, com o presidente do MDB, Daniel Vilela, candidato a vice.

Furando a fila, sem contar com uma estrutura política ampla e sedimentada, Gustavo Mendanha se lançou candidato a governador e ficou em segundo lugar, com apenas 25,20% dos votos.

A chapa de Ronaldo Caiado e Daniel Vilela foi eleita, com 51,81% dos votos, no primeiro turno.

O bolsonarismo bancou a candidatura de Major Vitor Hugo (PL), que obteve 14,81% dos votos. A onda bolsonarista deu-lhe um caldo.

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Gustavo Mendanha: equivocou-se ao não perceber a fila em 2022? | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Gustavo Mendanha, Major Vitor Hugo e Wolmir Amado (PT) não eram candidatos ruins; pelo contrário, era bons e representativos. Mas o governo de Ronaldo Caiado não tinha desgaste, ou seja, fadiga de material.

Ronaldo Caiado soube também reforçar sua aliança, ao atrair o MDB de Daniel Vilela — o partido mais tradicional e longevo de Goiás. O governador já era eleitoralmente consistente, dado o fato de fazer um governo competente e íntegro — com sucessos perceptíveis na segurança pública, na educação e no social —, e se tornou ainda mais forte ao conquistar o apoio do emedebismo.

Político hábil, ao conquistar o apoio do MDB de Daniel Vilela, Ronaldo Caiado fracionou as oposições. O que Gustavo Mendanha, com a ânsia dos políticos mais jovens, não soube perceber. O bolsonarismo, avaliando que se bastava, seguiu pela mesma seara.

Ao buscar compor com o MDB de Daniel Vilela, Ronaldo Caiado não pensava apenas na disputa de 2022. Já estava de olho na disputa de 2026. Noutras palavras, articulava a sucessão seguinte — o que prova que se trata de um estrategista político.

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Ronaldo Caiado adotou um governo colegiado | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Por isso, como vice de 2022, Daniel Vilela começava a ser preparado por Ronaldo Caiado para ser o governador de 2026, entre abril e dezembro, e também, no caso de vitória, entre 2027 e 2030.

A largada para a sucessão de 2026 se deu, portanto, em 2022 — o que alguns não puderam ou não quiseram perceber. O desenho político, dada sua simplicidade e eficiência, parece ter passado batido para alguns, talvez para muitos.

Um governo e dois gestores

Ao assumir o segundo mandato, em 2023, Ronaldo Caiado abriu as portas para o vice-governador Daniel Vilela. Há, por assim dizer, uma gestão compartilhada — o que se acentuou em 2025.

Daniel Vilela tem forte atividade no governo, atuando com firmeza ao lado de Ronaldo Caiado. Trabalha muito. É um dos operadores das ações do governo. Pode-se falar em um governo e dois gestores. Porém, se mantém relativamente discreto. Por quê? Porque sabe que, apesar da boa vontade do aliado, o governo não é seu, e sim de Ronaldo Caiado.

Os Vilelas têm história — positiva — e não chegaram ontem à política.

Marconi Perillo: quatro vezes governador de Goiás | Foto: Divulgação

Maguito Vilela (1949-2021), pai de Daniel Vilela, foi vereador em Jataí, deputado estadual, deputado federal (constituinte), vice-governador, governador de Goiás, senador, vice-presidente do Banco do Brasil, prefeito de Aparecida de Goiânia e foi eleito prefeito de Goiânia. Uma grande trajetória, portanto. Sua aprovação como governador, de acordo com o Datafolha, passava de 90%.

Daniel Vilela segue a rota — o roteiro — do pai. Aos 41 anos, foi vereador em Goiânia, deputado estadual, deputado federal, candidato a governador, é vice-governador e será governador de Goiás entre abril e dezembro de 2026. Tem uma trajetória. Apesar de jovem, não é neófito, não é amador. É um profissional da política, no sentido positivo sugerido por Max Weber, o maior sociólogo alemão (autor do seminal “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”).

Por ser um político maduro, Daniel Vilela não excede nem arromba portas abertas. Por isso participa ativamente do governo, mas não se apresenta como o “segundo” governador.

Aqueles que o interpretam equivocadamente — ou com má-fé de matiz político — dizem que é “tímido” e “não muito vinculado ao povo” (na verdade, é popular e de fácil convívio com populares).

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Wilder Morais: senador pelo PL | Foto: Jornal Opção

Na verdade, Daniel Vilela não é tímido; pelo contrário, é ousado. Mas, de fato, é reservado e discreto. Porque, repetindo, aceita o óbvio: o governador é Ronaldo Caiado, não ele. Cada no seu espaço e no seu tempo.

Nas atividades do governo e encontros com líderes, Daniel Vilela se comporta, não como distante do povo, e sim como um político que respeita o líder principal; no caso, Ronaldo Caiado. Porque sabe que o espaço para brilhar é sobretudo do governador.

Então, o que parece timidez e distanciamento é, na real, outra coisa: respeito a Ronaldo Caiado, ao líder político.

Ao entender que o principal lugar no palco é de Ronaldo Caiado, e não dele, Daniel Vilela mostra maturidade — o que, mesmo em políticos experimentados, é raro.

Aos poucos, dada a iminência da disputa eleitoral de 2026 — daqui a um ano —, quando será candidato a governador, com o apoio de Ronaldo Caiado, Daniel Vilela está se apresentando mais.

Major Vitor Hugo: isolado em 2022, ficou em terceiro lugar | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Com profunda sinergia com Ronaldo Caiado, Daniel Vilela está ampliando os contatos com líderes políticos de todo o Estado — dialogando diretamente com eles, em suas cidades e em Goiânia — e com os segmentos organizados da sociedade.

Os que conversam com Daniel Vilela, em todo o Estado, sempre dizem a mesma coisa. Trata-se de um jovem maduro, tolerante e que sabe e gosta de ouvir. Ressaltam que é ponderado e vocacionado para a liderança política. Frisam que têm conteúdo e que sabe tudo sobre a gestão do Estado. A sociedade aprova, de cara, ao saber que será tão firme na segurança pública quanto Ronaldo Caiado. O jovem político é firme, duro.

Paciente e calmo, Daniel Vilela não interrompe seus interlocutores. Permite que expressem todo o seu pensamento e só então se posiciona, concordando ou discordando.

Os que examinam o currículo pessoal e político de Daniel Vilela ressaltam sua integridade pessoal. Michel Temer, presidente da República quando Daniel Vilela era deputado federal, sublinhava sua capacidade — competência — operacional no Congresso. Aglutinava e liderava ao mesmo tempo.  

Daniel Vilela, Maguito Vilela e Iris Rezende: tradição positiva em Goiás | Foto: Jornal Opção

O caráter moderno de um político está vinculado não a palavras pomposas, e sim às suas ações, posições, comportamento. Por isso, Daniel Vilela não é exceder nas palavras. É sempre comedido e preciso.

Quem será a renovação em 2026?

As oposições têm o hábito — natural — de se apresentarem como símbolos da renovação. Mas quem de fato pode ser apresentado como renovação em 2026?

O tucano Marconi Perillo governou Goiás por 16 anos, em quatro mandatos. Então, o que poderá dizer aos goianos? Irá falar do passado ou do que vai fazer? E por que não fez o que gostaria de fazer em dezesseis anos? A rigor, portanto, não simboliza nenhuma renovação, e sim uma volta, nostálgica, ao passado.

O senador Wilder Morais, do PL, será candidato? Ninguém acredita que sim… nem ele mesmo, quem sabe. Mas, se quiser disputar, é um direito. Quais são suas ideias? O que já fez por Goiás? Deu mais ao Estado ou o Estado deu mais aos seus negócios? Como diz um membro do Partido Liberal, “é um candidato para chegar em terceiro ou quarto lugar” — atrás de Daniel Vilela, de Marconi Perillo e, até, do postulante do PT.

O ciclo atual é de Ronaldo Caiado e Daniel Vilela. Ou seja, o presidente da MDB será o candidato do governismo. Isto quer dizer que não será o candidato da renovação? Pelo contrário, tudo indica que, tanto pela idade quanto pela história pessoal e métodos políticos, tende a representar muito mais a renovação do que seus possíveis adversários. O novo pode surgir da tradição renovadora, às vezes, e não da mise-en-scène do passadismo com cores supostamente modernizantes.

Há velhos que são muito velhos e há jovens que nasceram velhos — inclusive nos métodos e conceitos políticos e administrativos. Daniel Vilela exala juventude como indivíduo e político. É um homem do presente preparado para gerir o presente e o futuro. Não é um homem do passado operando para levar Goiás e os goianos para o passado. Não é dado a picuinhas e mesquinharias. Pensa grande. Este é o Daniel Vilela real.

O MDB pode voltar ao poder depois de ter sido derrotado em 1998 — há 28 anos (contando entre 1998 e 2026) — por Marconi Perillo.