Ciro Nogueira quer escalar o titular dos outros, Tarcísio, e não o titular de seu time, Ronaldo Caiado

11 outubro 2025 às 21h00

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Vice-presidente de Fernando Henrique Cardoso por dois mandatos, Marco Maciel (1940-2021) era um político discreto e entendia como poucos a liturgia do poder. Não incomodou o titular durante anos. Homens de cultura, os dois se davam bem. O pernambucano era um grande leitor, um sábio.
Marco Maciel apreciava dizer que “time que não joga não tem torcida”. Verdadeira, a frase tem a ver com política. O ex-senador disse, de maneira metafórica, que partido político precisa lançar candidatos. Para ter militantes e eleitores.
Neste momento, o União Brasil tem um pré-candidato a presidente da República. Trata-se do governador de Goiás, Ronaldo Caiado.

Dos postulantes da direita — da centro-direita — é, sem dúvida, o mais qualificado. Tanto em termos de gestão quanto politicamente. É o mais experimentado.
Não se está sugerindo que Ratinho Júnior (PSD), Romeu Zema (Novo) e Tarcísio de Freitas são políticos e gestores ruins. Porque não são. O que se está dizendo é que não têm a experiência de Ronaldo Caiado. Para tempos turbulentos, o político goiano é o mais maduro e, certamente, capaz de uma pacificação democrática no país.
Se enfrentar o presidente Lula da Silva, do PT, com um candidato “amador” — e pouco experimentado na arte do debate —, a direita tende a ser derrotada.
O passado do União Brasil, antes do PSL
Antes de continuar o comentário a respeito do quadro atual, voltemos um pouco ao passado do União Brasil.
O União Brasil, partido que resultou da fusão entre Democratas e PSL — ex-partido de Jair Bolsonaro —, perdeu substância ideológica. O espírito fisiológico que vigia no Partido Social Liberal está, no momento, minando e corroendo o UB.
O Partido da Frente Liberal (PFL), pai do DEM, foi criado em 1985 — há 40 anos. Entre seus integrantes, ao longo do tempo, estavam Alceni Guerra, Antonio Carlos Magalhães (ACM), Aureliano Chaves, César Maia, Cláudio Lembro, Guilherme Palmeira (irmão de Vladimir Palmeira), Jorge Bornhausen, Luiz Eduardo Magalhães, Marco Maciel, Roberto Magalhães, Ronaldo Caiado e Vilmar Rocha.
Por divergência ideológica, pode-se não apreciar os políticos da lista acima. Mas não se pode dizer que são ruins. São políticos substantivos. Muitos deles liberais de alta qualidade.
Em 2007, o PFL ganhou novo nome — Democratas. DEM, como era mais conhecido. Muitos dos políticos arrolados acima continuaram no partido.
O nome diz tudo: o DEM era um partido democrata, avesso a golpes. Não era de esquerda, e sim de direita, com integrantes também do centro. O que gestou um forte partido de centro-direita.
Filho problemático do DEM e do PSL
Em 2021, com a intenção de criar um partido ainda mais forte, para confrontar com o PT, líderes do Democratas de Ronaldo Caiado e ACM Neto e do PSL de Luciano Bivar e Antonio Rueda se uniram para criar o União Brasil.
Em termos de quantidade — número de parlamentares no Congresso e gestores em todo o país —, o União Brasil se tornou um partido forte. O rival adequado, na direita, para o PT, na esquerda.
Consta que, certa vez, Albert Einstein teria sido abordado por uma atriz. Ela teria sugerido, não se sabe se a sério, que os dois tivessem um filho, que nasceria com a inteligência do físico e a beleza da jovem. O alemão teria dito mais ou menos assim: “Não quero. Porque o menino pode nascer com minha feiura e com sua burrice”. Talvez seja uma lenda, e até machista.
Pois o casamento entre o Democratas e o PSL gerou um filho, digamos, problemático. O Democratas ficou um pouco com a cara do PSL — retirando as exceções de praxe —, mas o PSL não ficou com a cara do Democratas.
Não se pode dizer que, como um todo, o União Brasil se tornou um partido fisiológico. Mas parte “grudou” no governo de Lula da Silva e, de lá, não quer sair — dados os cargos e, quem sabe, prebendas.
Mesmo ideologicamente muito diferente do PT, o União Brasil — parte, insista-se — se “casou” com o governo de Lula da Silva. Ganhou quatro ministérios (trata-se do “rapto dos Sabinos” pelo petismo).
Há outro União Brasil, o de Ronaldo Caiado, que, a rigor, é uma retomada do PFL e do DEM. Uma retomada com avanço.
Federação regressiva ou progressiva?

O União Brasil, mesmo forte em todo o país, optou por uma federação com o Progressistas (que os jornalistas insistem em chamar de PP, quando o certo é pP, porque não há a palavra partido no seu nome; por isso, o ideal é que o p inicial seja grafado com minúscula. Afinal, o UB não é PUB).
O objetivo da federação entre União Brasil e pP era criar uma coalisão poderosa para lançar um candidato a presidente com condições de vencer Lula da Silva.
Porém, o pP, presidido pelo senador Ciro Nogueira — que aparece em terceiro lugar para a reeleição no Piauí —, decidiu negociar, por si só, com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Com dificuldade para se eleger no Piauí, Ciro Nogueira quer ser vice de Tarcísio de Freitas, do Republicanos, na disputa pela Presidência da República. Mesmo sabendo que a federação União Brasil & pP tem um pré-candidato a presidente, Ronaldo Caiado, o senador nordestino decidiu negociar com o bolsonarismo (que, por sinal, o tem rejeitado publicamente).
Ocorre que, ao tentar negociar a federação, Ciro Nogueira — que já apoiou, alegremente, Lula da Silva em tempos idos —, não planeja levar tão-somente o seu pP, mas também o União Brasil. Pois os dois partidos estão “amarrados”.
Noutras palavras, Ciro Nogueira quer decidir pelo pP e pelo União Brasil, mas sem consultar líderes do UB como Ronaldo Caiado e ACM Neto. Tudo indica que planeja “vender” a federação para o bolsonarismo. Se o União Brasil aceitar isto, estará deixando de ser um partido para ser “cauda” do pP. Por isso talvez tenha chegado a hora de o UB sair da federação por discordâncias insanáveis.
Tarcísio de Freitas tem dito que não será candidato a presidente da República, e sim à reeleição em São Paulo. Mesmo sob pressão de Jair Bolsonaro, o governador receia enfrentar o altamente profissional Lula da Silva. Talvez por avaliar que não tem condições de enfrentar o petista-chefe nos debates. E a popularidade do presidente está em alta.
Ainda assim, Ciro Nogueira acredita — teria alguma informação privilegiada — que Tarcísio de Freitas será candidato a presidente. Por isso, desde já, se apresenta como seu vice. Para tanto está “vendendo”, no mercado persa da política, dois partidos, o pP, “seu”, e o União Brasil, que é dos outros.
Mas o União Brasil tem candidato presidente, Ronaldo Caiado — um político que tem história (várias vezes deputado federal e senador, com amplo destaque em Brasília, e governador no segundo mandato).
Se tem estrutura (muito dinheiro do fundo eleitoral, tempo de televisão altamente adequado), está enraizada em todo o país, porque a federação UB & pP não lança seu próprio candidato, Ronaldo Caiado. Por que Ciro Nogueira não quer? Mas o senador é dono do UB? Não é, claro.
Ronaldo Caiado tem discurso e, sobretudo, tem o governo de Goiás, bem-sucedido, para mostrar ao país. Diz-se que o tema segurança vai prevalecer na disputa para presidente em 2025. Pois, em termos de segurança, o gestor goiano é considerado o melhor do país. Um exemplo para os demais governadores e Estados.
Então, por que não apoiar o que tem valor? É difícil de entender. A decência de Ronaldo Caiado incomoda Ciro Nogueira — suposto “amigo” da turma da CBF e dos “tigrinhos” (de acordo com a revista “Piauí”? A sua fama de gestor e político sério talvez esteja assustando os veteranos-atletas do fisiologismo.