Bolsonarismo pode perder para Lula e derrotar as direitas
18 outubro 2025 às 21h00

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As esquerdas e o PT do Lula
No Brasil se fala em esquerda — PT e apêndices — e direitas, que vão muito além do campo dominante, o bolsonarista.
A hegemonia do PT — sobretudo do presidente Lula da Silva (por isso se diz “o PT do Lula”) — é tão ampla e invasiva que não se pode falar em esquerdas, pelo menos em termos de disputa para gerir a República.

PSB de Carlos Siqueira, PDT de Carlos Lupi e PC do B de Luciana Santos têm história e, por isso, merecem respeito. Porém, se tornaram, quando se trata de disputa para presidente da República, apêndices do PT de Lula da Silva. São partidos eleitoralmente “subordinados”.
Então, quando se fala de esquerda, está se tratando do PT de Lula da Silva.
Extrema direita e direita de centro
No campo da direita, ocorre o oposto. Pode-se falar em “direitas” e não apenas em “direita”.
Há uma direita que se tornou extrema, radicalizada em tempo integral — trata-se da bolsonarista (por sinal, conectada à direita fisiológica, a de Valdemar Costa Neto e Ciro Nogueira) —, e há, por assim dizer, uma direita de centro.
A direita de centro é moderada, democrática e não é radical. É liberal. Professa, no mais das vezes, uma espécie de social-liberalismo. O que parece contraditório, mas não é. Porque há no Brasil uma “geração” que ficou para trás — os superpobres — que, apesar dos vários programas sociais federais e estaduais, não foram incluídos à sociedade.

Não adianta a retórica de que é preciso “dar a vara para que possam aprender a pescar”. Os superpobres, derivados do período escravocrata, precisam do amparo do Estado. Gestores liberais, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), têm plena consciência do fato. Por isso, também adotam programas de assistência e inclusão.
A direita de centro — e é preciso não confundi-la com o Centrão (o senador Ciro Nogueira teria dito que pertence ao Partido do Governo, o PG) — inclui Ronaldo Caiado e os governadores do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).
O leitor por certo estranhará a presenta de Tarcísio de Freitas na lista dos integrantes da direita de centro. Porque, a rigor, se trata de um político construído pelo bolsonarismo. Ele seria o “pibe” de ouro do ex-presidente Jair Bolsonaro.

De fato, a subserviência de Tarcísio de Freitas o leva se mostrar um político hesitante. Certamente, pertence à direita de centro. Porém, sob pressão do bolsonarismo — e, quem sabe, de Jair Bolsonaro —, comporta-se, supostamente surtado, como integrante da extrema direita.
Tarcísio de Freitas deixa a impressão de um político “fora do eixo”. De manhã, parece democrata, e talvez seja. Porém, à tarde, sobretudo se conversar com bolsonaristas, se apresenta como direitista empedernido, atacando, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal. À noite, depois de “conversar” com Gilberto “José de Paris” Kassab, o eminência parda, reassume o papel de moderado.
Qual é o Tarcísio de Freitas verdadeiro? Não se sabe. No livro “Os Mímicos”, o Nobel de Literatura V. S. Naipaul — autor que agrada à direita — escreveu que só o poder revela o político. O que, se eleito presidente da República, o jovem engenheiro se tornaria? Um Jair Bolsonaro mignon? Não dá para saber. Pois, se há o ovo, a serpente ainda não nasceu.
Conjuntura, campanha e segurança
O Jornal Opção sempre insiste que política é conjuntura. Ontem, há pouquíssimo tempo, Lula da Silva estava derretendo. Hoje, o petista-chefe é o favorito para a disputa de 2026 — daqui a 11 meses e alguns dias. Um pulinho, como se diz em Anápolis e Garanhuns.

Lula da Silva caiu e se levantou. Pode cair de novo? Os dados atuais não indicam queda. Mas a conjuntura muda muito rápido.
O que se pode sugerir é que Lula da Silva pode melhorar ainda mais, tornando-se imbatível — com a possibilidade de ganhar no primeiro turno, numa disputa polarizada —, ou, ante novos problemas, perder substância.
A conjuntura inclui problemas na economia — inflação e crescimento baixo (o que pode reduzir a capacidade de consumo, o que abala a classe média e o mercado) — e a campanha política. Uma campanha dura — por exemplo, com um candidato conseguindo convencer os eleitores de que poderá resolver o problema da segurança pública — pode mudar o quadro. Note-se o uso de “pode”. Não se está dizendo que “vai”, e sim que é possível.
Bolsonarismo trava a direita de centro
O bolsonarismo, a direita extrema, trava, de alguma maneira, a ascensão da direita de centro. Porque conecta-se com o eleitorado — gigantesco — que, radicalizado, rejeita o PT e a esquerda. Tal eleitorado “comprou” o discurso bolsonarista e o segue, dia a dia, a partir de imensa rede de postagens criada desde 2018, azeitada entre 2019 e 2022 e não desmobilizada a partir de 2023.

Por ser eleitoralmente forte — não se deve anunciar sua morte, porque está vivo, até vivíssimo —, o bolsonarismo avalia que se basta, que não precisa dos setores moderados e “civilizados” da sociedade. Aliás, aceita-os, desde que se submetem ao ideário bolsonarista.
O bolsonarismo não tem eleitorado para derrotar Lula da Silva. Tanto que perdeu em 2022 quando Jair Bolsonaro era o presidente da República. Fora do poder, com menos influência em áreas infensas ao discurso ideológico — e amplamente atendidas pelo governo federal —, o bolsonarismo terá, em 2026, ainda mais dificuldade para enfrentar um profissional como o petista-chefe. O poder, em termos político-eleitorais, opera milagres.
Entretanto, no lugar de combinar com os russos — os eleitores e lideranças da direita de centro e do centro —, o bolsonarismo promove ataques frequentes aos políticos que, mesmo próximos, não se submetem aos seus ditames.
Lula da Silva não é imbatível — ninguém é. Porém, no momento, é. E caminha para se tornar ainda mais forte. Tanto que parte da direita de centro planeja acompanhar seu projeto político-eleitoral para 2026. E, se melhorar ainda mais a imagem, pode atrair apoios mais amplos — o que pode esvaziar as direitas.
Qual é, afinal, a tática e a estratégia do bolsonarismo? Parece que é perder para Lula da Silva. Tanto que, ao apoiar a o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Eduardo Bolsonaro, Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas (recuou, tardiamente) deram discurso ao petista-chefe, que se cristalizou como defensor do país e dos empresários e produtores rurais.
O projeto do bolsonarismo é “salvar” Jair Bolsonaro e “enterrar” as direitas. Mas como salvar o que não tem salvação?
A direita de centro — Ronaldo Caiado, Romeu Zema e Ratinho Júnior — não ficaram contra o país na questão do tarifaço. O que mostra diferença de fundo entre ela e o bolsonarismo.
O bolsonarismo é, insistamos, forte. Até muito forte. Mas, se perder para Lula da Silva — até por falta de conexão com a direita de centro —, poderá contribuir para “enterrar” as direitas… por longo tempo.
Então, uma derrota para Lula da Silva — cada vez mais possível — pode enfraquecer as direitas. Se o petista-chefe for reeleito, seu próximo governo será, por certo, de aglutinação das forças políticas. O líder red — de esquerda, mas não comunista —, se pensar na sucessão, em 2030, vai atrair o centrão para o quarto governo, com o objetivo de esvaziar mais direitas.
Por que Fernando Haddad não quer deixar o Ministério da Fazenda para disputar mandato de senador em São Paulo? Porque planeja ficar oito anos no poder (como ministro), em termos federais, para disputar a sucessão de Lula da Silva, em 2030.
O PT de Lula da Silva está procurando conectar 2026 com 2030. Já a direita radical, a bolsonarista, discursa para seu eleitorado, e não para o país — o que pode enterrá-la.
A direita de centro, para escapar de ser levada no mesmo caixão, precisa ficar atenta às razões do recente sucesso de Lula da Silva — derivado de medidas de apoio às classes médias e aos pobres, e não apenas do tarifaço de Trump — e criar um discurso para o país. Para além das ideologias.
