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Cada eleição tem sua história específica e, portanto, exige um novo tipo de aliança. O governante que estiver no poder há oito anos — o que gera desgaste — e planeja eleger seu sucessor terá de ampliar a aliança política, atraindo adversários (ex-aliados ou não), com o objetivo de enfraquecer aquele que vai enfrentar seu candidato.

Veja-se a ação do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do União Brasil, e do vice-governador Daniel Vilela, do MDB. Mal terminou a eleição de 2022, com uma vitória consagradora, os dois começaram a articular politicamente. Eles planejam reforçar as bases no interior, com as eleições para prefeito e vereador, em 2024, com vistas a constituir uma estrutura político-eleitoral para 2026. Recentemente, conquistaram o passe político de Gustavo Mendanha, o que contribui para enfraquecer, ainda mais, as oposições.

Na política, há os cabos e os generais eleitorais. Não se faz nenhuma campanha sem os cabos — aqueles que levam os nomes dos postulantes para as ruas e redes sociais (que são ruas digitais) — e sem os generais eleitorais.

Os generais eleitorais estabelecem as táticas em função das estratégias — e vão adaptando-as de acordo com as circunstâncias. Noutras palavras, os generais eleitorais — que nada têm a ver com militares — interferem no presente, para se fortalecer no presente, e também para começar a construir o futuro (que não existe no futuro, pois é uma construção do presente). Neste sentido, poucos políticos têm a percepção de Ronaldo Caiado — no momento, o maior general eleitoral de Goiás. Quem observar suas ações, sempre procurando agregar novas forças, certamente aprenderá muito desta arte tão difícil e complexa chamada Política.

Há outros generais atuando, desde já, tendo em vista as eleições de 2024 e 2026. Os que estão conectando as duas são os que vão sair mais fortes do processo. Há, portanto, generais mais articulados e há generais razoavelmente articulados. Os principais estão listados abaixo, em ordem alfabética e não de relevância política.

O presidente da Federação da Agricultura no Estado de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, pode ser listado entre os generais? Talvez. O ex-deputado federal está operando em vários municípios goianos, como Rio Verde e, sobretudo, mineiros. Ele aspira ser candidato a senador em 2026.

1

Adriana Accorsi/PT

Adriana Accorsi: deputada federal | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Qual é o projeto da deputada federal? Há quem postule que disputará a Prefeitura de Goiânia (o PT, no momento, articula o ex-reitor e suplente de deputado federal Edward Madureira para prefeito). Ela tem afirmado que não será candidata e que planeja permanecer na Câmara. Para 2026, é cotada para disputar mandato de senadora, o que dependerá, por certo, da composição político-eleitoral.

Adriana Accorsi vai influenciar na eleição de Goiânia, como candidata ou general eleitoral. Tende a influenciar também em outras cidades do interior. Trata-se de uma ponte do presidente Lula da Silva em Goiás.

2

Bruno Peixoto/União Brasil

Bruno Peixoto, presidente da Assembleia Legislativa: nome para 2024 ou 2026| Foto: Sérgio Rocha

Diz-se que Ana Paula Rezende, filha de Iris Rezende, será candidata a prefeita de Goiânia, com o apoio de Ronaldo Caiado e Daniel Vilela. E se, por um motivo (resistência de familiares) ou outro (falta de vontade), optar por não disputar? Aí entra o presidente da Assembleia Legislativa, que é um articulador de primeira linha. Ele não relutará em disputar a prefeitura da capital.

Mesmo que não seja candidato a prefeito, Bruno Peixoto será um general eleitoral na campanha de Goiânia. Mas não só. Ele está trafegando por todo o Estado e vai apoiar vários candidatos a prefeito, e terá importância eleitoral decisiva. Porque planeja disputar mandato de deputado federal. E o futuro? Talvez o governo do Estado…em 2030.

3

Daniel Vilela/MDB

Presidente estadual do MDB em Goiás, Daniel Vilela | Foto: Leo Iran
Daniel Vilela: vice-governador de Goiás | Foto: Leo Iran/Jornal Opção

O presidente do MDB é um articulador hábil e está articulando nos 246 municípios. Primeiro, quer eleger aliados — e não só do MDB — em todo o Estado. Segundo, planeja contar com uma base eleitoral sólida para 2026, quando deverá ser candidato a governador.

O MDB pode bancar candidatos a prefeito, por exemplo, nas quatro principais cidades de Goiás, em termos financeiros e eleitorais: Goiânia (Ana Paula Rezende), Aparecida de Goiânia (Vilmar Mariano ou Leandro Vilela), Anápolis (Márcio Corrêa) e Rio Verde (Wellington Carrijo).

4

Gracinha Caiado/União Brasil

Gracinha Caiado: hábil articuladora política e primeira-dama | Foto: Secom

A mulher de Ronaldo Caiado é maior do que o cargo de primeira-dama. Gracinha Caiada entende e gosta de política. Acima de tudo, articula com habilidade. Sua influência no interior é pouco conhecida da mídia, mas não dos prefeitos e dos moradores das cidades. Ela é artífice dos principais programas sociais do governo.

Gracinha Caiado terá influência na campanha dos candidatos a prefeito e, em 2026, é cotada para disputar mandato de senadora. Sua força política é incontestável.

5

Gustavo Gayer/PL

Gustavo Gayer: articulando em Goiânia e no interior | Foto: Divulgação

Pode-se não gostar do deputado federal Gustavo Gayer, dadas suas ideias de direita, mas não se pode negar que tem voto. É forte em Goiânia e, por isso, o PL o bancará para prefeito, em 2024.

Porém, é mesmo um general eleitoral? Talvez seja. Talvez não seja. Há uma tese e uma hipótese. Para si próprio, é um general eleitoral, tanto que foi o segundo mais votado para deputado federal, em 2022. É a tese. Resta sabe se tem condições de transferir votos para candidatos em outras cidades do Estado. É possível que tenha. É a hipótese.

O que pode prejudicar Gustavo Gayer, no seu afã por disputar a prefeitura da capital, é sua falta de experiência administrativa. Uma coisa é ter discurso afiado, o que ele tem, e isto agrada parte substancial do eleitorado de direita e de centro-direita. Porém, o fato de não ter experiência como gestor — e não basta ter discurso para as redes sociais — pode prejudicá-lo eleitoralmente. Os eleitores deixam a impressão de que escolhem determinados políticos para o Executivo e para o Legislativo. Talvez queiram o líder do PL para a Câmara dos Deputados, mas não para o Paço Municipal.

6

Gustavo Mendanha/MDB

Gustavo Mendanha: de volta à cena política, e pelo MDB | Foto: Divulgação

O político de Aparecida perdeu a eleição para governador, mas pesquisas mostram que tem influência tanto na sua cidade-base quanto em Goiânia. Ao optar pela volta ao MDB — afirma que é “irmão” de Daniel Vilela —, mostra habilidade política. Agiu rápido, não se perdeu com entraves burocráticos e limitantes.

Por ter sido candidato a governador, em 2022, Mendanha certamente vai circular por várias cidades do interior, não como cabo, e sim como general eleitoral. Em Goiânia, terá, de acordo com pesquisas, grande importância, como apoiador. E, se puder ser candidato — o que é praticamente impossível —, desponta como favorito — ao lado de Vanderlan Cardoso, Gustavo Gayer e Ana Paula Rezende.

É filiado ao Patriota, mas está com os dois pés no MDB. Como “ong”, o Patriota é menor do que Mendanha.

7

Paulo do Vale/União Brasil

Paulo do Vale, prefeito de Rio Verde | Foto: Divulgação

O prefeito de Rio Verde deve bancar Wellington Carrijo, do MDB, ou Dannillo Pereira, do PSD, para prefeito. Ele é o principal general eleitoral do município, o mais próspero do Sudoeste goiano.

O candidato de Paulo do Vale surge, de cara, como favorito — não se está dizendo que já está eleito.

O prefeito tem influência em várias cidades do Sudoeste, o que o transforma no maior general eleitoral da região. E, por ser forte no Sudoeste, o prefeito influencia no pleito estadual. Portanto, é um player para 2026, com a possibilidade de disputar mandato de senador (ou pode ser vice de Daniel Vilela).

8

Roberto Naves/pP

Roberto Naves: prefeito de Anápolis | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

O prefeito de Anápolis é um articulador de primeira linha. Não será candidato, pois foi reeleito, em 2020, mas a sucessão de 2024, no município, passa por suas mãos. É um general eleitoral no município.

Aos poucos, Roberto Naves começa a influenciar a política de outros municípios — articulando, inclusive, em Goiânia. Ele está no jogo para 2026, como possível candidato a senador e como general eleitoral.

9

Ronaldo Caiado/União Brasil

O governador é o principal general eleitoral de Goiás. Ele vai influenciar em todas as cidades, inclusive sendo determinante no estabelecimento de algumas candidaturas e alianças.

Ronaldo Caiado certamente vai operar, com habilidade, uma nova configuração política de sua base eleitoral, em 2024 — tendo em vista fortalecê-la para 2026. Ele é agregador e tem uma aguda percepção de que, para robustecer seu grupo político, é crucial para enfraquecer os grupos adversários. Daí, por exemplo, a atração de Gustavo Mendanha para a base governista.

10

Rubens Otoni/PT

Rubens Otoni: deputado federal | Foto: Divulgação do PT

O deputado federal é o maior general eleitoral do PT em Goiás, acima de Adriana Accorsi. Ele circula, o ano inteiro, por todo o Estado. Por isso vai operar — na verdade, já está operando — na maioria dos municípios.

Há divergências entre Rubens Otoni e seu irmão, deputado estadual Antônio Gomide, mas, no frigir dos ovos, acabam por caminhar juntos. Gomide é apontado como forte candidato a prefeito de Anápolis.

11

Silvye Alves/União Brasil

Silvye Alves: deputada federal | Foto: Divulgação

A deputada federal aparece em pesquisas eleitorais em Goiânia e em Aparecida. Mas a tendência é que não dispute mandato em 2024, optando por ganhar experiência na Câmara, em Brasília.

Porém, de acordo com alguns levantamentos, Silvye Alves tende a influenciar o pleito em Goiânia, Aparecida e em vários outros municípios. Como general eleitoral, deve circular ao lado da base governista em dezenas de cidades. É provável, até, que seja mais “forte” como general eleitoral do que como candidata.

12

Vanderlan Cardoso/PSD

Vanderlan Cardoso: senador pelo PSD | Foto: Jornal Opção

O senador deve ser candidato a prefeito de Goiânia e consta que a única candidata que realmente teme é Ana Paula Rezende, não por ela em si, mas pelo fato de ser filha de Iris Rezende, de ser evangélica, como ele, e de ter o apoio integral da base governista. A tendência é que o líder do PSD fique isolado. Há, inclusive, a possibilidade de parte do PSD não apoiá-lo, optando por ficar ao lado do candidato governista.

Vanderlan Cardoso é um candidato forte, pela imagem que tem de gestor eficiente, e tende a influenciar também em algumas cidades do interior, como Senador Canedo, onde o prefeito Fernando Pelozo (PSD) é visto como favorito.

13

Wilder Morais/PL

Wilder Morais: senador pelo PL | Foto: Secom do Senado

O senador depende muito do resultado das eleições de 2024 para chegar cacifado para a disputa de 2026. Ele vai apoiar Gustavo Gayer em Goiânia, mas, se Vanderlan Cardoso for eleito, poderá apoiá-lo para governador em 2026.

Wilder Morais está, no momento, operando em todo o Estado, tentando construir bases eleitorais para a disputa do governo — o que é muito diferente da disputa para senador.

No interior, Wilder Morais enfrenta, na tentativa de construir uma base político-eleitoral, tanto Ronaldo Caiado quanto Daniel Vilela. Os prefeitos sabem que, se ficarem com o senador, estarão contra o governador e o vice-governador (a rigor, o PL é o único partido que faz oposição radical ao governo de Ronaldo Caiado). É a pedra — ou montanha — no seu caminho.