As mineradoras que atuam em Barro Alto não se preocupam com o bem-estar da população nem com o crescimento econômico local. Qual legado deixam? Apenas destruição, inclusive ambiental”, avalia Júlio César Gonçalves, membro da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Barro Alto (ACIABA), em entrevista exclusiva ao Jornal Opção.

Barro Alto concentra a segunda maior reserva mundial de níquel e responde por 99% da produção do estado, segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM). O metal é fundamental para a indústria de aço inoxidável, ligas metálicas especiais, eletrônicos, baterias recarregáveis e aviação. Além do ferro-níquel, o município é um dos maiores produtores de bauxita do país. Veja reportagem completa aqui.

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Exploração de Bauxita | Foto: Reprodução

Apesar da presença de mineradoras e outras empresas, boa parte da riqueza gerada não permanece na cidade. “O nosso grande gargalo é que muitos trabalhadores vivem em municípios vizinhos. Boa parte dos salários vai para fora. Não dá para dizer que não somos beneficiados, mas poderíamos ser muito mais”, afirma Júlio César.

O impacto das mineradoras sobre o comércio local é complexo. Embora a cidade registre crescimento econômico e maior arrecadação municipal, o efeito direto sobre o comércio é limitado, já que grande parte da renda circula fora de Barro Alto.

Principais desafios destacados pela associação comercial:

  • Fluxo de riqueza para fora do município: Muitos funcionários das mineradoras e empresas de energia solar residem fora da cidade, levando seus salários para cidades vizinhas, como Goianésia.
  • Comércio local subaproveitado: A associação avalia que o comércio poderia gerar mais empregos e renda, mas a riqueza extraída não se traduz em desenvolvimento local.
  • Falta de prioridade e diálogo das mineradoras: “As mineradoras nunca deram prioridade ao município. Chegam, extraem o minério e levam seus funcionários para outras cidades. Elas nos deixam somente com a poeira decorrente das atividades”, destaca Júlio César.
  • Moradia e capacitação: A falta de projetos de moradia impede que funcionários se fixem na cidade, e programas de capacitação para jovens locais não foram aproveitados pelas mineradoras.
  • Expectativas com nova mineradora chinesa: Há esperança de que a nova empresa traga diretores e funcionários para residir em Barro Alto e invista no desenvolvimento da cidade, com diálogo efetivo entre poder público e empresa.
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Exploração de níquel | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

“Esperamos que eles tragam diretores e funcionários para morar aqui. A cidade melhorou, mas poderia estar muito melhor se tivesse havido um plano real de desenvolvimento local. Não é justo tirar bilhões daqui e deixar a população apenas com a poeira e os problemas”, frisa Júlio César.

Em resumo, Barro Alto enfrenta o paradoxo de ser rico em recursos e ao mesmo tempo não conseguir reter os benefícios econômicos para o comércio e a comunidade local, enquanto cidades vizinhas acabam absorvendo grande parte da riqueza gerada.

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