“Intervenção vai ser muito mais forte do que acreditávamos”, afirma economista sobre medidas de Lula

03 janeiro 2023 às 09h41

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O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), tomou posse como ministro da Fazenda nesta segunda-feira, 2. Em discurso, ele prometeu trabalhar com ênfase na recuperação das contas públicas, combater a inflação, democratizar o acesso ao crédito e enviar, ainda no primeiro semestre, a nova proposta de âncora fiscal.
Em paralelo, investidores brasileiros reagiram às falas e às primeiras medidas anunciadas pelo presidente Lula (PT), no domingo, 1º, principalmente sobre a continuidade da desoneração dos combustíveis e o novo salário mínimo. Como resultado, o Ibovespa caiu 3,06% no primeiro dia da nova gestão. Já o dólar subiu 1,51%, o euro 1,37% e a Petrobras com uma queda de 6,67%, sendo a ação mais negociada em um dia de liquidez reduzida devido às festas de final de ano.
O economista Aurélio Trancoso explicou ao Jornal Opção que a queda dos indicadores se deve a receios com o risco fiscal do país e de que a intervenção estatal na economia seja ainda mais forte que o esperado. “A gente já sabia que a intervenção ia acontecer, mas agora parece que ela vai ser muito mais forte do que a gente acreditava. Antes o temor se dava sobre o que ia ocorrer com a PEC da Transição, agora a discussão é outra: dada a PEC da Transição, o que mais pode acontecer?”, diz. Apesar disso, ele frisa que essas incertezas do mercado devem ser superadas futuramente.
A leitura dos analistas é a de que Lula não abordou no seu discurso de posse os principais pontos de atenção dos investidores com a economia brasileira, em especial sobre qual será a nova regra fiscal do país – em substituição do teto de gastos – e como o governo planeja encaminhar uma reforma tributária. Ao contrário. Com as medidas já adotadas e a fala de domingo, parece reforçar o tom adotado na campanha presidencial do ano passado, indicando uma aposta num governo intervencionista na economia. O presidente prometeu rever políticas mais liberais, como a reforma trabalhista e as privatizações de estatais, e chamou o teto de gastos de “estupidez”.
Há uma grande dúvida se a ala econômica vai conseguir prevalecer no embate com o grupo político próximo a Lula nesse novo governo. Os investidores, por exemplo, reagiram mal à decisão do presidente de editar uma medida provisória para renovar por dois meses a isenção dos impostos federais sobre a gasolina e por tempo indeterminado para o diesel e gás de cozinha. A decisão marcou uma derrota para Haddad. Ele havia pedido para o ex-ministro da Economia Paulo Guedes não prorrogar a desoneração de impostos sobre combustíveis.
No caso da Petrobras, no entanto, o receio do rombo fiscal se soma ao temor de que haja uma alteração na política de preços da companhia, que pesa mais do que a revogação da privatização da empresa. “É importante frisar que a privatização não estava em uma fase avançada e sim de estudos, não era algo que estava no radar a curto e longo prazo”, diz. “A principal alteração no novo governo é a política de preços porque ela pode impactar no resultado da receita e na distribuição de dividendos“, diz Trancoso.
Atualmente a empresa segue a política de Preço de Paridade de Importação (PPI), segundo a qual varia o preço cobrado pelo combustível conforme a oscilação do petróleo no mercado internacional. O grande receio do mercado é que essa política volte a ser como era no governo Dilma, quando se usava a Petrobras para influenciar no preço dos combustíveis.