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Impulsionada pelo agronegócio, a renda mensal do 0,01% mais rico em Goiás cresceu 53% nos últimos anos. No topo do ranking dos estados que mais cresceram, está o Mato Grosso do Sul, onde a renda da elite cresceu 131% acima da inflação no período de 2017 a 2022. Em seguida, aparece o Amazonas e o Mato Grosso. Os dados foram levantados pelo economista Sérgio Gobetti e divulgados pelo Observatório de Política Fiscal da Fundação Getulio Vargas (FGV).

“Verificou-se no período analisado (2017-2022) um crescimento extraordinariamente alto da renda da atividade rural, principalmente nos estratos mais ricos, em que esse tipo de rendimento (isento de tributação na sua maior parte) cresceu acima de 220% (ou 140% em termos reais)”, disse Gobetti. Foi esse avanço da atividade rural que puxou a alta de renda da elite do agro.

De acordo com o Secovi (Sindicato Patronal da Habitação), a maior parte dos pagamentos pela compra de casas e apartamentos de luxo são realizados sem a contratação de um financiamento habitacional bancário, sendo parcelado diretamente pelo comprador, ou à vista. Há aqueles que, ao adquirir um imóvel, programam parcelas para depois da colheita da safra.

O agronegócio está emergindo como uma força política, assim como era a indústria nas décadas de 1950, 60, 70 e 80, observa o economista. Ele destaca que essa força política está migrando para os atores agrícolas, incluindo grandes produtores, traders e empresas industriais que estão ampliando seu espaço. Isso se reflete no Congresso, com as bancadas do agronegócio no Senado e na Câmara. O economista ressalta que nunca houve no Congresso uma bancada de apoio à indústria comparável à representação atual do agronegócio.

Atualmente, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) é integrada por 324 deputados. No Centro-Oeste, a frente é representada pela deputada Marussa Boldrin (MDB). No Sul, por Luiz Nishimori (PSD). Domingos Sávio (PL) representa a região Sudeste. Já Vicentinho Júnior (PP) preside a frente no Norte do Brasil e José Rocha (UNIÃO) no Nordeste.

Expansão do setor deve continuar

Para Gobetti, a expansão do setor deve continuar. Com o boom de commodities, grandes propriedades, exportadores têm mais possibilidade de expansão de ganhos. A atividade rural é muito forte entre os mais ricos. “O ápice do aumento aconteceu entre 2020 e 2021, quando os ganhos de capital se expandiram mais”, afirmou o economista.

“As análises com base nos dados do IRPF oferecem fortes evidências de que a concentração de renda no topo cresceu significativamente no período recente, destoando do ocorrido na década anterior pelo menos, mas ao mesmo tempo indica que o crescimento da renda no topo apresenta fortes diferenças regionais, tendo sido mais pronunciado em estados cuja economia, em geral, é dominada pelo agronegócio. E isso ocorreu num período em que a renda média do brasileiro apresentou uma das piores performances das últimas décadas, dada a estagnação do valor real dos salários e de outros indicadores”, diz trecho do estudo.

A Amaro Aviation, que freta e vende aeronaves pelo sistema de propriedade compartilhada, diz que as empresas relacionadas ao agro já absorvem um terço do movimento da companhia, com sede em São Paulo. E 50% dos destinos também estão interligados com o setor agrícola. A empresa voa para Campo Grande, Goiânia, Quirinópolis (GO), Maringá, Ribeirão Preto, Uberaba e São José do Rio Preto.

Renomadas marcas de luxo, como Tiffany & Co., do mesmo grupo da Louis Vuitton, estão promovendo eventos em cidades onde o agro desempenha papel central na economia, conta Mônica Salgado, sócia da Iconic, agência de marketing digital para o mercado de luxo. em 2023, ela participou de encontros a convite de shoppings e multimarcas em cidades como Goiânia, Sinop e Campo Grande.

Goiânia é a capital mais desigual da América Latina

O Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), revelou, em 2012, que Goiânia é a cidade mais desigual da América Latina. No último relatório da ONU, a capital goiana aparece aparece com Índice de Gini igual a 0,65, continuando entre as mais desiguais do mundo.

Em Goiânia, as informações sobre a população em situação de rua na cidade são menos recentes, com último registro feito antes da pandemia, no ano de 2019. O trabalho em debate foi fruto de uma parceria entre o Núcleo de Estudos sobre Criminalidade e Violência (Necrivi), da Universidade Federal de Goiás (UFG), e a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Políticas Afirmativas (SMDH).

O relatório construído pelo Necrivi contribui para o entendimento do perfil da população em situação de rua em Goiânia. Conforme os dados coletados pelo grupo, 81% dessa população é composta por adultos, e de cada 10 pessoas nessa situação, oito são homens e duas são mulheres. A pesquisa também destaca uma maioria parda e com Ensino Fundamental incompleto. Além disso, segundo o estudo do Necrivi, as áreas com maior concentração desse público são o setor Central e as regiões sul, oeste e leste da cidade.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) publicou um relatório com estimativas acerca da população em situação de rua no país, em dezembro do ano passado. De acordo com o estudo apresentado, este grupo de pessoas cresceu quase 40% entre 2019 e 2022. A estimativa obtida confere a existência de 281.472 pessoas dentro dessa realidade e aponta a pandemia de Covid-19 como um agravante para os dados.