Goiás se tornou centro das atenções no cenário internacional ao abrigar a maior reserva brasileira de terras raras pesadas — insumos estratégicos para a transição energética global. A informação é do secretário de Indústria, Comércio e Serviços, Joel Sant’Anna Braga, que integrou recentemente uma missão oficial ao Japão ao lado do governador Ronaldo Caiado. Segundo o secretário, o Japão não está sozinho. “Além dos japoneses, a China, os Estados Unidos e o mercado europeu também estão de olho aqui.”

“Goiás tem o privilégio de ter a maior reserva do Brasil de terras raras pesadas, que são as mais importantes da transição energética”, afirmou o secretário.

Interesse do Japão e geopolítica mineral

Durante a visita ao Japão, segundo Joel Sant’Anna, as autoridades japonesas demonstraram grande interesse pelas jazidas goianas, devido à importância do mineral em tecnologias industriais de ponta.

“O governador foi ao Japão e a primeira coisa que eles falaram foi que o maior interesse deles são as terras raras. Eles não queriam nem conversar sobre outra coisa. Disseram que ficaram atrasados em relação à China e agora precisam do insumo para poder se desenvolver, porque têm a maior indústria de carros do mundo, como a Toyota”, relatou.

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Joel Sant’Anna e José Palma, vice-presidente da Aclara Resources | Foto: SIC

“Eles precisam não só para carros, mas para os trens elétricos e os trens-bala. São pioneiros nisso. Também usam nas forças navais, em mísseis…  A terra rara pesada é essencial porque contém o ímã que puxa a energia e dá a explosão do motor, fazendo com que ele alcance alta velocidade”, explicou.

Transferência de tecnologia e industrialização local

Joel Sant’Anna afirmou que o governo de Goiás está analisando parcerias internacionais para não apenas exportar o minério, mas garantir a industrialização dentro do estado.

“O governador entendeu a importância da missão ao Japão. Agora, queremos escolher o parceiro que também transfira tecnologia para Goiás. Ao invés de apenas exportar o minério, como fazemos hoje para a China, a ideia é trazer indústrias que verticalizem a produção aqui”, explicou.

“Temos indústrias automotivas como a Caoa, a Mitsubishi e agora as chinesas, como a GAC e a Avatar. Com isso, temos uma grande oportunidade de fazer o melhor negócio para o estado.”

Visita técnica japonesa e disputa internacional

Segundo o secretário, uma comitiva japonesa deve visitar Goiás em breve para uma análise técnica das áreas de exploração.

“Eles devem vir agora na segunda quinzena de agosto. O importante é que eles já disseram que precisam da terra rara de Goiás. Isso gerou repercussão mundial e mostrou para a China, os Estados Unidos e a Europa que eles, que são os maiores produtores de veículos do mundo, precisam desse insumo.” Apesar da visita, não há acordo fechado. “Eles vêm conhecer. Ainda não está nada decidido”, esclareceu o secretário.

Principais regiões mineradoras e impacto local

Atualmente, Nova Roma, no Nordeste goiano, é o município com maior potencial de terras raras pesadas. Também se destacam Monte Alegre e Cavalcante, ainda na região Nordeste; Iporá, no Oeste; e Minaçu, no Norte do Estado, que já exporta terras raras leves.

Sobre os impactos ambientais, Joel afirmou que o processo de extração das terras raras é menos agressivo. “Eles tiram só 0,03% da terra e devolvem o restante para o mesmo local. Não ficam crateras ou grandes resíduos. Na verdade, até remineralizam o solo. A Embrapa está estudando isso, porque já há pesquisa mostrando que pode aumentar em até 15% a produtividade da soja.”

Desenvolvimento regional e responsabilidade social

A chegada de grandes empreendimentos às regiões mais pobres do estado pode transformar a realidade local, segundo o secretário.

“Você vê, Nova Roma tem 3 mil habitantes na cidade e mais uns 1, 5 nos distritos. A empresa vai contratar mais de 5 mil funcionários. Ou seja, mais do que o número de habitantes. Por isso, temos que ter cuidado na implantação, com investimentos em saúde, educação, moradia e infraestrutura.”

O secretário também destacou a importância do planejamento no licenciamento ambiental. “A gente precisa garantir que o processo seja sustentável e que os royalties cheguem ao município sem causar problemas sociais ou urbanos”, destacou Joel Sant’Anna Braga.

Mineradoras impulsionam exploração de terras raras em Goiás

Goiás tem se consolidado como uma das principais fronteiras da mineração de terras raras no Brasil. Empresas nacionais e estrangeiras estão liderando projetos que prometem transformar o estado em referência mundial na produção desses elementos estratégicos para a transição energética e a indústria de alta tecnologia.

Serra Verde opera única planta ativa no país

Localizada em Minaçu, no norte goiano, a mineradora Serra Verde é atualmente a única em operação no Brasil com planta ativa de terras raras. A empresa também se destaca por ser a única fora da Ásia a produzir em escala industrial os quatro elementos considerados críticos: neodímio (Nd), praseodímio (Pr), térbio (Tb) e disprósio (Dy).

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Mineradora Serra Verde, em Minaçu | Foto: Serra Verde

Esses minerais são essenciais na fabricação de turbinas eólicas, baterias de veículos elétricos, painéis solares, sistemas de mísseis, radares e dispositivos eletrônicos. A unidade de Serra Verde realiza tanto a extração quanto o beneficiamento dos materiais.

Aclara investe R$ 2,8 bilhões em Nova Roma

A chilena Aclara Resources está investindo R$ 2,8 bilhões no Projeto Carina, em Nova Roma, no Nordeste goiano. A empresa iniciou recentemente as operações de uma planta piloto em Aparecida de Goiânia, com aporte inicial de R$ 30 milhões. A unidade tem capacidade para processar 250 toneladas de argilas iônicas e deve produzir concentrado de terras raras com mais de 95% de pureza.

O projeto piloto tem como objetivo fornecer suporte técnico e operacional para a futura planta de larga escala em Nova Roma, considerada estratégica para o avanço da produção de terras raras pesadas no país.

Appia projeta 200 empregos diretos em Iporá

Já a multinacional canadense Appia Rare Earths & Uranium Corp desenvolve um projeto de exploração no município de Iporá, no Oeste goiano. Com investimentos previstos de R$ 550 milhões, a empresa atua desde 2018 na fase de pesquisa e já conta com uma equipe técnica de 15 profissionais. A expectativa é de que mais de 200 empregos diretos sejam gerados com a instalação da planta de concentrado de carbonato.

Do total anunciado, R$ 50 milhões estão sendo aplicados na finalização dos estudos geológicos, enquanto R$ 500 milhões serão destinados à construção da unidade industrial.

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