Após recuo nas ‘commodities’, Ministério da Agricultura quer linha de crédito do BNDES

23 janeiro 2024 às 08h22

COMPARTILHAR
A queda nos preços das commodities nos últimos meses tem gerado preocupações no setor agrícola e no governo. Diante da perspectiva de lucros mais baixos, o Ministério da Agricultura está considerando medidas para apoiar os agricultores e evitar impactos financeiros no plantio da próxima safra e nas colheitas de 2025. A proposta, conforme o assessor especial Carlos Ernesto Augustin, é estabelecer uma linha de crédito via BNDES para fortalecer o capital de giro dos produtores e conceder prazos estendidos para o pagamento de dívidas com a União.
Essas dívidas, contraídas pelos produtores para realizar investimentos, poderiam ter seus pagamentos postergados, com um passivo estimado em cerca de R$ 20 bilhões. De acordo com o Índice de Commodities do Banco Central (IC-Br), os preços das matérias-primas (agrícolas, de energia e minerais) caíram ao menor patamar em mais de dois anos, uma queda puxada pelas commodities agrícolas. Em dezembro, último dado divulgado, o IC-Br recuou para 342,77 pontos, pouco acima dos 340,69 pontos registrados em julho de 2021.
O preço da soja, principal produto agrícola exportado pelo Brasil, recuou 23,6% em janeiro, em reais, em relação ao mesmo mês de 2023. Já o milho caiu 20,4%, e o café, 13,3%. Os dados são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da USP.
Bruno Lucchi, diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), diz que cadeias de produtos como café, boi, milho, soja, algodão, chegaram a ter redução em torno de 30% nos preços em reais em 2023. Ele explica que, embora o PIB agropecuário tenha crescido cerca de 15% em 2023, quando se consideram os serviços e a indústria ligados ao setor, houve redução em torno de 1%:
“Devemos ter uma queda de 0,8% no volume de produção este ano, em função de fatores climáticos, com quebras de safras em várias cadeias de produtos. No agronegócio, que é mais amplo que a agropecuária, podemos cair 2% ou ficar estagnados, no melhor cenário. Segundo o técnico da CNA, asafra agrícola deste ano deve ficar abaixo das 300 milhões de toneladas, contra o recorde de 319 milhões de toneladas de 2023. Nas exportações, o agro, depois da alta de 4,8% no ano passado, tem como melhor cenário manter o patamar de US$ 165 bilhões”, disse ao Jornal O Globo.
Superávit na balança comercial
O superávit anual recorde na balança comercial do país, projetado para US$ 90 bilhões. A participação do agronegócio nas exportações totais brasileiras já passa de 51%. A balança comercial da terceira semana de setembro registrou saldo anual recorde de US$ 68,14 bilhões, com US$ 240,52 bilhões acumulados em exportações e US$ 172,38 bilhões de importações. Os dados foram divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento (MDIC).
O salto acima de 40% do superávit sobre igual período do ano anterior deve-se ao desempenho do agronegócio nos últimos meses. Com isso, a balança comercial já sinaliza para um saldo de US$ 90 bilhões até o fim do ano, o maior desde o início da série histórica, em 1989. Os últimos recordes foram registrados justamente nos dois anos anteriores, com US$ 61,4 bilhões (2021) e US$ 62,3 bilhões (2022).
- Leia também: Agronegócio tem recorde de produção em 2023