“Quem não acordava tomava choque”, diz trabalhador resgatado no Sul

05 março 2023 às 17h59

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Trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão nas vinícolas da Serra Gaúcha contam que eram torturados com choques elétricos pelos patrões. As declarações foram dadas em entrevista ao programa Globo Rural, que foi ao ar neste domingo, 5.
O escândalo estourou na última quarta-feira, 23, após algumas vítimas terem conseguido escapar do local onde eram mantidas em condições desumanas. Eles pediram socorro em um posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Em entrevista ao programa, um dos trabalhadores resgatados afirmou que os empregadores agrediam os funcionários com “choques e murros nas costelas”.
“A gente acordava às 4 da manhã à base de grito. Chamando a gente de ‘demônio’. ‘Acorda demônio, acorda para trabalhar. Baiano bom é baiano morto. Se não trabalhar, vai morrer’. Os que não conseguiam acordar para trabalhar tomavam choque no pé. Ou murro na costela para ter que acordar para trabalhar”, desabafou.
O trabalhador disse que foi enganado, porque recebeu uma proposta de trabalho para ganhar entre R$ 2 mil e R$ 4 mil, mas viu que tudo não passava de golpe. “Chegando lá, foi tudo enganoso. O que encontrei foi um alojamento, que disseram que era uma pousada, um galpão com mais de 200 pessoas dentro, um quarto em frente ao outro com nove pessoas.O café da manhã era um pão com café, meio dia a quentinha azeda, que a gente não comia. E chegava de noite não tinha comida pra gente. Comida toda azeda”, contou
Com a denúncia, o proprietário da Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda., Pedro Augusto Oliveira de Santana, foi preso por manter os trabalhadores em situação análoga à escravidão. Ele pagou fiança e foi solto para responder em liberdade.