Verde exuberante na individual de pinturas de Jadir Mendonça

26 janeiro 2024 às 10h20

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Ivan Mendonça *
Maior pintor do século, o malaguenho Pablo Picasso inventou uma história de que logo após o nascimento, em 1881, sua primeira palavra teria sido “piz”, querendo dizer lápis, para se autoproclamar predestinado para as artes. O sobrenome Picasso, aí não é lorota, foi herdado da mãe, Maria, que lhe presenteou com o nome quilométrico de Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno Maria de los Remédios Cipriano de la Santíssima Trinidad Mártir Patricio Clito Ruíz y Picasso. Outra curiosidade, também entendida como mito, é que seu pai, pintorzinho mequetrefe chamado José Ruiz, teria abandonado os pincéis quando viu a perfeição do quadro de um menino de boné em companhia de um mendigo.
Mais modesto do que Picasso, já que nasceu em um pequeno lugarejo chamado Morro do Espia, distante quatro léguas da cidade de Tiros (MG), o meu irmão Jadir Mendonça de Lima, hoje arquiteto, desenhista e urbanista, garante que sua vocação para a pintura começou quando teve o primeiro contato com pedrinhas de tauá. O que é isso? Nada mais, nada menos do que fragmentos de giz caseiro, que eram usados nos idos de mil novecentos e antigamente para escrever em cimentados e também para pintar louças de barro. Portanto, nada em comum entre ele e Picasso, a não ser o fato de que seus pais foram batizados com o mesmo nome: José e Maria.

Histórias romanceadas, mitos e pitadas dramáticas de causos fantásticos à parte, Pablo Picasso faleceu em 1973, dois meses depois da pintora e desenhista Tarsila Amaral, justamente quando Jadir estava iniciando os estudos de arquitetura e urbanismo na Pontifícia Universidade Católica de Goiás. De lá pra cá, muita coisa mudou. O autor de “Guernica”, considerada uma das maiores obras de todos os tempos, acabou personificado gênio da arte moderna, enquanto meu irmão, diplomado em 1978, acaba de ganhar apoio e incentivo da Secretaria Estadual de Cultura para uma individual de pinturas em tinta acrílica, com abertura confirmada para 1º de fevereiro, na Vila Cultural Cora Coralina.
No entanto, até chegar aos pincéis em tempo integral, Jadir Mendonça foi obrigado a meter a cara no trabalho para sobreviver, dando prioridade ao desenho arquitetônico. Seu primeiro emprego foi na Ona Engenharia, empresa privada criada pelo engenheiro Oton Nascimento, um dos fundadores da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Goiás. Dalí para o serviço público de Goiás foi um pulo. Em reconhecimento ao seu profissionalismo, menos de um ano depois, ele passou a integrar a equipe técnica do novo secretário de Planejamento do Estado, Oton Nascimento Júnior, com dedicação exclusiva ao Projeto Rio Formoso e da Hidrelétrica de Corumbá IV.
Já em 1982, atuando na Companhia de Desenvolvimento do Estado, Jadir foi coautor dos projetos da Vila Mutirão e dos bairros da Vitória, Floresta, Boa Vista, São Carlos e São Domingos, além dos Conjunto Primavera, em Goiânia, e Morada do Morro, em Senador Canedo. Depois de exercer o cargo de diretor de planejamento da Codeg, ele teve passagens também pela Superintendência de Desenvolvimento Municipal na Segplan e pela Diretoria de Programas Especiais da AGDR – Agência Goiana de Desenvolvimento Regional.
A dedicação às artes e a recaída pelos ensinamentos de Frei Nazareno Confaloni, Sáida Cunha e Amaury Menezes, seus mestres na PUC Goiás, só se materializou mesmo 20 anos depois, em 1993, quando participou com três obras em acrílica sobre tela, do Concurso Novos Valores da Casa Grande Galeria de Arte, em Goiânia. Apaixonado por aquarelas que, aliás, deram grande destaque a Amaury Menezes no mundo das artes, Jadir Mendonça aproveitou a temática da natureza densa em seus quadros, todos em tinta acrílica, para lançar cores, traços e textura não muito precisos, mas certeiros no conjunto, criando uma atmosfera harmônica, cheia de brilho e de luz. Enfim, pequenos detalhes ou fragmentos alcançados por um olhar mais aguçado.
No livro “Da Caverna ao Museu: Dicionário das Artes Plásticas em Goiás, por exemplo, Amaury Menezes fez questão de atestar a veia artística de seu ex-aluno: “A paisagem densa das matas o inspira a cortes e composições bem orquestradas. O trato com o verde e seus inúmeros matizes revelam a sua sensibilidade de pintor. Jadir compõe seus quadros de uma forma pessoal – ele interpreta a paisagem e as coisas ao seu redor da maneira que as vê. Como bom desenhista que é, credencia-se a um trabalho coeso e de rara beleza.”
Aliás, puxando sardinha pra sua brasa, Jadir não esconde que sempre gostou da cor verde. Seja na admiração pela natureza, seja nas criações, nos desenhos e nas pinturas, principalmente. Nesta exposição, que será aberta no dia 1º de fevereiro na Vila Cultural Cora Coralina, ele mostra o que vem produzindo ao longo dos últimos anos, fruto de viagens, pesquisas e muitas observações da natureza e de suas cores, sobretudo, o verde e seus tons.
Denominada “Pé de Pau em Mato Verde”, a exposição de pinturas de Jadir Mendonça de Lima será aberta no dia 1º de fevereiro, a partir das 19 horas, na Vila Cultural Cora Coralina, localizada entre as Ruas 3 e 23, no Centro de Goiânia. Tem o apoio da Secretaria Estadual de Cultura e é composta por 53 telas em tinta acrílica, de diversas dimensões.
Ivan Mendonça é jornalista e autor do livro “O Espião do Morro, cujo conteúdo é dedicado não apenas às mutações do jornalismo impresso após a explosão das redes sociais, mas também aos bastidores da política de Goiás nos últimos 50 anos.