O escritor, pesquisador e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG) Ademir Luiz resume com naturalidade — e humor — o impacto de receber o Troféu Jaburu 2025, a mais alta honraria cultural concedida pelo Conselho Estadual de Cultura. Em entrevista ao Jornal Opção, ele reconheceu o peso histórico da premiação e a surpresa de tê-la recebido ainda no auge da produção literária.

Para ele, estar na mesma lista que nomes como Cora Coralina, Bernardo Élis e Siron Franco é uma espécie de batismo: “O troféu me coloca em um panteão de gigantes. E eu sou apenas o estagiário desse panteão. Por isso quero usar o prêmio como plataforma para produzir mais e colaborar ainda mais com a cultura de Goiás e de Goiânia”, afirmou Ademir, que é presidente da União Brasileira de Escritores (UBE).

“Ele acabou se transformando em um prêmio que, de alguma maneira, é um final de carreira. Uma homenagem como um Oscar honorário, pelo conjunto da obra. A novidade deste ano é que deram o prêmio para alguém que está produzindo agora”, afirmou.

Ademir contou que o próprio discurso — que viralizou entre os presentes — homenageia essa linhagem. “Faço até uma brincadeira com a calçada da fama de Hollywood. Em vez de estrelas, imaginei ‘jaburus’ de mármore com nomes como Cora Coralina, Belkiss Spenciére, Poteiro, Siron Franco… A turma pesada.”
O escritor ainda colocou à disposição vídeos, releases e fotografias enviadas posteriormente à reportagem.

Trechos do discurso que emocionou o público

Na noite de terça-feira, 25, no Auditório Mauro Borges, em Goiânia, Ademir Luiz subiu ao palco para receber o Troféu Jaburu e entregou um dos discursos mais literários e imagéticos da história da premiação.

Ele iniciou convidando o público para um passeio pela capital, misturando memória, imaginação e identidade goiana:

Imagine uma bela noite goiana…
Você está passeando pelo centro histórico de Goiânia.
O casario Art Déco, o Grande Hotel, o Zoroastro Artiaga, o Palácio das Esmeraldas…
Goiânia não teve inauguração, teve batismo cultural.

A imagem central de sua fala foi a criação fictícia de uma calçada da fama goiana, onde, em vez de estrelas, haveria jaburus de mármore branco, cada um com o nome de um grande artista do Estado:

Ao invés de estrelas, teremos jaburus.
O jaburu é otimista. Não imita a voz humana, mas seu silêncio elegante diz: ‘para sempre’.
Você caminha e vê Cora Coralina. Alguns passos adiante, Bernardo Élis.
Logo depois, Belkiss Spenciére, Ely Camargo, Bariani Ortêncio…

E continuou a “revoada” imaginária: Marcos Fayad, Hugo Zorzetti, Mauri de Castro, Stepam Nercessian, Poteiro, Siron Franco, Marcelo Solá, Lêda Selma, Darcy França Denófrio, Gilberto Mendonça Teles, Edival Lourenço.

O ponto de virada do discurso veio quando ele transformou esse imaginário em metáfora do próprio prêmio. “Neste exato momento, estou saindo de um ovo desse ninho de jaburus. Estamos todos no mesmo ninho. Um jaburu sozinho não faz verão.”

Ao lembrar do peso da honraria, Ademir citou a responsabilidade que acompanha a conquista:

Receber o Jaburu é entrar em diálogo com uma linhagem muito forte.
Não é ponto de chegada, mas compromisso com o trabalho que ainda vem pela frente.

O escritor ainda homenageou artistas, instituições, familiares, leitores — até mesmo aqueles “que o lincharam na internet” — e destacou o investimento cultural do Governo de Goiás. “O tempo mostrou, e isso pode ser provado matematicamente, que o governo Caiado foi o que mais investiu em cultura na história do Estado.”

Encerrando com lirismo:

Vamos aproveitar esta bela noite goiana caminhando pela cidade.
Quem sabe testemunhamos uma revoada noturna de jaburus.

O que representa o Troféu Jaburu

Criado em 1980, tendo Cora Coralina como primeira homenageada, o Troféu Jaburu se consolidou como a mais importante distinção cultural de Goiás. Concedido pelo Conselho Estadual de Cultura, reconhece:

  • escritores, artistas e pesquisadores,
  • instituições culturais,
  • gestores,
  • e contribuições decisivas para a preservação da memória e formação da identidade goiana.

A honraria é considerada por muitos como uma consagração de carreira — algo que o próprio Ademir destacou, ao lembrar que, tradicionalmente, o prêmio celebra trajetórias consolidadas. O fato de ser entregue a um autor ainda em plena produção marca uma nova leitura sobre importância, impacto e renovação da cena cultural goiana.

A UEG, instituição onde Ademir leciona, reforçou que sua atuação vai muito além da escrita: ele coordena projetos, participa de grupos de pesquisa e conduz ações de formação literária que conectam diferentes gerações de autores e leitores, ampliando o alcance da literatura produzida no Estado.