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A traição, em seu sentido mais amplo, não se limita obviamente à infidelidade entre casais, seja ela anunciada ou repentina, virtual ou real, consentida ou desconhecida. A traição pode ser também de ordem ideológica, difamatória, familiar, profissional ou até mesmo em relação aos nossos próprios ideais, seja qual for o tipo de traição a deslealdade é sempre amarga e imperdoável.

Na literatura, a abordagem mais constante e, aparentemente, mais difícil de superar é a infidelidade conjugal. Abaixo estão os exemplos mais famosos da literatura brasileira e mundial.

Sagarana, Guimarães Rosa

O livro é composto por nove contos que se passam no sertão e um deles, o chamado “Duelo”, conta o desenrolar de uma história de vingança e assassinato motivada por uma traição. Na obra, Turíbio flagra sua mulher traindo-o com o ex-militar Cassiano Gomes, e decide vingar-se matando o amante de sua esposa. No entanto, a bala destinada a acertar o adúltero, atinge o irmão do ex-militar, causando sua morte. Então, Turíbio foge para o sertão, já que passa a ser perseguido por Cassiano sedento por vingança.

O livro é leitura obrigatória dos vestibulares de algumas universidades, como a Unespar, UFPR e Unicentro.

Úrsula, de Maria Firmino dos Reis 

Publicado em 1859, é considerado o 1° romance abolicionista escrito por uma mulher. A narrativa aborda infidelidade escravidão, o machismo, o patriarcalismo, a violência e, pela primeira vez em romances brasileiros dá voz a personagens negras.

A história, protagonizada por Tancredo, filho de um rico fazendeiro, e Úrsula, jovem não tão afortunada, ganha vida a partir de uma traição. O jovem protagonista é traído por Adelaide, sua noiva, que o troca por seu próprio pai, movida por puro interesse. 

Tancredo, sentindo-se totalmente desiludido, sai cavalgando afora sem destino. Em certo momento da longa caminhada, seu cavalo desaba ao chão de tanta fadiga, o que ocasiona o desmaio do jovem herdeiro. Tancredo, então, é resgatado pelo escravo Túlio, que o leva até a fazenda onde o protagonista conhecerá Úrsula, seu futuro amor.

O livro é cobrado nos vestibulares da UFSC, UFGD, UFMS, Udesc e UVA.

Histórias que os jornais não contam, de Moacyr Scliar

Obra que agrupa diversas crônicas do escritor, dentre elas, a crônica “Estranhas Afinidades”, que conta a história de um romance em decadência, que poderia facilmente ser encontrado na atualidade. Na crônica, o marido e a mulher (sem nomes) vivem infelizes no casamento e, por este motivo, ambos passam a flertar secretamente na internet. No decorrer da mentira, eles acabam se apaixonando por seus respectivos amantes e marcam um encontro. Para a surpresa dos dois, descobrem que, na realidade, estavam flertando um com o outro e decidem se divorciar.

A história aborda a incoerência e a falta de diálogo entre os casais da atualidade e a liquidez das relações. Afinal, eles preferiram divorciar-se e buscar um outro amor virtual do que conversar e assumir que foram feitos um para o outro.

A obra é obrigatória nos vestibulares da UEL e Unicentro.

Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis

A história de Machado de Assis é contada por Brás Cubas depois de morto, por isso o nome “memórias póstumas”. Na trama, o personagem principal faz parte de um “triângulo amoroso”, onde Brás Cubas vive um romance com Virgília, que é casada com Lobo Neves.

O triângulo amoroso aborda algumas questões, como o estigma do adultério ter peso maior quando se trata da figura feminina do que da masculina. Na época em que se passa a história, era aceitável que os homens tivessem relações extraconjugais, diferente das mulheres, que deveriam ser devotas e submissas. 

As figuras masculinas do triângulo amoroso estavam em uma posição mais confortável. Brás Cubas sentia que Virgília era seu grande amor, mas isso não impediu seu espírito paquerador. Já Lobo Neves, apesar de saber do adultério da esposa, fechava os olhos diante do caso, por medo da opinião alheia.

O livro é leitura obrigatória no Vestibular UEM.

Madame Bovary, de Gustave Flaubert

Madame Bovary, romance considerado pioneiro movimento realista, foi escrito por Gustave Flaubert em 1857. O livro aborda a história de Emma Bovary, que ao longo do livro do entra em depressão, endivida-se, decepciona-se com seus amantes e acaba tendo um desfecho bem infeliz.

Emma considerava sua vida monótona, seu casamento um tédio, já que não era nada parecida com aquilo que amava ler. Além disso, Charles mostra-se um marido rude, o que intensifica a insatisfação da mulher. Então, arrependida da vida que escolheu, ela busca outras formas para sentir-se feliz, encontrando no adultério, uma fuga da realidade.

Anna Kariênina, de Liev Tolstói

Este clássico da literatura russa conta a história de Anna Kariênina, casada que se apaixona por um oficial do exército, chamado Vronsky. Ao longo do romance, Tostói explora temas como amor, infidelidade, família, sociedade e a busca do sentido da vida.

“Todas as famílias felizes são iguais, mas cada família infeliz é infeliz à sua maneira.” Esta é a frase icônica com que Lev Tolstói começa o romance “Anna Kariênina”. A primeira personagem que o leitor conhece no livro não é aquela que dá nome à obra, mas seu irmão, Stiva. Ele traiu a esposa e ela descobriu, transformando uma família outrora feliz, com cinco filhos, em uma verdadeira bagunça.

Dom Casmurro, de Machado de Assis

Este clássico não poderia faltar. Dom Casmurro aborda um dos casos de traição mais famosos da literatura brasileira, uma traição que, na verdade, nem sabemos se realmente aconteceu. Afinal, Capitu traiu ou não Bentinho? A história, ambientada no Rio de Janeiro do século XIX, é contada em primeira pessoa por Bentinho, personagem principal do livro. 

Em certo momento de sua vida, Bentinho casa-se com Capitu, a famosa dona dos olhos de cigana oblíqua e dissimulada, por quem era apaixonado desde a infância. O seu melhor amigo era Escobar, casado com uma amiga de Capitu, que morreu afogado em 1871. No velório do falecido, Bento passa a duvidar da fidelidade de sua esposa, acreditando que ela o traíra com Escobar.

Sua paranóia era tanta que acreditava que seu filho Ezequiel, nome dado em homenagem ao melhor amigo, era fruto da traição de Capitu com Escobar. Em vários momentos do livro, o protagonista narra a semelhança entre a criança e seu falecido parça. Mas em outros momentos do livro, percebemos que Bentinho não se encontra totalmente são. No final das contas, paira a dúvida sobre os leitores: Capitu traiu ou não traiu?

A obra é cobrada nos vestibulares da Coltec e da UVA.