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O Jornal Opção obteve acesso exclusivo a processos que detalham um suposto esquema financeiro de venda de clubes tradicionais de Goiânia para incorporadoras da construção civil, envolvendo figuras públicas e membros de antigas administrações dessas entidades.

As novas peças judiciais se referem a uma ação civil pública movida contra o Clube Social Feminino (CSF), marcada por uma disputa política entre a atual gestão e antigos dirigentes — situação já revelada anteriormente pelo Jornal Opção.

A ação foi proposta por Cláudio Albuquerque, então suplente do Conselho Fiscal e envolvido em uma possível tentativa de esquema de rachadinha com um vereador de Goiânia, que pede a destituição da atual presidência e a convocação de uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE).

Suposto golpe interno

De acordo com o processo, um vídeo datado de abril de 2025 mostra Cláudio Albuquerque — então conselheiro — denunciando um possível golpe praticado por ex-membros da administração do CSF. O material também faz referência à venda de outro clube histórico da capital: o Clube Social Recreativo Beneficente Cruzeiro do Sul (CCS).

Fundado na década de 1970, o CCS teria sido vendido em meados de 2015 e hoje abriga a Casa Escola Montessori, no Setor Sul. “A intenção aqui é [a antiga administração] facilitar para a incorporadora comprar quatrocentas ações — metade dos títulos”, afirma Cláudio em trecho do vídeo.

Segundo o relato, o CCS teria sido alvo de um “sequestro” de títulos, com a aquisição majoritária de ações por um grupo de sócios interessados na venda do terreno. As ações, negociadas por valores baixos (inferiores a R$ 5.000), permitiriam o controle da instituição sem a compra direta da área. “Naquela época vendi as minhas ações do CSF por R$ 2.500,00. Agora, imagina o valor para uma incorporadora comprar todas essas ações do nosso clube”, relatou Cláudio.

Nomes envolvidos

Entre os nomes citados na venda do clube estão Maurício Sampaio, ex-presidente do Atlético Goianiense e condenado como mandante do assassinato do jornalista Valério Luiz, e Jovair Arantes (Republicanos), ex-deputado federal e relator do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. “Igual o Maurício Sampaio e o Jovair Arantes fizeram lá no Cruzeiro do Sul. Compraram várias ações, tiveram mais de 50% dos títulos e depois botaram os sócios para correr.”

O caso também teria motivado a entrada de Abraão Calil, atual vice-presidente do CSF e irmão do deputado federal Zacharias Calil (União Brasil). Segundo os autos, ele teria sido prejudicado na venda do Cruzeiro do Sul. “Inclusive, o Abraão veio para o CSF porque tomaram a parte dele no Cruzeiro. E agora estão querendo fazer isso aqui”, disse Cláudio.

Redução de títulos e gestão questionada

No caso do Clube Social Feminino, o suposto esquema teria se iniciado com a redução dos títulos da associação de 800 para 400 sócios no estatuo do CSF, medida que teria facilitado o controle do clube por um grupo restrito. O próximo passo seria o acúmulo de mais de uma ação em um sócio, ao qual ainda é vedado pelo CSF.

Cláudio Albuquerque afirmou ao Jornal Opção que o processo movido por ele reflete a insatisfação dos associados com a gestão da presidente Jane Moghames, que, segundo ele, possui débitos de IPTU e atua sem Conselho Deliberativo e Conselho Fiscal.

Procurada, Jane Moghames respondeu que o CSF obteve decisão judicial favorável à isenção do IPTU e que ambos os conselhos estão devidamente constituídos e representados por sócios do clube.

O Jornal Opção também buscou contato com Maurício Sampaio e Jovair Arantes, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.

Confira o vídeo:

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