Com maior número do país, Goiás abriga mais de 120 laboratórios clandestinos de cocaína
06 novembro 2025 às 10h52

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O levantamento “Floresta do Pó”, do Instituto Fogo Cruzado, apontou que Goiás concentra 125 laboratórios clandestinos de cocaína, tendo o maior número do país. O número é quase 200% maior do registrado pelo Amazonas, estado que ficou em segundo lugar com 42 laboratórios. O estudo foi organizado pela Iniciativa Negra por Uma Nova Política de Drogas e a Drug Policy Reform & Environmental Justice International Coalition, com o apoio de outras organizações, como o Instituto Fogo Cruzado.
Ao Jornal Opção, o pesquisador Daniel Edler, do Instituto Fogo Cruzado e do Instituto de Ciências Socias da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), disse que o estudo foi elaborado para mapear a abrangência do tráfico de cocaína no Brasil, considerando o número, a localização e o porte dos laboratórios usados para o refino ou a adulteração da droga. Além do tráfico interno, o levantamento também analisou os fluxos de importação e exportação do estimulante pelas três principais rotas do tráfico: Rota Caipira, Rota Amazônica e Rota Solimões.
Ao todo, foram identificados 550 laboratórios clandestinos distribuídos pelo território nacional, sendo 471 em áreas urbanas, 63 em zonas rurais e seis em regiões florestais.
A pesquisa foi realizada com base em dados públicos obtidos por meio das forças de segurança estaduais (polícias Militar e Civil) e federais (Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal), além de informações obtidas via Lei de Acesso à Informação (LAI). Para a análise, foi desenvolvido um algoritmo que catalogou os registros de operações policiais e os classificou conforme os termos utilizados nos relatórios, como “processamento de drogas” e “laboratório de refino”.
O Governo de Goiás, contudo, não cedeu informações sobre as operações, segundo o pesquisador, afirmando serem confidenciais.
O estudo também categorizou os laboratórios de acordo com sua função — refino ou adulteração/engorda — e com a escala de produção: atacado, quando voltado à produção em grande escala, e varejo, para o abastecimento local.
Entre os estados com maior incidência estão Goiás, São Paulo e Minas Gerais, por suas localizações estratégicas dentro das rotas do tráfico. Segundo Edler, Goiás ocupa posição geográfica central na Rota Caipira, funcionando como ponto de entroncamento entre regiões produtoras e centros de distribuição. “Descobrimos que existe um refino abundante em Goiás porque, a partir do Estado, a droga pode seguir para a Bahia e ser distribuída pelos estados do Nordeste, tanto para exportação quanto para consumo”, explicou.
Ou então a cocaína pode descer em direção a Minas Gerais para ser exportada por São Paulo, Rio de Janeiro ou Espírito Santo. Goiás atua como um entreposto importante da Rota Caipira.
Capacidade produtiva
Dos 125 laboratórios localizados em Goiás, 44 possuem alta capacidade produtiva (acima de 20 kg), 20 são voltados ao refino e 24 à adulteração. A cocaína refinada no Estado tem origem, principalmente, na pasta base que entra pelo Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, vinda da Colômbia e da Bolívia. “Verificamos que em Goiás há tanto laboratórios ligados ao atacado quanto estruturas voltadas à adulteração para consumo interno, inclusive, destinado a Brasília. Mas também identificamos distribuição capilarizada para outros estados”, detalhou o pesquisador.
Diante deste problema, Edler afirma que o número encontrado pode representar apenas uma fração de 10% ou 20% dos laboratórios que existem no país, mas que não foram desmantelados, baseado em estimativas da Polícia Federal. Com isso, número de laboratórios no país pode chegar a 5 mil unidades em operação.
Resposta do governo
Para o secretário de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO), Renato Brum, os laboratórios citados no estudo correspondem, em grande parte, a estruturas já desmanteladas pelas forças de segurança estaduais. “Tivemos uma proatividade muito grande, com diversas prisões e apreensões. É natural que o número de laboratórios identificados aumente proporcionalmente às ações das forças de segurança”, afirmou.
O secretário também destacou a importância da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO/GO) no enfrentamento ao tráfico. “A PRF faz um trabalho fundamental de integração com a Polícia Federal e conosco. Além disso, a FICCO/GO está em funcionamento, reunindo diferentes forças que trocam informações e planejam operações conjuntas”, disse.
Há um esforço importante de cooperação entre as forças de segurança estaduais e federais, o que tem resultado em apreensões substanciais de drogas em Goiás.
