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Um novo homem. É assim que Daniel Londres, de 30 anos, pode ser definido. O empresário, músico e multiatleta sofreu uma descarga elétrica de 37,5 mil volts há cerca de 10 anos. Na época, o também modelo e DJ trabalhava como eletricista em um prédio em construção na capital. 

Desde o acidente que lhe custou a mão direita e parte do calcanhar esquerdo, Daniel travou muitas batalhas, tanto pela adaptação de não ter os membros, quanto pelo preconceito enfrentado pela falta dos mesmos. O músico, no entanto, não se deixou abater e conseguiu superar todos os obstáculos.

“As pessoas olham diferente para mim. Às vezes é porque chama atenção, por curiosidade. Tem vez que sinto aquela sensação que a pessoa subestima muito, sabe. Elas me tratam como se eu fosse um coitado. Essa é a sensação que mais percebo”, explicou.

Acidente

Daniel levou a descarga elétrica enquanto estava no serviço, no ano de 2012, após jogar um rolo de fios para fora do prédio. O material foi puxado por uma rede de alta tensão que ficava próxima ao local, ocasionando o acidente. O choque, de acordo com Daniel, entrou em seu corpo pela mão direita e saiu em diferentes áreas do seu corpo como: cabeça, calcanhar direito e costas. 

O músico diz que após receber o choque, caiu com o corpo pegando fogo do sexto andar, local em que estava implantando a fiação. Depois do acidente, ele precisou passar por 112 cirurgias, além de ficar em coma por 44 dias.

“Minhas luvas grudaram nas minhas mãos. O tendão do pé direito foi destruído pelo choque quando saiu do meu corpo. Fiquei muito lesionado, a minha pele teve de ser praticamente trocada. Precisei fazer várias sessões de enxerto. Os médicos tiravam a pele da minha cabeça para preencher outros lugares. Também quebrei alguns ossos que perfuraram meu pulmão”, diz.

Choque de realidade

Segundo o empresário, ao acordar do coma, a sua esposa Jaqueline Jornada, de 28 anos, explicou o que tinha acontecido. Ele diz que estava confuso e que até aquele momento tinha perdido apenas alguns dedos da mão. Porém, teve um sonho que mudaria a sua vida.

“Eu nunca fui de acreditar nestas coisas, mas de repente tive um sonho que eu perdia a mão e brincava com duas crianças de luta e falava: vocês estão muitos moles. O papai só tem uma mão e vocês duas”.

Determinado, Daniel chamou o médico ao acordar e pediu para que amputasse a sua mão. Entretanto, o médico recusou o seu pedido e disse que tentaria ‘salvar’ pelo menos a palma da sua mão.

“Rebati ele e falei que não queria, ele se virou para mim e falou que se alguém assinasse uma autorização ele faria a operação como pedi. A minha esposa me perguntou se era isso que eu queria, disse que sim, e logo depois ela e meu pai assinaram. A operação foi um sucesso, porque o osso da minha mão estava queimado”.

Superação

Segundo Jaqueline, Daniel reagiu aos acidentes de uma forma diferente, pois sempre teve muita vontade de viver e lutar a cada minuto para se recuperar, não demonstrando fraqueza.

“Ele nunca reclamou e nem questionou o acidente. Muito pelo contrário, sempre surpreendia os médicos que no começo falavam que se ele sobrevivesse não iria andar e nem falar, mas foi totalmente ao contrário, ele reagiu muito rápido a tudo. Não foi fácil de forma alguma, porém, a sua força de vontade para se readaptar foi muito grande e hoje ele tem uma vida normal”, diz Jaqueline.

Exemplo de superação

Depois de meses lutando para se recuperar, Daniel superou o acidente e se tornou um verdadeiro exemplo de superação. Hoje, quase dez anos depois da descarga elétrica que quase tirou a sua vida, o músico não sente o peso das sequelas e segue realizando os seus sonhos com a família.

“O que é para uma pessoa passar, outra não vai passar, tudo é na vontade de Deus. Se Deus quiser assim, não há motivos para ficar contrariado, já que minha mão não irá regenerar. Acho que isso me fez ser uma pessoa melhor, fez que eu me superasse”.

Adaptações

Daniel comenta que sempre foi muito adaptado às circunstâncias, mas que se deparou com dificuldades após sofrer o acidente. De acordo com ele, nos primeiros meses o seu foco foi em voltar a andar, já que conseguia se mover apenas de muletas. Posteriormente, o empresário começou a mover seus esforços à música, sua maior paixão.

“Hoje eu toco trompete em uma orquestra de Goiânia, entrei no mundo da música por meio do baixo, mas fui me adaptando para tocar outro instrumento, devido à falta de uma das mãos. Além do trompete, também me arrisco a tocar algumas melodias de violão”.

Esportes

Daniel comenta que também tem afinidade pelos esportes, como futebol, vôlei, tênis de mesa, musculação e até esportes herquertes (com cavalos). Ele cria e doma cavalos, além de participar de competições de marcha.

“Quando era criança morava em uma fazenda e criava cavalos com o meu pai. Minhas raízes são da zona rural, quando fiquei mais velho meu pai começou a focar mais nessa questão de animais, já que ele sabia que eu gostava. Então comecei alguns cursos de domador. O primeiro cavalo que domei eu tinha 12 anos. Aí veio o acidente, e tive que ir me adaptando, o maior problema foi o equilíbrio do meu corpo. Ele não era mais o mesmo, quando você perde um membro é diferente”.

O empresário conta ainda que passou dois anos longe de outra paixão, pilotar motocicletas. 

“Após me recuperar, consegui o direito na justiça de pilotar motocicletas sem uma das mãos. Minha moto tem duas adaptações, a primeira é o acelerador do lado esquerdo e a outra é o freio”, explica.

Família

Mesmo com tantos problemas e desafios, o maior ‘baque’ que Daniel levou foi a notícia de que não poderia ter filhos. Ele explica que ainda no hospital escutou do médico que o acidente havia o deixado estéreo. A notícia também afetou a sua esposa Jaqueline, já que na época do acidente o casal tinha apenas dois meses de casados.

“Na hora foi um choque, eu e minha esposa ficamos preocupados, afinal, quem não quer ter uma família. No entanto, eu tinha a confiança que aquele sonho iria se realizar de uma forma ou de outra, fiz o exame e descobri que fiquei estéreo apenas de um testículo. Posteriormente, tive dois filhos com a minha esposa, o Henrique Daniel, de 8 anos. e o Felipe Daniel, de 4 anos. O Henrique nasceu três anos após o acidente”, concluiu Daniel.