Shakespeare recebeu “influência” de Ovídio para a criação de Romeu e Julieta

04 outubro 2020 às 00h00

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Como notou Harold Bloom, em “A Angústia da Influência”, um escritor é tributário de outro e pode criar uma nova tradição
Séculos antes de Cristo, nos tempos babilônicos, a tradição oral foi repassando a lenda de bela e trágica história de amor que Ovídio, na aurora da Era cristã, narrou no livro “As Metamorfoses”.
É a história de Píramo e Tisbe. Ela dona de inexcedível beleza, sobrepujando todas as donzelas que o Oriente viu nascer.

Os jovens viviam em casas contíguas onde Semíramis erigiu uma grande cidade com muralhas de tijolos. O amor que brota entre ambos é abafado pela hostilidade entre as suas famílias e, como não podem viver seus sentimentos recíprocos, encaminham-se para o desfecho inexorável da morte.
A lenda é semelhante à dos amantes Romeu Montague e Julieta Capuleto, que teriam vivido em Verona, Itália, no ápice da Idade Média. O irredutível amor entre ambos derivou para a tragédia que Shakespeare imortalizou em uma das mais belas produções literárias de todos os tempos.

Shakespeare recriou Ovídio, evidentemente. E fez da tragédia de Romeu e Julieta exuberante comprovação literária de que a grande obra artística não tem de ser necessariamente enraizada na absoluta originalidade. Inspirando-se em Ovídio, Shakespeare, em vez de reduzir, ampliou a dimensão de um caso trágico de amor.
Vale, porém, ressaltar a opinião do grande crítico americano Harold Bloom, no livro “Shakespeare — A Invenção do Humano” (Objetiva, 896 páginas, tradução de José Roberto O’Shea): “Chaucer, e não Ovídio ou Marlowe, foi o mentor do que há de mais original em Shakespeare, a invenção do humano. (…) As ironias do Tempo governam o amor em Chaucer, assim como o fazem em ‘Romeu e Julieta’”.