A maior competição esportiva do planeta está repleta de fortes simbolismos geopolíticos enquanto a bola rola dentro de campo

17 junho 2014 às 09h01

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Com direito a Angela Merkel na Arena Fonte (BA), goleada da Alemanha parecia ser claro recado de que alemães, detentores da economia mais saudável do velho continente, são senhores de toda a Europa
A Copa do Mundo de futebol é o maior evento esportista do planeta, em que 32 seleções nacionais brigam pela tão sonhada taça de campeão do mundo. Uma coisa que chama atenção nesta edição do mundial são algumas coincidências de dentro de campo que remetem a questão fora das quatro linhas, que envolvem a geopolítica mundial.
Começando pelo anfitrião do evento: o Brasil. Nosso País bancou esta aventura de sediar uma Copa do Mundo numa clara tentativa de se auto afirmar como um gigante dentre os BRICS (bloco formado por países emergentes como, Rússia, Índia, China e África do Sul). Em tempos de crise econômica ter o poder de bancar um evento desta magnitude, seguida pelos Jogos Olímpicos em 2016 no Rio de Janeiro, demonstra a vontade do gigante da América do Sul em querer obter prestígio globalmente.
Hoje (17) é dia de Brasil e México, o confronto das duas maiores economias latino-americanas. Os mexicanos lideram a Aliança do Pacífico, um bloco econômico rival do Mercosul, formados pelo Peru, Chile e Colômbia. Já o Brasil tenta se consolidar como uma liderança econômica, política e militar, na região austral das Américas.
Outra situação que chamou a atenção pelo forte simbolismo foi um dos confrontos de segunda-feira (16), pela grupo G, entre Alemanha e Portugal. Os alemães golearam os portugueses pelo placar de 4 x 0. Mesmo com o melhor jogador da atualidade em campo, o atacante Cristiano Ronaldo, os lusitanos nada podia fazer para deter a blitz germânica.
Com direito a chanceler alemã presente na Arena Fonte Nova em Salvador (BA), a goleada da Alemanha parecia ser um claro recado de que os alemães, detentores da economia mais saudável do velho continente, são os senhores de toda a Europa. Era como se a equipe do atacante Thomas Muller, que marcou três gols na partida, dissesse em alto e bom som aos portugueses: “além de economia também podemos ensinar futebol”. Portugal, de economia arruinada, faz parte do grupo de países europeus que juntamente com a Irlanda, Grécia e Espanha, formam os PIGS.
Um fato que saltou aos olhos mais perspicazes e que remeteu à geopolítica do mundo foi a presença de uma faixa no Maracanã, com a frase “Las Malvinas son argentinas”, na partida entre Argentina e Bósnia Herzegovina, ganha pelos sul-americanos pelo placar de 2 x 1. A disputa pelo controle das Ilhas Malvinas/Falklands é uma pendencia nacional dos argentinos que em 1982 recorreram às armas para tomar o arquipélago de população de pouco mais de 2 mil descendente de ingleses, galeses, escoceses e irlandeses.
Numa rápida e sofisticada operação de guerra, as forças armadas de vossa majestade expulsaram os militares argentinos vencendo o maior conflito armado deflagrado no Atlântico Sul no século 20. Na Copa de 1986, no México, ingleses e argentinos se enfrentaram mais uma vez, desta vez nos gramados, numa partida marcada pela atuação do camisa 10 da Argentina, Diego Armando Maradona. “El dios”, como é chamado pelos seus compatriotas, após driblar meia dúzia de marcadores britânicos matou a bola no fundo das redes, lavando assim a alma de seu País que, quatro anos antes, saiu derrotado nos campos de batalha.
Outra situação que poderá acontecer é o confronto nas oitavas de finais entre Estados Unidos e Rússia. Se os americanos forem primeiro do grupo G e os russos classificarem em segundo do H, os grandes rivais e antagonistas da geopolítica mundial podem se enfrentar dentro de campo no dia 30 de junho em Porto Alegre. Depois que a Crimeia foi anexada à Federação Russa, os americanos esfriaram as relações com Moscou.
A seleção dos Estados Unidos, aliás, está concentrada a poucos quilômetros da seleção iraniana, em São Paulo. Depois de brasileiros e argentinos, os americanos foram os maiores compradores de ingresso desta Copa. Na terra onde a paixão nacional é pela bola oval, o futebol tem despertado grande interesse nos Estados Unidos, sendo que a média de público na liga estadunidense de “soccer” é de 40 mil expectadores. Seria este um sinal da influência da população latina, mais especialmente a mexicana, que a cada ano ganha mais força na política, economia e cultura americana?