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ARNALDO B. S. NETO

Vejo muita gente reclamando da qualidade dos nossos deputados. Então, jovens, vamos fazer um pequeno exercício de imaginação e de realismo político.

Dois deputados, João e Manuel, se elegem no mesmo ano. João é íntegro e cheio de ideias. Manuel, nem tanto. João permanece crítico ao governo, independente, aferrado às suas convicções. Manuel aproveita cada votação para barganhar cargos, liberação de emendas, ajuda para a campanha, proximidade com o poder, trânsito para resolver problemas de seus eleitores e apoiadores.

Manuel até troca de partido para continuar apoiando o governo da vez e mantendo o acesso aos benefícios que a proximidade do poder proporciona. Se não está com o poder federal, Manuel está com o estadual, mas certamente está próximo ao poder, a qualquer poder. Não interessa muito, pois tanto União quanto Estados possuem muitos mecanismos legais de cooptação de deputados. Aderir a um governo estadual, por exemplo, e votar de forma canina a favor do governador, renderá a possibilidade de nomear dezenas de cargos comissionados.
João e Manuel vão disputar as próximas eleições. João, dom quixote solitário, vai na cara e na coragem, pegando empréstimo para pagar despesas de campanha. Manuel “nomeou” sessenta comissionados, logo terá sessenta cabos eleitorais. Sua lista de clientes e pessoas que lhe devem favores enche um caderno. Um terá suas ideias e sua integridade. O outro terá dinheiro, cabos eleitorais, favores que poderá cobrar, emendas que liberou e que serão lembradas aos eleitores da sua clientela. Quem vocês acham que terá mais chances de se eleger?

Se você teve paciência de ler as linhas acima, vai entender que nosso atual Parlamento é fruto de um largo processo de involução. Quanto mais venal é um deputado, quanto mais aberto for para negociar, mais chances teve e terá de se manter no jogo. Isto vale para todos?

Certamente que não. Existem exceções. Mas vale para uma boa parte. No atual momento viram que o Executivo que os alimentou e estimulou por três décadas (todos os governantes da redemocratização agiram assim, sem exceção) está ocupado por uma presidente fraca. Não vai poder dar a eles o combustível de que precisam. Também se assustaram com as manifestações e com a rejeição da opinião pública. Não tiveram dúvidas de votar pelo impedimento.

A vida é assim. Você colhe o que planta. Apoiar este sistema de milhares de cargos comissionados de livre nomeação, esta miríade de empresas estatais (são mais de 100 na esfera federal), o sistema de compra de apoios com emendas parlamentares, tudo isso para depois querer um Parlamento mais qualificado? Eu acho um contrassenso. Você quer a quadratura do círculo.

Você colhe o que você planta. O presidencialismo de coalizão que temos é isso aí: você vota para deputado em qualquer um. O voto decisivo vai ser para presidente, não é? Em seguida temos um Congresso sem nenhuma responsabilidade com a governabilidade. Um Congresso que está ali apenas para negociar as vantagens que farão seus membros novamente serem reeleitos.

Este Parlamento que está aí é fruto de décadas de cooptação pelo Executivo. Funcionou muito bem enquanto o chefe de governo tinha carisma e força política. E desmoronou na primeira onda de impopularidade de uma governante.

Você acha que isso se resolve apenas com financiamento público? Ok. Então refaça o exemplo acima, com o João e o Manuel e ponha na equação que os mesmos receberão a mesma quantia de financiamento público. Mesmo assim, diante dos outros fatores, quem terá mais chances de se reeleger? A equação continuará igual. Manuel terá todas as vantagens. E, a cada eleição, mais e mais membros do “baixo clero” estarão dominando o jogo.

Isto é Darwin, amigos. O cara que mostrou que seleção tem a ver com adaptação. E adaptação não quer dizer que ocorreu algo para melhor. No caso, escolhemos deliberadamente selecionar sempre os piores. Chegamos ao Congresso kakistocrático. O Congresso dos piores.
São as regras que fazem a diferença. Mude as regras e quem sabe daqui a alguns anos tenhamos um Parlamento melhor. Até lá, conformem-se e economizem vossa filosofia moral. A gente colhe somente o que planta.

ARNALDO B. S. NETO é doutor em Direito Público pela Universidade Vale dos Sinos (Unisinos/RS) e professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás (UFG).

“Por que é a alta a incidência de câncer na próstata?”

FÁBIO COIMBRA

Li o artigo, do dr. Rafael Macedo Mustafé, “Ejaculações frequentes diminuem a incidência de câncer de próstata?” (Jornal Opção 2130). De fato, é consistente. O autor expõe as ideias básicas do estudo “Ejaculation frequency and risk of prostate cancer: updated results with an additional decade of follow-up”, publicado no periódico científico “European Urology”, apresentando-as cuidadosa e meticulosamente. Depois, revelando equilíbrio e conhecimento, procede a uma crítica pertinente, quero dizer, ressalvas apropriadas. Como não se trata de um texto extenso, e tem finalidade específica, avaliar um estudo sobre um tema determinado, restou ao menos uma dúvida, que gostaria de ver esclarecida: por qual motivo é alta a incidência de câncer na próstata? No pulmão tem a ver com cigarro, por exemplo. Mas e na próstata?

Fábio Coimbra é doutor em Ciências Sociais.

“É melhor viver e não se preocupar excessivamente”

RAFAEL MACEDO MUSTAFÉ

Em resposta ao sr. Fábio Coimbra, tenho a dizer que as causas do câncer de próstata são os fatores de risco não modificáveis que citei — sendo o principal a idade. Hoje, com as pessoas vivendo mais, aumenta a possibilidade de desenvolver doenças degenerativas e neoplasias. Houve uma época em que as pessoas morriam de doenças infecciosas e não chegavam a desenvolver tantos problemas cardíacos, degenerativos ou neoplasias. Infelizmente, é algo que foge do nosso controle, como muitas coisas na vida.

Nossa lógica e necessidade de buscar sempre uma causa bem estabelecida para os fenômenos que observamos têm a ver com o nosso conforto cognitivo de sentir que temos o controle de tudo. Na verdade, não temos. Muitos dos fenômenos que observamos são complexos e não têm uma causa única e de fácil controle. Até o câncer de pulmão não tem a ver apenas com o cigarro. A verdade é que somos todos vulneráveis. Então é melhor viver e não se preocupar excessivamente.

Rafael Macedo Mustafé é médico.

“E se os comunistas tivessem sido vitoriosos?”

LENA CASTELLO BRANCO

Sobre o texto “Livro revela conteúdo de documentos para Fidel Castro e diz que Cuba financiou guerrilha em Goiás” (Jornal Opção 2130), é bom conhecer o depoimento de ex-participantes das guerrilhas que abandonaram ideias e práticas totalitárias. Vê-se que os guerrilheiros não eram jovens românticos lutando pela democracia no Brasil. Tinham treinamento no exterior e recebiam financiamento cubano. Também tinham objetivo definido: a implantação do regime cubano-comunista-marxista no país. E se eles tivessem sido vitoriosos naquele momento histórico?

Lena Castello Branco é escritora e professora.

“Boa ‘república das bananas’ é a que se assume como tal”

LUIZ SIGNATES

Qualquer das soluções postas para tirar Dilma Rousseff implicaria primeiramente alterar a Constituição. Um casuísmo para resolver o problema dos que o criaram. É mais fácil desobedecer a Constituição no mérito, cumprindo o rito constitucional para aparentar legitimidade. Afinal, a questão, na verdade, é tomar o poder. O resto é discussão vazia.
Assumir que é golpe é um avanço do retrocesso. Boa “república das bananas” é a que se assume como tal. O tema da “necessidade” é a parte hilária da questão. Pena que humor dessa proporção só tem graça quando a gente não tem que pagar a conta. [“Impeachment nada mais é que um golpe necessário”, Jornal Opção 2130]

Luiz Signates é analista político e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG).