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Pedro Baima

A elaboração de políticas públicas é uma reunião de agentes públicos, agentes privados e outros cidadãos e, todos os dias, gestores participam da elaboração de políticas públicas que afetam positiva ou negativamente a vida de milhares de pessoas. Entre­tanto, existe historicamente uma assimetria de poder e de saber que legitima muitas injustiças e que impedem a elaboração de políticas públicas equânimes.

Tenho percebido que existe uma contradição da prática no trabalho do elaborador de política pública que o antropólogo Johannes Fabian chama de aporia, isto é, uma distância entre o estudo de campo e a elaboração do projeto por falta de uma interação comunicativa com o Outro, que são os cidadãos que terão suas vidas impactadas pela política pública. E para romper com essa distância, tenho sugerido a adoção do tempo intersubjetivo compartilhado e de maneira coeva na elaboração dessas políticas públicas.

O contrário do tempo coevo é a negação da coetaneidade, que muitas vezes é proporcionada pela ênfase da visão dos policy-makers sobre a sociedade à singeleza da audição, e que estando em tempo diferente dos demais atores, o tempo do progresso, do desenvolvimento e da modernidade, partem de uma visão evolutiva como ponto de partida. Quando nos posicionamos assim, todas as afirmações sobre os outros passam a se relacionar com as nossas experiências como observadores e que, portanto, não passam de representações da realidade.

Se conhecimento é poder, há uma brecha que favorece a assimetria de poder e de saber dos atores envolvidos nessas políticas quando a racionalidade científica exige a imparcialidade ou neutralidade do gestor, pesquisador ou outro operador dessa lógica que fundamenta nosso saber, neutralidade muito comum nas chamadas hard sciences. Nesse caso, o uso do Tempo quase invariavelmente é feito com o propósito de distanciar aqueles que são observados do Tempo do observador e se tornam discursos imperialistas que buscam o direito de ocupar os espaços “vazios”, subutilizados e subdesenvolvidos para o bem comum da sociedade, mas que na verdade não passam de mecanismos de dominação praticados pelas classes dominantes.

Dessa maneira, o Tempo intersubjetivo parece impedir qualquer tipo de distanciamento, haja vista que a interação social pressupõe intersubjetividade, mas para isso, os atores envolvidos devem assumir o mesmo tempo coevos, isto é, contemporâneos, sem hierarquizações temporais que colocam os atores em posições opostas como desenvolvidos e subdesenvolvidos, capazes de propor soluções e os incapazes, para assim criar um Tempo compartilhado. Ou os gestores se submetem à condição da coetaneidade e lançam mão de um conhecimento etnográfico para alcançar políticas públicas mais justas por meio de investigações e da práxis intersubjetiva ou se iludem na distância temporal e não alcançam a equidade.

É fundamental que a elaboração, aplicação e avaliação das políticas ocorram de maneira coeva, com base no Tempo intersubjetivo compartilhado e na contemporaneidade intersocial. Para tanto, devemos superar também a função ideológica dos discursos de progresso, avanço e desenvolvimento que ocultam a contingência temporal da expansão capitalista entendendo que essa negação da coetaneidade é um ato político, e não apenas discursivo. A coetaneidade, portanto, busca reconhecer a contemporaneidade como condição verdadeiramente dialética entre as pessoas, pois ela milita contra falsas concepções da dialética, abstrações binárias que são impingidas como contradições como novo e velho, atrasado e evoluído etc.

Dia 25 de agosto às 9 horas, em reunião ordinária, vou propor ao Conselho Municipal de Meio Ambiente (Commam) a criação de uma Câmara Técnica que terá o objetivo de ouvir as pessoas impactadas por projetos ambientais durante a sua elaboração, e não apenas após a sua conclusão, para quem sabe assim, pavimentar a estrada que nos levará à efetiva participação, controle popular dos projetos e apropriação dos conselhos pela sociedade. Você é meu convidado.

Pedro Baima é conselheiro no Conselho Municipal de Meio Ambiente de Goiânia. Email: [email protected]

“Mediocridade, incompetência e autoritarismo”

Jales Naves

A gestão da Pontifícia Univer­sidade Católica de Goiás, desde que Wolmir Amado assumiu a Reitoria, tem sido lamentável: pela incompetência; mediocridade; autoritarismo e prepotência; pela omissão da Igreja. Conheci de perto essa arrogância. Todos conhecem os problemas. Não há diálogo e sobram vaidades, bajulações e servilismo. Quando os servidores passam a conhecer os dirigentes da instituição, vão se distanciando e muitos logo são demitidos, sem qualquer justificativa. Não há na PUC Goiás uma política para valorizar e estimular a produção científica, a pesquisa, para que a Universidade cumpra o seu real papel.

O trabalho do professor Altair Sales Barbosa é reconhecido nacional e internacionalmente, pela sua competência, dedicação, conhecimentos e determinação. O desfecho agora conhecido é resultado de perseguições, desprezo, humilhações e inveja. Ele foi um exemplo. Realizou muito, projetou a instituição, carreou recursos para as diversas atividades que liderou, implantou e consolidou, como o Instituto Goiano de Pré-História e Antro­pologia (IGPA), o Instituto do Trópico Subúmido (ITS) e o Memorial Cerrado, todos grandes centros de estudos, experimentações e pesquisas. Não foi devidamente valorizado, reconhece que a Universidade não tem um projeto claro e voltado para a região, e optou pela demissão voluntária. Uma pessoa admirada e respeitada.

Só temos a lamentar a saída de uma pessoa brilhante, estudiosa, um pesquisador, que sabe fazer e fez. Perdem Goiás, a pesquisa, o Cerrado e todos nós.

Jales Naves é escritor.

Artigo aprovado em congresso internacional

As servidoras Simone Domin­gues e Dayse Mysmar, do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO), tiveram artigo aprovado no Congresso Internacional de Edu­cação à Distância. O artigo expõe que o Plano Nacional de Capacita­ção Judicial de magistrados e servidores do Poder Judiciário (PNCJ) inclui apenas os aspectos comuns aos distintos ramos do Poder Judi­ciário, cabendo ao TJ desen­volver seus programas específicos, incrementando-os de acordo com suas características e necessidades próprias, ajustando-se ao Plano Permanente de Capa­citação (PPC). De acordo com as autoras, “o trabalho é uma oportunidade única e essencial para a representação do Poder Judiciário de Goiás em um evento internacional, demonstrando como o órgão supre a necessidade de qualificar e aperfeiçoar seus servidores, atendendo à demanda imposta pela sociedade na exigência de uma prestação jurisdicional com eficiência, conforme normatização do Conselho Nacional de Justiça. Constitui ainda o conjunto de diretrizes norteadoras das ações promovidas pelas escolas judiciais brasileiras na formação e aperfeiçoamento de magistrados e servidores do Poder Judiciário, integrando-as a um sistema harmônico e conjugando os esforços de cada uma, na busca do ideal comum de excelência técnica e ética da magistratura nacional e dos servidores da justiça”.

 

“Que alguma grande universidade cuide de absorver o passe – agora livre – do grande mestre do Cerrado Brasileiro”

Luiz de Aquino Alves Neto

Sobre a nota “Pressionado, Altair Sales, o cientista que mais entende de Cerrado no Brasil, pede demissão da PUC-GO” (Jornal Opção, coluna Imprensa, 2091):

Conheci Altair Sales Barbosa em nosso primeiro ano do curso de Geografia, na então Universidade Católica de Goiás. Atuamos juntos naqueles primeiros anos acadêmicos. Vi-o trancar a matrícula para, logo após concluído o segundo ano, acompanhar o Padre Schmidt, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), a uma longa jornada de pesquisa no deserto de Atacama, no Chile. Desde então, se tornou pesquisador, inicialmente; tão logo graduou-se, passou a professor.

Fundou o Instituto de Pré-História e Arqueologia e, depois, o Instituto do Trópico Subúmido. Antes, na nossa condição de jovens universitários iniciantes, fundamos, juntos, o Instituto Geográfico de Estudos e Pesquisas (Igep), que o ministro Jarbas Passarinho, da Educação, mandou fechar porque os poderosos da ditadura tinham medo de organizações estudantis, ainda que desprovidas de propósitos políticos.

Acompanho a vida desse querido amigo e muito distinto cientista há muitas décadas (em abril de 1968, escapamos dos tiros da PM na Catedral; dias depois, escapamos novamente dos tiros na Praça do Bandeirante, quando o coronel Pitanga mandou descer a “mutamba” na pele da estudantada que gostava da Liberdade e dos direitos civis). Vi-o crescer sempre, tornar-se mestre e depois doutor; tenho a honra do meu nome listado entre as pessoas a quem ele dedicou sua tese de doutorado e o orgulho de ostentar, no meu livro “Poemas de amor e Terra”, belíssimo texto crítico no qual ele sempre me “acusa” de ter trocado a Geografia pela Poesia e a Boemia.

Alonguei-me demais, mas ainda não acabei. Uma assessora não nominada na matéria diz que Altair Sales Barbosa é enganador. Se a referência se faz ao cientista, ao professor e ao homem Altair, contesto-a com veemência – mas se foi o caso de ela alimentar sonhos em torno da pessoa de Altair Sales Barbosa, lamento muito; ela pode ter sido vítima, sim, mas de algum autoengano.

Infelizmente, o prejuízo recai não somente sobre a instituição Pontifícia Universidade Católica de Goiás, mas sobre a comunidade acadêmica brasileira como um todo! Que alguma grande universidade cuide, muito rapidamente, de absorver o passe – agora livre – do grande mestre do Cerrado Brasileiro!

Luiz de Aquino Alves é poeta.