COMPARTILHAR

Antônio Lopes

O ídolo adolescente Justin Bieber disse: “Escola é uma droga. Eu quero que o meu mundo seja divertido. Sem regras, sem pais, sem nada. Como se ninguém pudesse me parar” . A mídia local estampa a manchete da prisão de mais um sujeito sem face da sociedade apressada, banal e violenta. Redundam hipocrisias, normas, empurra a geração pós-moderna e efêmera estruturada na era dos signos, contemporânea, que assinala o território mental da vida remanescente do século passado, uma conjuntura que, de acordo com Hobsbawm, tornou “o mundo, ou seus aspectos relevantes, tornou-se pós-industrial, pós-imperial, pós-moderno, pós-estruturalista, pós-marxista, pós-Gutemberg, qualquer coisa”.

Preso pela Polícia Militar nada mais que um homem, estanque ao corpo de menino, 10 anos de idade, junto a três outros adolescentes de 17 anos, apreendidos por fumar maconha, substância ilícita (Lei de Drogas 11.343/06) na periferia de Goiânia. Há um dito popular que ensina, a partir da história de um Brasil “descoberto, catequizado, explorado e expropriado” que existem leis e “leis”, segundo o barão de Montesquieu: “Quando vou a um país, não examino se há boas leis, mas se as que lá existem são executadas, pois boas leis há por toda parte”.

No local do “crime”, a casa suja desmorona – destoa das mansões instaladas pelo cifrão em condomínios de luxo ou aquários sociais –, abriga e esconde jovens pobres alienados pelo tráfico articulado os quais tocam a “vida loka”. A pistola calibre ponto 45 e 300 gramas de cocaína denunciam o consumo e tráfico de substâncias; numa foto a criança segura seu brinquedo: uma arma de verdade, e, de fogo; o aparelho celular vaza áudios e vídeos que dão o tom de ameaça: “E aí, doido! Quem mandou foto minha aí vai cair na bala”. Provas materiais de uma “contravenção” abstrata, notícia que é raspa no prato do debate, denúncia da realidade concreta, “proposta de salário fácil” pago ao soldado da vida bandida protegida, proporcionada e assassinada pela máfia do tráfico organizado. Segundo Hart, “não precisamos apenas compreender os resultados de uma política, mas também analisar determinadas formas pelas quais as estratégias de combate ao uso de drogas vieram a ser usadas para fins políticos”.

Para entender os verdadeiros efeitos das drogas sobre o comportamento e a fisiologia do usuário, é preciso estancar a hemorragia social de uma realidade provocada pelo nome da rua onde aconteceu o fato: Avenida Canaã, para muitos cristãos, a cidade bíblica, ou lugar que tem em abundância “leite e mel”, propiciador de conquistas materiais retratadas pelos fetiches capitalistas. Trespassada pela violência concreta, toda uma região, onde, muito antes da introdução da maconha e outras drogas, diversas famílias já eram esfaceladas pelo racismo institucionalizado, a pobreza e outras forças, como a do mercado imobiliário, alimentando a patologia social constatada em outros pontos da metrópole erguida para abrigar 50 mil habitantes. O serviço social determina a questão como resultado do processo histórico-político do modo de produção capitalista moderno, monopolista cumulativo, escancara sua consequência imediata, a desigualdade fomentada na má distribuição da riqueza socialmente produzida, fenômeno que alavanca a vulnerabilidade social e determina a luta de classes, história mal contada a partir dos vencedores ou a miséria da razão.

A Carta Magna de 1988 esclarece que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei; por isso, pelo fato de ser justa a garantia dos direitos e a proteção à infância e adolescência brasileira, o ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente] deve ser lei, e como tal deve ser cumprido por todos”.

O senso comum e hipocrisias da moral inundam a discussão sobre a expressão social da droga, enterra sua condição ontológica ao sugar direito, liberdade e saúde, estampa a mídia impressa que vocifera e lucra com a novidade da velha mentira que culpa o sujeito e não a droga. A realidade antropofágica de um garoto de 10 anos, “boca”, “gerente” ou “patrão” obrigado a comer sua própria história, coloca em xeque sua restrição de liberdade, denuncia o sistema que omite a criança, seus hormônios e sua adolescência. A coletividade, ocupada e covarde, endossa a negação de direito avalizada pela assistência social desarmada em conhecimento da causa e comprometida com o poder, revela-se incapaz de questionar e processar, ao contrário do menino, o Estado.

Enquanto isso, na esquina, e, lá fora, direitos são negados, o sistema se omite, o baseado queima. A “boca”, braço lucrativo do Estado paralelo, retrata duas falácias: a do sistema capitalista e a do Estado. E o pulso ainda pulsa.

Antônio Lopes é filósofo e mestre em Serviço Social pela PUC-GO.

“Henry McCullough criou um dos solos mais bonitos do rock”

João Paulo Lopes Tito

Henry McCullough, guitarrista do Wings (já que a banda acabou, não tem por que dizer que ele é ex-guitarrista, não é verdade?), faleceu dia 14 de junho, aos 72 anos. Ele ajudou a moldar o álbum “Red Rose Spee­dway” (1973) e criou um dos solos mais bonitos do rock’n roll, a partir dos dois minutos do hit “My Love” (dizem que Paul McCartney ficou perplexo ao ouvi-lo pela primeira vez). Achei que valia a menção, pelo muito que fez em tão pouco.

João Paulo Lopes Tito é assessor jurídico no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO).

 “Não somos mais o País do futebol”

Arnaldo B. S. Neto

Quando eu era garoto, nossa seleção era objeto de devoção. Sugerir que não éramos simplesmente os melhores do mundo não passava pela cabeça de ninguém. Éramos os colecionadores de Copas, o celeiro dos craques, a pátria de Pelé e Garrincha. Isso parece que acabou. Não somos mais o País do futebol. Esta é, provavelmente, a única dimensão da sociedade brasileira em que passamos da glória para a decadência (nas demais, nunca fomos gloriosos). Mas nem por isso vou deixar de dormir.

Arnaldo B. S. Neto é professor da Faculdade de Direito da UFG.

“Brexit foi uma vitória da xenofobia”

Wellington dos Santos

Aqui no olho do furacão, a percepção é de que foi uma vitória da xenofobia. Toda a campanha para o Brexit [expressão resultante da fusão das palavras “Britain” (Grã-Bretanha) e “exit” (“saída”, em inglês)] foi baseada em cima do ódio e da raiva sobre os imigrantes. O que se sente é que não querem nenhum tipo de imigrante em UK. Mas se esqueceram de que esses mesmos imigrantes pagam uma bolada em impostos e que virá uma retaliação forte, por parte da União Europeia (UE), para servir de exemplo para outros países não seguirem o mesmo caminho do Reino Unido. Ainda sobre os imigrantes, os que eles mais odeiam – indianos, paquistaneses e africanos – em sua maioria têm documentação inglesa, pois a imigração deles para cá aconteceu há vários anos desde a reconstrução de Londres após a Segunda Guerra Mundial. No final, foi um tiro no pé. O primeiro ministro incendiou a casa para salvar os móveis e acabou sem a casa e sem os móveis.

Wellington dos Santos é goiano e mora em Londres.

“Nada de positivo para o Reino Unido com sua saída do bloco”

Itamar Oliveira

Pra mim não tem nada de positivo para Inglaterra. Irão perder o controle sobre a Escócia e a Irlanda do Norte provavelmente. Terão problemas com a política de imigração, digo com os ingleses que vivem fora de lá em outros países do bloco. Vários acordos comerciais serão desfeitos, tudo isso em nome dessa falso moralismo nacionalista. E o que é pior, se um dia quiserem voltar, terão de ter aprovação unânime de todos os países do bloco.

Itamar Oliveira é engenheiro ambiental.

“Penso que os britânicos se precipitaram”

Paulo Júnior

Engraçado que a diferença de resultado nas regiões do Reino Unido foram parecidas com a que vimos aqui nas últimas eleições no Brasil, guardadas as devidas proporções. Enfim, penso que toda decisão tomada em momento emotivo é ruim e tal decisão foi tomada em um desses momentos. Mo­mento conturbado no mun­do, principalmente envolvendo ataques, crise econômica em algumas regiões, diferenças religiosas. Penso que os britânicos se precipitaram, sim, assim como se realizassem um plebiscito sobre pena de morte ou redução da idade penal em um momento de explosão de violência no Brasil. Teríamos uma triste mudança sem as devidas discussões das implicações que isso poderia resultar.

Paulo Júnior é funcionário público.

“A verdade que ela defende é mais verdade que a verdade dos demais?”

Mario Junior

Essa sra. Sandra Lima de Vasconcelos Ramos se diz pesquisadora. Bom, ela acredita que por um lado há “doutrinação ideológica” aceitando “x” pensamentos. Mas aceitar os “y” pensamentos que ela acredita serem legítimos e ensiná-los de igual modo não seria “doutrinação ideológica” da mesma forma? Ou a verdade que ela defende é mais verdade que a verdade dos demais? Vamos ler Mi­chel Foucault, minha gente! Não existe “a” verdade. Toda crença tem para si um discurso legitimador. As verdades são construídas. A palavra ideologia é neutra. Tudo é ideológico.

Causa-me admiração que uma “educadora” não saiba disso. Os cristãos fundamentalistas (sim, porque existem aqueles que não o são) achavam que estariam para sempre inabalados com suas fogueiras inquisidoras de verdades perenes. Sinto muito, “perdeu, playboy”. A tal “família tradicional” e a “verdade biológica” que a suposta professora Sandra defende continuarão a existir, mas não mais sozinhas. Há outras famílias e outras verdades e, que bom, que já há sistemas de ensino (como o de Goiâ­nia) que se alargam para incluir e não se estreitam para segregar. [“Prova de concurso público em Goiânia é mais um caso de estupro coletivo”, no online do Jornal Opção]

E-mail: [email protected]

“Escolas não têm intenção de doutrinar as pessoas, mas de abrir discussões”

Fran Brasil

Não há doutrinação ideológica na educação, o que existe é o acesso à informação. As escolas e as bancas de concursos não têm a intenção de doutrinar pessoas, ao contrário das religiões, cujo propósito é bem claro. O que se vê nas salas de aulas é a abertura de pautas atuais para discussão de ideias. O que é bem saudável e construtivo. Nenhum professor e nenhuma banca têm a intenção de pregar valores e exigir uma conduta ou um ponto de vista específico, unilateral, dos cidadãos, ao contrário das igrejas; o que se busca é o conhecimento. Pois esse é o papel dos educadores: apontar as fontes de conhecimento, de produção científica, a fim de atualizar e inserir o educando na realidade do dia a dia.

Não são descartadas as concepções do indivíduo como religioso e sua formação familiar, muito pelo contrário. O que é descartada é a visão unilateral, a bitolagem, o preconceito e censura de temas com demandas populares. Até mesmo para descartar uma ideologia, para renegá-la ou mesmo invalidá-la é necessário ter conhecimento do objeto que se critica. Esse conhecimento não deveria ser considerado nocivo, ou uma ameaça, se as concepções são condizentes, adequadas, sólidas e bem embasadas. Se o que se acredita for a postura correta e adequada para a atualidade em que está inserida, se não for algo inadequado e fraco de bom senso. Atualizem suas mentes e não tenham medo do novo e do conhecimento, porque o novo sempre vem, concordando ou não, achando-o válido ou não. E até mesmo para saberem posicionar-se contra ele, é de extrema importância que as pessoas fiquem atualizadas e que tenham conhecimento sobre essas ideologias.

Não precisam concordar, mas é necessário que conheçam, sim. Afinal, a filosofia, a sociologia, a antropologia e a história nunca param de produzir, é preciso acompanhá-las para saber onde se está e onde se colocar.

E-mail: [email protected]