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Gustavo Henrique Pessoa

No primeiro semestre de 2014, a crise já estava clara pra muita gente e também para mim. Mudaram até a regra da poupança, porque ela rendia mais que títulos do governo. Baixaram a taxa Selic de modo irresponsável, em um país em que a população vive de crediário. A inflação explodiu e continua batendo recordes todo mês. Medidas anti-inflacionárias, que teriam sido simples no começo, não foram tomadas e criaram um monstro.

A presidente Dilma Rousseff (PT) declarou para a imprensa, com todas as letras, que “aceitaria a inflação em nome do crescimento”, isso com a recessão já instalada. No primeiro semestre de 2014, pensei que um sinal de boa vontade e uma boa medida de campanha seria a presidente propor a autonomia do Banco Central, o que diminuiria o risco de pedaladas eleitoreiras. Morreu Eduardo Campos (PSB), veio Marina defendendo a autonomia, e o PT a atacou como se fos­se Malafaia contra o mal. Puro discurso pra agradar as ovelhas.

Dilma se reelegeu com o voto de vários eleitores ignorantes do que estava por vir, e eu fui um deles, porém esclarecido (ou cínico) como Maquiavel (ou Aécio). Não adiantou dividir para governar, a vitória foi de Pirro. Passou 2015 tentando, sem sucesso, fazer o oposto do primeiro governo, quando amargou 8% de aprovação. Isso é inegável e 2016 ainda é uma incógnita.
Mas a independência do Banco Central continua sendo uma boa ideia. Só que a iniciativa teria de partir da oposição, o PT segurar suas bases e além de tudo, ocorrer um acordo entre ambos. Ou seja, a oposição teria de não estar desejando o quanto pior, melhor; Dilma demonstrar habilidade política, como por um milagre; e os dois lados se eximirem de ser donos da verdade. Fácil, não?

Gustavo Henrique Pessoa Chaves é servidor público federal.

 

“Mataram o estuprador e comeram seu coração”

Hélio Torres

Certa vez em Jataí, terra da minha família, eu ainda adolescente, presenciei com curiosidade a revolta de um grande grupo de pessoas, em frente à delegacia da cidade, a fim de lincharem um estuprador que havia também matado uma adolescente e seu namorado, de idade compatível, havia poucos dias.

Na ocasião, por precaução e seguindo o procedimento padrão nes­ses casos, o delegado colocou o sujeito numa viatura com quatro po­liciais fortemente armados e os despachou para Rio Verde, cidade vizinha. O delegado percebeu que os po­liciais estavam demorando a chegar ao destino, pois não haviam ligado no prazo combinado. Incomo­dado, ele enviou os policiais restantes, que tinha ficado, para averiguar a situação.

A poucos quilômetros acharam a viatura na beira da estrada, com os quatro policiais amarrados com suas próprias camisas, sem sinais de agressão, e suas armas intactas guardadas na viatura. O estuprador estava amarrado pelos pés, dependurado numa árvore de cabeça pra baixo, já sem a pele das costas, que tinha ficado pelo asfalto próximo, e gotejando o restinho de sangue que lhe havia sobrado e que jorrou principalmente na região dos genitais — que haviam sido cortados por golpes de facão com muita fúria — e do coração que havia desaparecido.

Os policiais contaram que foram rendidos por dois carros com dez pessoas armadas e encapuzadas, que os amarraram, torturaram o estuprador e tomaram cachaça comendo seu coração com ele ainda pulsando. O primeiro jorro de sangue serviu de tinta pra escrever num papelão pregado na árvore escolhida pelo carrasco: “Isso é pra aprender não mexer com filha de homem.” O delegado, ao receber a notícia, disse que iria averiguar o caso. Mas, passados pelos menos 25 anos, deu-se tudo por encerrado, imagino.

Hélio Torres é consultor e profissional em tecnologia da informação (TI).