“Lamentável o mercado de livros de arte ficar sem a Cosac Naify”
05 dezembro 2015 às 12h23
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Orley José da Silva
É lamentável que o estreito mercado de livros artisticamente bem produzidos fique sem a Cosac Naify. Então, a causa não foi econômica, mas de má administração dos projetos? Um segmento gráfico que hoje suporta até mesmo uma desastrada gestão é o de livros didáticos e paradidáticos. Um restrito grupo composto de 10 ou 15 editoras, no máximo, vive de produzir e vender livros para o MEC. E os números são milionários para a impressão dos títulos (R$ 30 milhões, 40 milhões ou 50 milhões por título) e bilionários para o dinheiro que entra no caixa dessas empresas. Aliás, a Lava Jato, se quisesse, bem que poderia achar serviço nesses negócios.
Orley José da Silva é professor.
“A editora não se adaptou se tornou-se inviável”
Everaldo Leite
A ideia de segmentação com especialização estava em alta na década de 1990, todavia o mercado mudou e quem não percebeu criou uma armadilha para si (em quaisquer segmentos). Editoras precisam atuar em várias frentes, minimizando o custo de produção, além de lançar mão do uso das novas tecnologias. A Cosac Naify não se adaptou, não quis se adaptar. Poderia ter se associado a outras editoras, novos sócios; não o fez, se tornou inviável.
Everaldo Leite é economista e professor.
“É preciso investir na formação de novos e bons leitores”
Cássia Fernandes
Apesar de lamentar, achei a explicação de Charles Cosac coerente. Para sobreviver, as editoras publicam muito lixo, que acaba pagando o custo dos bons livros, pouco rentáveis. Parece-me que há aqui um ponto que Larissa Mundim, que está à frente da Nega Lilu Editora, aborda muito bem. Temos novos autores produzindo e publicando no Brasil, mas para onde afinal vão todos esses livros? Não adianta investir só na produção; é preciso investir de verdade na formação de novos leitores e bons leitores, e não temos políticas realmente comprometidas com isso.
Cássia Fernandes é escritora e jornalista.
“O brasileiro é, antes de tudo, um intolerante”
Arnaldo B. S. Neto
No Brasil, país fruto da contrarreforma e da Inquisição, discordar é sempre algo mal visto. As pessoas tendem a levar opiniões como uma ofensa pessoal. Basta ser um pouco mais duro, irônico ou sarcástico na argumentação que amizades de pronto terminam. A disposição para mudar o próprio ponto de vista é mínima. Somos um país dogmático por excelência. Adoramos uma receita ideológica pronta, uma cartilha que nos dê a ilusão de estarmos sempre certos num mundo cada vez mais complexo, onde errar é algo sempre inevitável. O brasileiro é, antes de tudo, um intolerante.
Arnaldo B. S. Neto é professor da Faculdade de Direito da UFG e auditor fiscal do Ministério do Trabalho.