“Foi o ‘petralha’ ou foi você quem não entendeu?”
12 março 2016 às 11h07
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Marcelo Augusto
Parrillo Rizzo
São divertidos os posts que dizem mais ou menos assim: “O que esses petralhas safados não entendem é que sou contra corrupção de todos e que todos devem ser punidos!”. E aí, você olha a “timeline” do sujeito no Facebook e vê que é só descendo o verbo no PT.
Então, não foi o “petralha” que não entendeu: foi você. Os “petralhas” estão pouco se lixando se vai ser todo mundo preso. Os petistas (uma ínfima parte daquilo que se identifica como “petralhas”), estes sim, devem estar preocupados com o desmantelamento de seu partido; já os “petralhas” estão pouco se lixando para o PT. Eles, na verdade, estão preocupados com algo muito mais importante: o desmantelamento das instituições brasileiras.
Quando um “petralha” fala do Aécio, ele não está tentando livrar a cara do Lula ou qualquer outro; ele está preocupado com o fato de que um notório corrupto, além de não ser investigado, é o principal articulador de um movimento anticorrupção que pretende se instalar no poder. O “petralha” se indigna com o fato de que a maioria dos principais políticos oposicionistas já tenha sido delatada sem que isso tivesse gerado investigações policiais, manchetes ou condenações.
O “petralha” acredita que, quando a PF, o MPF e outras instituições decidem ultrapassar todo o respeito à lei por um objetivo político, já nos encontramos em um terreno absolutamente perigoso. E ele sabe que não precisa de nenhuma teoria conspiratória para se provar isso: vazamentos de delações são crimes seriíssimos e as autoridades se recusam a fazer qualquer coisa para conter essa tática de cunho golpista. A prova está nos jornais, revistas e TVs que se consomem todos os dias.
O “petralha” fica mais estupefato ainda com algo que é cada dia mais óbvio: enquanto quase todos os políticos — tanto da situação quanto da oposição — se encontram sob suspeita, não há nada contra o principal alvo da fúria popular: a presidente Dilma. A não ser que se contem boatos (como aquele em que se diz que ela pretende ‘chipar’ todo mundo) ou coisa parecida.
O “petralha” se preocupa com o fato de que o Congresso, sob liderança de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), decidiu votar todas as contas de presidentes anteriores de forma expressa para poder julgar as contas da presidente Dilma e, desta forma, dar bucha para um impeachment que não conseguia um grão de evidências legais para tomar o poder.
O “petralha” se preocupa quando um policial (o “japonês da Federal”) se torna herói quando ele já foi condenado por contrabando, mas ninguém noticia nada sobre isso. O “petralha” se preocupa com a notícia de implantação de “grampos” (os mesmos que livraram um Daniel Dantas da cadeia) não gerar nenhuma preocupação neste momento.
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Dos escândalos do PT o “petralha” sabe os que você tanto cita quanto muitos outros, já que, normalmente, esse “petralha” não é um neófito na discussão política. Mas, os “petralhas” sabem de muitos outros escândalos também, que envolvem tanto os partidos da oposição como de alguns dos que investigam a corrupção. O “petralha” comemorou o fim das doações empresariais porque ele sabe onde se encontra a corrupção. O “petralha” quer discutir o presidencialismo de coalizão e luta por uma verdadeira reforma política. O “petralha” se preocupa tanto quanto você com a crise econômica, mas coça a cabeça quando a oposição decide parar o Congresso. Isso não significaria trabalhar para agravar a crise? O “petralha” está puto com a Dilma, ele quer saber das punições contra a Samarco, quer uma política econômica que saia da armadilha da austeridade, quer que a presidente se posicione frente a diversos problemas, mas o “petralha” não quer golpe. O “petralha” explicita suas posições políticas e não se esconde atrás de um amor amorfo e difuso pelo Brasil. Exposto tudo isso, fica claro: para o “petralha” preocupado, sua indignação contra a corrupção parece golpe. Entendeu?
Marcelo Augusto Parrillo Rizzo é servidor público federal e doutorando em História pela UFG.