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“A aterrissagem final da pipa mágica”

JOÃO PAULO LOPES TITO

Quando a gente é pequeno, uma das coisas mais legais de um adulto é saber fazer tudo. Nada é impossível, e pequenos milagres acontecem toda hora. Era assim com o tio Tonim ensinando a fazer estilingue, meu vô Bernardino construindo carrinho de rolamento (e outras mil coisas em madeira) e o tio Jomar colocando linha, chumbada e anzol na vara de pescar.

E era simplesmente genial como meu pai sabia fazer pipas. Uma manhã de domingo qualquer ganhava outro tom quando, na época de vento, ele aparecia com pedaços de bambu (projeto tradicional) ou de buriti (tecnologia de ponta, mais leve), facão, cola, linha e saíamos para a papelaria, para providenciar as folhas de papel de seda.

A molecada jogando bola na rua e a gente sentado ali do lado, assistindo aquela operação delicada de aparar as varetas, juntá-las com linha de costura, recortar o papel de seda no formato da armação. Era preciso balanceá-las antes e depois de tudo colado. E ter muita paciência.

E por fim, a parte mais divertida pra gen­te (e a em que efetivamente botávamos a mão na massa): fazer a rabiola. Às vezes até minha mãe participava. Ela enrolava sacolas plásticas de forma tão engenhosa que era só passar a tesoura para sair as argolas do outro lado.
Depois de tudo pronto e seco, levantar voo. A pipa (nunca me acostumei a chamar de “raia” – que era coisa de quem usava cerol na linha) mais antiga da qual me lembro foi uma que ele fez para meu irmão. Com as iniciais “CV”, de azul, coladas na estrutura de papel branco. E essa pipa voou como eu nunca tinha visto nada voar. Esgotou toda a linha do carretel, virou só aquele pontinho azul claro lá em cima, em meio ao céu do final do dia.

Mas a mágica não tinha acabado. “Quem quer mandar telegrama?”, minha mãe perguntou. Que diabos era aquilo? Como assim? Ela recortou pedacinhos quadrados de papel, fez pequenos cortes no meio e encaixou na linha esticada da pipa. E voilà: o papel começou a subir sozinho, caramba! E foi subindo, subindo, até quase sumir. Fomos colocando um por um, diversos, todos subindo obedientes pela linha.

Acontece que, antes de o dia acabar, o vento deu uma “minguada”. A pipa reduziu ligeiramente sua altura, e uma árvore maliciosa surgiu no caminho. Aquela árvore amarelada e de galhos nus, quase sem folhas (“canela de velho”, dizia meu avô), parecendo se esticar para alcançar a pipa. E ali ela fez sua aterrissagem final. Um artefato tão engenhoso, preso para sempre num galho invejoso de uma árvore alta. Chorei demais aquele dia.

Mas logo outras pipas vieram e não me deixaram esquecer que, mais importante do que o papel de seda enganchado na árvore lá em cima, era ter o mágico sempre presente aqui embaixo.

João Paulo Lopes Tito é assessor jurídico no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO).

 

“Não vejo ninguém do Executivo falar em reflorestamento em massa”

ALEXANDRE CAMPOS

Houve um estudo na Flo­resta Amazônica que foi denominado “Sobre o Amazonas Vo­ador”. As águas em forma de nuvens que evaporam da mata são levadas pelos ventos em direção às regiões centrais do Brasil, até chegar ao Estado do Rio de Janeiro, em direção ao Oceano Atlântico — basta observar a “moça do tempo” nos programas jornalísticos. Essas nuvens irrigam toda a região central do Brasil e também a Região Sudeste.

Com o desmatamento desenfreado da Amazônia, isso iria provocar grandes secas em todo o Brasil e, até 2150, uma desertificação na maior parte do território nacional. A seca está acontecendo. Até mesmo no Amazonas. Em São Paulo, todos já sabem o que vai acontecer; Aqui no Estado do Rio, onde moro, na região norte fluminense, já está ocorrendo o processo de desertificação em alguns locais. O maior rio do Estado, o Paraíba do Sul, está 1,5 metro em média abaixo de seu nível normal.

Na região serrana, o quadro está se agravando com as plantações de eucalipto: onde se plantam esses, secam-se as águas ao redor. Estaremos, aqui na região serrana, passando por maus momentos em breve, pois nossa água é daqui mesmo, não teremos como importar essa. Infelizmente todas as “previsões alarmistas” do passado estão se concretizando e não vejo ninguém do Executivo falar em reflorestamento em massa. Assim, a continuar, o Brasil se tornará um grande deserto em 150 anos.

E-mail: [email protected]

 

“É urgente uma atividade agrícola sem agrotóxicos”

ARGEMIRO DE OLIVEIRA

Na lista dos países verdes, o Brasil ocupa apenas o 77º lugar. É urgente a adoção de políticas públicas que permitam uma atividade agrícola sem a utilização de agrotóxicos que exterminam os insetos e contaminam os seres humanos. Há de se pensar em uma agricultura mais familiar e orgânica. A atividade pecuária já não tem futuro. Gastam-se milhões de litros de água para sustentar o consumo de carne, que, além disso, causa insustentabilidade social e ecológica: secas, crises hídricas, desertificação etc.

E-mail: [email protected]

 

“É preciso investir em ciclovias para a periferia”

GERLIÉZER PAULO

As ciclovias de lazer estão crescendo na capital, mas acredito que é preciso investir nos trajetos que liguem a periferia aos principais centros comercial da cidade. Outro ponto: é preciso ter infraestrutura para o ciclista, que, por exemplo, quer ir de bicicleta para o trabalho.

Gerliézer Paulo é jornalista.

 

“Coluna Imprensa faz boa análise sobre quem sai de ‘O Popular’”

ADALBERTO DE QUEIROZ

Boa reportagem sobre o tema na coluna “Imprensa”. Meu destaque: “Diz um velho ditado que corre entre os que deixaram o maior diário de Goiás que, depois de sair do ‘Pop’, a vida (e a qualidade de vida) só pode melhorar. Talvez não exatamente por ter deixado o jornal, mas por ter levado consigo uma boa bagagem depois de se doar a uma grande estrutura. Longe de lá, Cileide se mostra mais leve para fazer o que mais gosta: jornalismo com pesquisa e análise.” Similares situações parecem acontecer com Karla Jaime e Rosângela Chaves, além do professor-repórter Rogério Borges, com a revista digital “Ermira”. [“Em fase pós-Pop, Cileide Alves se revigora e acerta em temas nas redes”, Jornal Opção 2141]

Adalberto de Queiroz é escritor, jornalista e empresário.
E-mail: [email protected]

 

“Não podemos mais aceitar nenhuma forma de discriminação”

ELOISO MATOS

A maldade, a inveja, os preconceitos, o racismo, a soberba, a arrogância, a injúria racial, a indiferença, o desprezo e tantos outros sentimentos ruins estão presentes na vida das pessoas. No entanto, praticá-los dependerá do caráter, da formação e da educação de cada um de nós.

Não existe um racismo e um preconceito institucionalizado que refletem a lei da vadiagem que um dia existiu no Brasil? No entanto, se formos observar com honestidade, sem hipocrisia e máscaras perceberemos que nossa sociedade tem dados estatísticos que comprovam com nitidez como alguns adoecidos nas emoções tratam os afrodescendentes no Brasil, porque se veem no direito de humilhar quem eles considerem inferior.

Na vida sempre teremos pessoas diferentes de nós com características físicas e outras tantas. Mas quando um ser humano tenta se esconder atrás de uma multidão — ou de um cargo, de uma posição — a fim de oprimir, diminuir os outros e praticar o racismo, demonstra realmente qual é seu caráter, pois isso é o meio que os mais frágeis utilizam a fim de esconder sua monstruosidade e mau-caratismo. Afinal, “caráter é aquilo que você é quando ninguém está te olhando, ou pelo menos acreditamos que não estamos sendo observados”, já dizia Epicuro.
Não são poucos os que constantemente se valem de posições, status, cor da pele, “inteligência” e conhecimento a fim de privilegiar alguns e diminuírem outros. Mas isso é apenas uma “brincadeira”.

Mas, por causa desse lamentável fato, muitos deram entrevista. Por isso vamos analisar parte do que o técnico Vanderlei Luxemburgo disse, certa vez: “Isso é algo comum, pois o Pelé e outros tantos sofreram preconceitos, racismos, mas venceram.” A declaração é uma sandice, porque devemos banir da sociedade qualquer forma de discriminação, preconceito, palavras de baixo calão, que desprezam as pessoas. Mesmo porque o técnico disse que “o Pelé sofreu”, mas o que causa sofrimento não é bom para ninguém.

Não podemos discriminar por gênero. Mas isso ocorre no Brasil. Será que o treinador defendia isso ou aceitava como natural? Pois é “normal” considerar a mulher inferior. Basta observarmos a diferença salarial que existe entre os gêneros masculino e feminino. Não podemos aceitar o preconceito e o ódio contra os pobres, os deficientes físicos, mas isso em muitos casos ocorre. Será que por existir devemos aceitar?

Não podemos aceitar o preconceito e as discriminações que ocorrem contra as pessoas “velhas”. São comuns no Brasil essas práticas — vejamos como são os asilos e como muitos tratam os idosos no dia a dia. Talvez devêssemos entender que gentileza, cordialidade, amabilidade são as formas de linguagem correta que devem prevalecer entre as pessoas civilizadas. Esse argumento frágil — de que alguém pode ser humilhado ou desprezado por orientação sexual, gênero, religião, cor da pele, condição socioeconômica, aspecto físico ou cognitivo — não pode existir em nenhuma esfera de nossa Nação, mesmo com o argumento de que é apenas uma “brincadeira” ou quem está ouvindo não deve se importar.

Nossas instituições públicas, religiosas, políticas, econômicas precisam ser repensadas e não aceitar essas práticas, mas combatê-las. Esse argumento de que podemos utilizar de sentimentos e praticas vis para destruir e humilhar os outros não pode existir, apenas com a falácia que vamos vencer o adversário em um jogo ou na vida intimidando-o não pode prevalecer.

Talvez o grande conselho que devêssemos dar a qualquer ser humano que se sentir humilhado, desprezado e vítima de preconceito seria o de não acreditar no que está sendo falado e também recorrer à Justiça, a fim de processar os que ainda estão adoecidos, os que se consideram como a madrasta malvada que olha no espelho e diz “espelho, espelho meu, existe alguém mais bonito do que eu?”, ao descobrir que existe ela abriu seu saco de maldade e tenta destruir a Branca de Neve e envenená-la. Quem estamos tentando envenenar? Quem acreditamos que podemos maltratar? Contra quem praticamos nossos preconceitos e racismos?

Muitos estão com este conceito deturpado de se considerarem superiores apenas por ter dinheiro, poder, inteligência, profissão, cor da pele, religião, cargo público de destaque e assim, pensam, serem “melhores”. Será que isto é saudável para uma nação? Sejamos sinceros e indaguemos: alguém se sente bem com atitudes que não são respeitosas?

Muitos acreditam que são mais “belos” os homens musculosos, as mulheres saradas, os que ganharam títulos nacionais, internacionais, ou foram eleitos etc. Estes se dão o direito de humilhar e praticar preconceito. Isso é semelhante ao que fez Bruno Fernandes, ex-goleiro do Flamengo que, juntamente com outros, deu cabo à vida de uma “garota de programa”, pois não a consideravam digna de ser feliz e ter uma vida respeitosa.

Quais são os preconceitos que carregamos dentro de nós a fim de nos fazer sentir superiores? Vejamos nos meios de comunicação se todos podem ocupar este espaço. Vamos observar francamente se todos têm oportunidades semelhantes no Brasil? Por que alguns adoecidos têm tanto ódio dos que não são tão semelhantes a eles? Isso é preconceito, arrogância e ódio. Talvez devêssemos observar o que Martin Luther King disse: “A lei pode não dar o coração a ninguém, mas podem coibir as ações dos que não tem.”

Infelizmente, ainda precisaremos de leis duras para alcançar os famosos, poderosos e os que tentam se esconder na multidão para expressar práticas racistas e preconceituosas.
Será que, diante do espelho da vida, você se sente incomodado com o diferente e por isso é tão racista, deseja xingá-lo e não concebe a felicidade e a vitória dele? Mas, se isso é feito somente em campo de futebol, isso vale. Esse é o nosso pensamento?

Em Roma, gladiadores proporcionavam a diversão de muitos com seu próprio sofrimento. César apoiava quem alegrava a população. Será que ao ver tanto o “superior” ou “o inferior” nós conseguimos tratar com dignidade, como cidadãos ou fazemos acepção das pessoas?

Eloiso Matos é professor.
E-mail: [email protected]