O custo da política com “p” minúsculo para os goianos e o ciclo político
13 setembro 2022 às 17h19
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Salatiel Soares Correia
Embevecido pelos escritos do professor Roberto Mangabeira Unger, da Universidade de Harvard, concluí a leitura de uma chamada de matéria publicada neste semanário no final deste mês de agosto. O assunto a seguir tem muito a ver com o que nos ensina esse genial pensador.
De início a lide do artigo me chamou atenção para um assunto que considero grave: o elevado ciclo político da política nacional e o que isso representa para sociedade como um todo.
Reproduzamos a chamada resumida da matéria: “O objetivo a médio prazo de Marconi Perillo é tentar destruir a história de Ronaldo Caiado”. Sendo verdadeira essa afirmação, pensei cá comigo: quão pequena é nossa política. Que Estado é este? Ou de uma maneira mais ampla: que país este onde a sede de vingança move um candidato para postular um cargo de governador? Onde fica a nobreza de servir à população?
Mais adiante, o jornalista emite uma pergunta que ele mesmo responde. Vejamos. “Qual é o jogo real do ex-governador?” Eis a resposta: “Perillo planeja se eleger senador, no dia 2 de outubro deste ano, e, em seguida, trabalhar para eleger um aliado para presidente da Assembleia Legislativa de Goiás. No final de 2018, e início de 2019, operou, a partir de seu apartamento de São Paulo, para eleger um presidente (Lissauer Vieira) que, na sua opinião, seria ‘menos governista’. O objetivo é, claro, pôr na Alego um parlamentar que, embora pró-governo, guarde reserva ou independência em relação ao governo. (…) O jogo é simples, porém, mesmo assim, não tem sido percebido com a devida precisão por intrigantes da base do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do União Brasil”.
Alguns parágrafos mais adiante a matéria revela: “No final de 2018, e início de 2019, operou, a partir de seu apartamento de São Paulo (do ex-governador), para eleger um presidente (Lissauer Vieira) que, na sua opinião, seria ‘menos governista’. A matéria expõe claramente o que está por trás dessa estratégia: “A intenção é dar trabalho para Ronaldo Caiado. É colocar pedras no seu sapato”.
Paremos por aqui para uma reflexão do que significa ações dessa natureza onde o sucessor procura destruir tudo aquilo que antecessor fez ou deixou de fazer.
Em Goiás, na passagem dos governos populistas, testemunhei algo parecido no episódio da entrega da Usina de Corumbá para Furnas Centrais Elétricas.
Vale ressaltar, apesar de grande parte dos investimentos nessa usina ter sido implementada no governo sucedido, seu sucessor disponibilizou essa usina para Furnas, desconsiderando os investimentos feitos pelo governo anterior. O objetivo dessa ação foi claro: o sucessor quis apagar a memória o governo do sucedido. Fazer isso tem preço alto sempre pago para a sociedade. Em qualquer país desenvolvido do mundo isso daria cadeia. Em Goiás, imperou a fragilidade institucional inerente a algo que é muito nosso: “o jeitinho brasileiro”.
Salatiel Soares Correia é engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em ciências pela Unicamp. É autor, entre outros livros, de “Cheiro de Biblioteca”