*artigo publicado por Lauro Moreira

  Poeta, professora e ensaísta, Marly de Oliveira nasceu no Brasil, no Estado do Espírito Santo em  1938. Viveu a infância e adolescência na cidade de Campos, Estado do Rio de Janeiro, onde muito cedo se iniciou na literatura, publicando poemas em jornais e revistas locais. Mudou-se depois para o Rio de Janeiro, diplomando-se em Letras Neo-Latinas pela Pontifica Universidade Católica. Em seguida, cursou História da Língua Italiana e Filologia Românica na Universidade de Roma. De volta ao Brasil,  passa a lecionar Literatura Hispano-Americana na Universidade Católica do Rio e de Petrópolis, e Língua e Literatura Italiana na Faculdade de Filosofia de Nova Friburgo. Casa-se com o diplomata brasileiro Lauro Moreira e vive alguns anos em Buenos Aires, Genebra e Brasília. Na década de 1980, separada, casa-se com o poeta e também diplomata João Cabral de Melo Neto, com quem reside em Portugal por algum tempo, quando seu marido ocupava o cargo de Cônsul Geral na cidade do Porto. Mais tarde volta a morar no Rio de Janeiro, até a morte deste, em outubro de 99. No dia 1º de junho de 2007, Marly de Oliveira falece no Rio de Janeiro.

        Em 2009, ao gravar um CD com 120 poemas extraídos da obra completa de Marly de Oliveira, posteriormente apresentado em recitais na Academia Brasileira de Letras e em  dezenas de cidades do Brasil e de  Portugal, Lauro Moreira escreveu: “Por sua origem erudita, sua linhagem clássica e sua alta qualidade literária e filosófica, a exigente obra poética de Marly de Oliveira foi celebrada por figuras do porte de Alceu de Amoroso Lima, Augusto Meyer, Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto, José Guilherme Merquior, Manuel Bandeira, C. Drummond de Andrade, e até pelo grande poeta italiano Giuseppe Ungaretti.”

        Ao longo de 50 anos de atividade literária, Marly de Oliveira publicou 17 livros de poesia, além de numerosos artigos, críticas e ensaios, em diversos periódicos e revistas especializadas tanto do Brasil quanto do exterior. Por essa obra de alta qualidade, a autora recebeu alguns dos mais importantes prêmios literários do país.  Sobre a Obra de Marly de Oliveira escreveu Clarice Lispector:“Vou apresentá-la com grande alegria: trata-se de um dos maiores expoentes de nossa atual geração de poetas, que é rica em poesia. (…) Além de poeta, faz críticas da maior erudição, agudeza e sensibilidade.” Pedro Lyra, importante crítico brasileiro e profundo estudioso da poesia de Marly de Oliveira, acrescentou: “Com sua origem erudita, sua dicção clássica, sua substância filosófica, a poesia de Marly de Oliveira é uma construção solitária na literatura brasileira. Comentando outros livros seus, já pude ressaltar tudo isso – o que, para mim, faz dela o maior nome feminino da poesia em língua portuguesa.” Já o enciclopedista Antônio Houaiss, um dos mais respeitados filólogos da língua portuguesa, foi um admirador confesso da Obra de Marly de Oliveira, tendo publicado sobre ela  uma série de estudos da mais alta relevância. Ao analisar o quarto livro lançado pela poeta, A Vida Natural, sustentava ele que “A aventura poética aqui atinge um estado único no Brasil e quiçá na língua portuguesa: um fluir sonoro de completo mas imanifesto domínio dos apoios fonéticos; um artesanato de formas fixas que se embebe no mais acurado conhecimento do passado; uma temática que leva, ao mesmo passo, ao quinhentismo e antes, e aos amanhãs e depois, pertemporizando-se”.

   Quando de sua permanência de estudos na Universidade de Roma, a autora escreveu uma coletânea de poemas em italiano, que entusiasmou de tal modo o extraordinário poeta Giuseppe Ungaretti, um dos mais admirados autores europeus do século vinte, que decidiu apresentá-la pessoalmente no histórico programa da RAI L’Approdo, nos seguintes termos: “Marly de Oliveira é uma jovem poeta brasileira. Quem conhece os seus versos em português, aqueles de seu livro Cerco da Primavera, publicado em 1957, e aqueles que compõem a sua nova coletânea Explicação de Narciso sabe que neles ela dá prova de raros dotes de profundidade e de graça. Mas como terá feito esta jovem para apoderar-se de nossa língua, de sua secreta musicalidade ao ponto de poder oferecer o dom da poesia que agora ouvireis? É um milagre: a ingenuidade e a profundidade aqui se mesclam com uma novidade talvez superior aquela que surpreende quando se exprime na sua língua materna. É um milagre: simplesmente poesia em um italiano iluminoso.”

       Desde seu livro de estreia – O Cerco da Primavera – publicado em 1957, quando era ainda uma jovem universitária , Marly de Oliveira surpreendeu a leitores e críticos com uma obra que nasceu pronta, definitiva, “como Atenas, da cabeça de Júpiter”, na expressão de grande crítico Alceu de Amoroso Lima, e que mereceu o Prêmio Alphonsus de Guimarães, do Instituto Nacional do Livro. Ali já estão presentes os temas  essenciais do poeta, reiterados nos 16 livros publicados desde então, e resumidos numa permanente indagação filosófica sobre os mistérios e a fragilidade da vida.

    Marly de Oliveira deixou um livro inédito, intitulado Um Feixe de Rúculas, que acaba de ser publicado pela Editora UNESP, 16 anos após a morte de sua autora.

        Finalmente cabe relembrar a profecia de Antônio Houaiss sobre essa Obra admirável:     “Dia virá em que Marly de Oliveira – poeta por ora de poetas -será poeta de todos nós, que a leremos emocionados e gratos pela coragem e beleza que esparziu no nosso mundo.”