Logradouros Públicos e suas designações

15 dezembro 2021 às 17h26

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Existem outros meios e oportunidades tão relevantes, ou mais, de homenagear Iris Rezende, sendo desnecessária e indevida a alteração do nome do Aeroporto Internacional de Goiânia
Desembargador José Carlos de Oliveira especial para o Jornal Opção
É nosso costume e tradição denominar logradouros públicos com nomes de personagens históricos, flores, datas, divindades, continentes, oceanos etc. Tais designações têm por finalidade precípua a indicação e localização de uma cidade, de uma rua, de um prédio.
No que diz respeito à atribuição do nome de pessoas, usualmente, escolhe-se o de alguém com relevância histórica, decorrente de alguma virtude, de um ato heroico ou de outro feito em prol da humanidade.
Pesquisando na internet, constata-se que o nome de Ayrton Senna está presente em 976 logradouros espalhados em todas as 27 unidades federativas. Por outro lado, verifica-se que personalidades que doaram suas vidas à pesquisa e à caridade, tais como Albert Sabin – responsável pela ventura de muitos não terem contraído a poliomielite (paralisia infantil), garantindo-lhes uma vida normal com respeito à mobilidade – e Irmã Dulce – a freira franzina, de saúde frágil, que a vida inteira enfrentou deficiência respiratória grave, construiu hospitais, cuidou de doentes desde a infância, foi canonizada como Santa Dulce dos Pobres – foram lembrados de forma tímida. Assim, não mereceram as homenagens e reverências como aquelas outorgadas ao campeão de automobilismo, que, segundo meus parcos conhecimentos, não legou nenhum benefício de caráter humanitário. Não ignoro, contudo, que sua irmã Viviane Senna empreendeu campanhas salutares em prol da educação, mas o que se assinala aqui é que o simples fato de ser campeão dispensou ao seu nome centenas de homenagens.
Seguindo outro viés, lembramos que, guiados por uma catarse gerada por fatos extremamente bárbaros, foram concedidas homenagens a genocidas, como, Anhanguera, aquele conhecido como “Diabo Velho”, que dizimou tribos indígenas, estuprou as mulheres e escravizou os seus membros, tudo isso para apoderar-se do ouro existente em suas terras, dando seu nome a cidades, avenidas, bairros, praças e outros logradouros. Na mesma esteira, também homenagens foram deferidas a Borba Gato e Fernão Dias Paes, este “emprestando” o seu nome a uma das principais rodovias do Brasil. Uma vergonha indelével….
Há alguns anos, sugeri a um vereador que apresentasse um projeto de lei visando à retirada dos nomes de facínoras dados aos logradouros e prédios públicos da nossa cidade, e também à retirada da estátua do Bandeirante plantada no coração da cidade, representativa de ofensa contínua e do desvalor à vida e à dignidade humana.
Não há, de fato, absolutamente nenhum fundamento lógico e moral que dê suporte a tais homenagens e que possa justificar a manutenção da estátua do referido Bandeirante no centro de nosso município. O monumento, em verdade, representa escárnio ao povo indígena e fere a sensibilidade de qualquer pessoa dotada de um mínimo de compaixão, representando, assim, a indiferença que dispensamos aos indígenas, vítimas de atrocidades.
A respeito da pseudo justificativa de tratar-se de um fato histórico, que deve ser preservado, vale ressaltar que o uso da suástica na Alemanha é motivo para prisão.
Pois bem! De outro vértice, acreditamos também não ser o caso de alterar arbitrariamente o nome dos logradouros. Mas, por motivos diversos, surgem propostas motivadas pela vaidade de se enaltecer um parente ou amigo, sem que o homenageado tenha representado algo notável e de especial significado para a sociedade.
Ocorre que tais alterações geram uma verdadeira “Babel”, prejudicando o sistema informativo da mobilidade urbana, confundindo e criando dificuldades para aplicativos como o Google Maps, Waze, etc.
Ad exemplum, pontuo que a Avenida T-2, uma das mais importantes vias dessa cidade teve seu nome alterado para Avenida Emília Tavares, pelo simples fato de ser a homenageada, genitora de um ex-vereador. Mas ninguém a conhece com tal designação. Do mesmo modo, as pessoas não têm o mínimo conhecimento de onde se situa tal avenida. Ainda, a Praça Cívica sempre vai ser conhecida por este nome e não pela designação atual, “Praça Pedro Ludovico Teixeira”, não obstante ser indiscutível a importância histórica de Pedro Ludovico Teixeira, o fundador de Goiânia, líder político reconhecido, que nos deixou importante legado. Da mesma forma, o estádio do Maracanã será eternamente chamado de Maracanã, e não de Mário Filho. O Pacaembu, da mesma maneira, será sempre o Pacaembu, jamais o “Cícero Pompeu de Toledo”.
Agora, com o devido respeito, chamo a atenção para o fato de o senador goiano, Luiz Carlos do Carmo, de forma ferrenha e obstinada, buscar mudar o nome do Aeroporto Internacional de Goiânia Santa Genoveva, para denominá-lo com o nome do respeitável, admirado, ex-vereador, ex-deputado, ex-prefeito, ex-governador, ex-ministro de Estado, nosso saudoso Iris Resende Machado, merecedor inconteste das mais altas homenagens, pelos serviços prestados ao povo goiano. Eis que Iris Resende dedicou, de fato, toda a sua vida à causa pública, exercendo a política como arte de
realizar o bem comum, promovendo o bem-estar social.
Ressalto, ainda, que o nosso ex-governador exerceu a política por décadas, e sua honra permaneceu límpida, sem nódoas, intangível a qualquer maledicência, exemplo a ser seguido por todos os políticos. Porém, existem outros meios e oportunidades tão relevantes, ou mais relevantes, de homenageá-lo, sendo desnecessária e indevida a alteração do nome do Aeroporto Internacional de Goiânia.
O nome do Aeroporto Santa Genoveva integra o patrimônio histórico, cultural e sentimental de todos nós goianos, e, em uma perspectiva crítica, o ilustre senador poderá ser interpretado como idealizador de uma proposta com matizes de sectarismo religioso. Haja vista que o Aeroporto Internacional de Goiânia ostenta o nome de uma divindade cultuada na Igreja Católica.
José Carlos de Oliveira é desembargador do Tribunal de Justiça de Goiás