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O episódio da condenação de Jesus Cristo, contado nos livros bíblicos, é, resumidamente assim: Era época da Páscoa, quando o governador costumava soltar um dos prisioneiros, conforme a vontade do povo. Havia um prisioneiro muito conhecido, um salteador (ladrão) chamado Barrabás. Pilatos, o governador, perguntou a todos:
— Quem vocês querem que eu solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo?

O povo escolheu o ladrão. E Cristo foi crucificado.

Na semana passada, o instituto de pesquisa do Grupo Folha divulgou pesquisa sobre preferência partidária dos brasileiros. E deu o que tem dado nos últimos levantamentos do tipo: o PT é o preferido.

Dessa vez, 20% dos entrevistados declararam simpatia pela sigla que ficou 13 anos no poder, realizando as gestões mais corruptas da história da República, a ponto de o mi­nistro do Supremo Tri­bunal Fe­de­ral (STF) Celso de Mello ter chamado o esquema de “gran­de organização crimino­sa que se constituiu à sombra do poder”, no processo do mensalão.

O mais curioso é que o PT segue liderando esse levantamento mesmo após a prisão de Lula, o nome mais importante da sigla — na verdade, o verdadeiro “dono” dela.

A pesquisa foi realizada de 11 a 13 de abril, e 20% dos entrevistados declararam simpatia pelo PT — em janeiro, eram 19%. A margem de erro é de dois pontos porcentuais, para mais ou para menos.

As demais siglas tiveram índices bem menores: MDB, 4%; PSDB, 3%; PDT e PSOL, 1% ca­da um. Os outros partidos nem pon­tuaram. As demais siglas não pontuaram. A maioria dos entrevistados, 62%, declarou não ter preferência partidária.

O PT é o partido preferido dos brasileiros desde 1999 e teve seu melhor desempenho em março de 2013, quando foi mencionado por 29% dos entrevistados. Lem­ brando que em março de 2013, os crimes patrocinados pelo PT no mensalão e uma grande parte dos crimes do petrolão eram de conhecimento público.

Nos anos seguintes, com os escândalos de corrupção nos go­ver­nos petistas revelados pela Lava Jato, a simpatia pelo partido desabou. Em dezembro de 2016, com o impeachment de Dilma Rous­seff, veio o pior resultado para o PT, que mesmo assim continuou liderando: 9% das menções. MDB e PSDB, em segundo lugar, tinham 4% cada um.

E a partir de 2017, o PT voltou a crescer, talvez num reflexo da impopularidade do governo Mi­chel Temer (MDB), e o número dos que se declaram sem partido en­trou em queda.

Na reportagem da “Folha de S.Paulo” sobre a pesquisa, há registro de que na análise por variáveis socioeconômicas, observa-se que a preferência pelo PT diminui conforme aumenta o grau de instrução e a renda familiar mensal do entrevistado: 25% entre os menos instruídos ante 12% entre os mais instruídos; 26% entre os mais pobres contra 11% entre os mais ricos.

O que isso indica está claro: em termos gerais, quanto mais informado é o cidadão, menos simpatia ele tem pelo PT. Natural que o eleitor dos grotões, que tenha sido beneficiado por programas como o Bolsa Família nos anos recentes — muito embora esse tipo de programa sempre tenha existido com outros nomes —, e se sinta agradecido ao PT e declare isso numa pesquisa.

Mas é estranho que um cidadão razoavelmente informado, sabedor do alto grau de corrupção patrocinado elo PT e seus aliados, MDB em destaque, declare “simpatia” por isso. A não ser que tenha interesse pessoal, e aí já é outra conversa, que a pesquisa Datafolha não teve como aferir.

Verdade que é difícil para o eleitor escolher um partido pelo critério de ética, honestidade e outros atributos positivos. Mas a “simpatia” pelo PT faz lembrar o episódio da condenação de Jesus Cristo. Simpatia por um partido corrupto que traiu seus eleitores com promessas de que seria diferente dos outros, para se revelar ainda pior que os outros, equivale à preferência do povo por um ladrão. Não tem Cristo nessa história, mas pode-se dizer que é um tipo de “síndrome de Barrabás”. l