Sobram máximas de sabedoria para afirmar a mesma verdade fundamental: “Em política, não existe cedo, apenas tarde” (Tancredo Neves); “Pensar só no presente é uma fonte de erro em política” (Jean de la Bruyere); “Não existe vácuo de poder” (anônimo). Por essas e outras, podemos afirmar que as eleições de 2026 já começam a ser disputadas na próxima segunda-feira, 28 — um dia após a conclusão das eleições de 2024. 

Pelo menos quatro grupos já se movimentam para sair na frente da disputa pelo governo de Goiás e para ampliar sua influência no Legislativo federal. O resultado das eleições para as três maiores cidades do estado dá vantagens a um ou outro grupo, é claro, mas não muda a lógica da competição. Aliás, se considerarmos apenas a eleição de 2026, podemos dizer que até a derrota nestas eleições municipais significa uma vantagem em relação aos que não colocaram seus nomes em jogo desde já, pois — aqui vai mais uma máxima — “Eleição, só perde quem não disputa” (Antônio Carlos Magalhães). 

Base governista

Meses antes do fim de seu mandato, o governador Ronaldo Caiado (UB) deve se desincompatibilizar do cargo para disputar a presidência da República em 2026. O vice-governador Daniel Vilela (MDB) deve assumir o Executivo estadual e poderá se candidatar à reeleição com a vantagem natural da máquina em uma gestão com alta aprovação. Em dois anos, muito pode acontecer, mas, caso nenhum imprevisto mude a ordem das coisas, o nome é fortíssimo; quase insuperável nesta perspectiva de 2024. 

Ainda mais inexpugnável será o candidato da base governista ao Senado Federal. Gracinha Caiado (UB) desde já é chamada de senadora por lideranças nacionais. Com a Casa sendo renovada em dois terços, é possível arriscar que a base terá favoritismo para as duas vagas em jogo, e que a disputa para acompanhar Gracinha será mais acirrada do que a disputa para enfrentá-la. 

Nas eleições proporcionais, para a Câmara dos Deputados, não faltam puxadores de voto: Bruno Peixoto (UB), que teve mais de 70 mil votos para deputado estadual em 2022 e hoje é presidente da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego); Delegado Waldir (UB), ex-deputado e atual presidente do Detran; Silvye Alves (UB), deputada federal mais votada do Estado em 2022; Lucas do Vale (MDB), um dos principais representantes da região mais rica do estado, o Sudoeste goiano. 

Bolsonarismo 

O PL de Jair Bolsonaro tem força inegável no conservador estado de Goiás, mas, para este grupo, a situação é mais volátil. O senador Wilder Morais é o favorito para disputar o Executivo pelo PL. Entretanto, como as eleições municipais de 2024 mostraram, o sucesso da empreitada depende do engajamento do ex-presidente Bolsonaro nas campanhas. Em Goiânia, Fred Rodrigues (PL) explodiu em intenções de votos apenas após a identificação de sua figura com a de Bolsonaro pelo eleitor, em 24 de setembro, quando o ex-presidente realizou comícios com o candidato. 

Entretanto, em 2026, Bolsonaro pretende estar ocupado com sua própria campanha, em São Paulo. Ele afirmou no dia 4 de outubro: “Eu quero ser candidato ao Senado. Que se exploda. Venha e ganhe o Senado, mas com meu apoio, não. Senado, em São Paulo, para não ter dúvidas: uma vaga é minha e a outra é do Tarcisio. E o resto vai brigar”, disse em live transmitida em seu canal no YouTube e no Instagram.

O Tribunal Superior Eleitoral declarou Bolsonaro inelegível até 2030, mas seu grupo acredita que a decisão pode ser revertida. Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, também declarou acreditar que o ex-presidente estará elegível em 2026. Se ele de fato estiver elegível e ocupado em São Paulo, Wilder Morais terá de fazer uma campanha a governador contando apenas com sua base nos municípios. 

Nacionalmente, o PL é fortíssimo: foi o quinto partido a eleger mais prefeitos (510 do total de 5.570 municípios brasileiros). Para efeito de comparação, o UB foi o quarto partido com mais prefeituras (578). Em Goiás, entretanto, o PL fez 25 prefeitos e o UB fez 93. O bolsonarismo é maior do que o Partido Liberal no estado, e a ausência de Bolsonaro retira a identificação da direita com os líderes locais, como Wilder Morais e Fred Rodrigues. 

No Legislativo, a situação é ainda mais volátil. Regionalmente, o nome mais poderoso do partido é Gustavo Gayer. Porém, nesta sexta-feira, 25, o deputado federal foi alvo de uma investigação no Supremo Tribunal Federal (STF) que minou o apoio de Jair Bolsonaro a um de seus mais aguerridos defensores. Gayer, que até a última semana era o nome favorito do PL para a disputa ao Senado, tem situação imprevisível para daqui a dois anos. 

Se Bolsonaro estiver inelegível em 2026; se sentir disposto a novamente fazer campanha por correligionários em Goiás; se Gayer e Vitor Hugo (PL) entrarem em acordo a respeito de quem deve disputar uma vaga ao Senado — se tudo isso acontecer, o PL será uma força extremamente competitiva.  

PSDB

O ex-governador Marconi Perillo (PSDB) tem uma força histórica no estado; afinal, seu grupo político passou 16 anos no poder. Os anos, porém, vieram também com um enorme desgaste. Por isso, o bom desempenho eleitoral em 2026 dependerá mais da capacidade de renovação do PSDB do que da associação com os anos 2000. A má notícia é que Marconi Perillo terá de se reinventar se quiser ser competitivo em uma disputa pelo governo, e a tarefa é árdua para um político experiente de 61 anos de idade. A boa notícia é que o partido tem jovens talentosos em seu quadro, dispostos a aconselhar quem souber ouvir. 

Aava Santiago (PSDB) foi a vereadora mulher com mais votos em Goiânia. Com conexões que ultrapassam a cidade e a esfera da política, recebeu apoio de Caetano Veloso e Walter Salles; deu entrevistas a Mano Brown e CNN Brasil; foi objeto de reportagens da Folha de S.Paulo e O Globo; foi convidada a conversar sobre os evangélicos com o presidente da República Lula da Silva (PT). Sua projeção é tão grande que sua escolha de permanecer no PSDB é frequentemente questionada — e ela está farta da insinuação de que deveria deixar o partido, afirmou ao Jornal Opção. Aava é a melhor aposta do PSDB goiano para o Congresso Nacional, embora declare pensar apenas em concluir seu próximo mandato no Legislativo Municipal. 

PT

Adriana Accorsi (PT) obteve 24,44% dos votos para a Prefeitura de Goiânia. A votação foi quase duas vezes maior do que a de 2020, quando a delegada teve 13,39% dos votos. Adriana, que foi a sexta deputada federal com mais votos em 2022, tem consolidado seu capital político e se tornado o nome mais proeminente do PT estadual. Para a eleição estadual de 2026, é plausível esperar que a petista seja escolhida, e que supere os 6,98% dos votos que Wolmir Amado obteve pelo partido em 2022. 

O Partido dos Trabalhadores trabalha para ampliar sua representação na Câmara de dois para três parlamentares. Edward Madureira, o segundo vereador com mais votos em 2024, é um competidor natural. Antônio Gomide e Rubens Otoni seriam os outros dois a compor o trio.