Poder público deve investir e se aliar mais às universidades para se aproximar da sociedade
22 novembro 2025 às 21h00

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As universidades têm ultrapassado as barreiras de ensino, na interpretação comum das suas atribuições, e, cada vez mais, contribuído para solucionar os problemas da sociedade em médio e longo prazos. Isso não é novo, mas é sempre bom voltar à discussão para que as instituições, sejam elas públicas ou privadas, sejam devidamente valorizadas. Diversos projetos acadêmicos vêm sendo “a luz no fim do túnel” diante de dores que assolam a população em vários aspectos, da área da saúde à área ambiental, por exemplo. É educação e ciência andando lado a lado em prol das pessoas.
Recentemente, a Prefeitura de Aparecida de Goiânia assinou um Termo de Cooperação com a Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) para desenvolver o Projeto de Recuperação e Monitoramento das Nascentes da cidade. O objetivo é promover a preservação do solo e dos recursos hídricos, além de proporcionar qualidade de vida aos aparecidenses.
Em matéria publicada pelo Jornal Opção no último dia 18 de novembro, o professor da Escola Politécnica da PUC Goiás, Felipe Corrêa, explicou que o trabalho de monitoramento é algo de longo prazo. Um dos alicerces é voltado para a educação ambiental de alunos da rede municipal. O projeto consiste em identificar uma nascente para saber qual a real situação em que se encontra e, assim, traçar os melhores planos de trabalho, respeitando a individualidade daquele local. Para trazer a sociedade para trabalhar em conjunto, o Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) mais próximo dessa mina fará a adoção desse espaço. Consequentemente, esse trabalho envolverá os alunos, profissionais da educação e os pais desses estudantes. Uma forma de tratar a preservação do meio ambiente desde os anos iniciais e reforçar isso com os adultos.
Ainda falando em sustentabilidade, os olhos do mundo voltaram ao Brasil durante a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém (PA). E Goiás esteve lá dando a sua contribuição. O Programa Nacional de Formação em Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) para Assentamentos de Reforma Agrária e Contribuições para a Agenda 2030 (Profor-EXT) – realizado pela Universidade Federal de Goiás (UFG) – foi um dos que mais tiveram espaço para discussão.
Segundo a coordenadora do Profor-EXT, Graciella Crociolli, o programa envolve a comunidade universitária e agricultores familiares, com o objetivo de melhorar a produção de alimentos e promover uma agricultura mais sustentável. Ela destaca que, embora existam diversas políticas públicas, sem assistência técnica e extensão rural não é possível atingir efetivamente os agricultores familiares. O programa foi idealizado em 2023 como um projeto-piloto da UFG, mas o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) solicitou sua ampliação para outras regiões do país. Atualmente, o programa foi ampliado para 19 instituições de ensino, atendendo 13 estados e contando com 21 equipes.
Ainda na COP30, a professora Karine Lopes, da Escola do Futuro de Goiás (EFG) Raul Brandão, foi homenageada com o Troféu Destaque “Rede Mulher Florestal”, que reconheceu mulheres com iniciativas inovadoras voltadas à preservação ambiental. Karine é idealizadora e fundadora da startup Naturicap, responsável pela criação de cápsulas biodegradáveis lançadas por drones modelo XFLAY 800 que permitem o plantio automatizado de árvores. A tecnologia, fruto de mais de sete anos de pesquisa, reduz custos, acelera o reflorestamento e elimina resíduos, utilizando materiais orgânicos que abrigam sementes nativas e nutrientes para a regeneração de áreas degradadas. O projeto, que teve origem em pesquisas de mestrado realizadas na Universidade Federal de Rondonópolis, foi selecionado em um edital da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) voltado a soluções tecnológicas para recuperação ambiental. Agora, chega à COP30 como exemplo de bioinovação brasileira aplicada à sustentabilidade.
Verbas
Dentre os poucos exemplos acima, dos milhares que existem mundo afora, uma coisa é clara: só é possível chegar a resultados concretos na educação para com a sociedade à base de investimentos. E, infelizmente, as universidades federais e agências de fomento à ciência e tecnologia, por exemplo, serão alvo de uma redução drástica no orçamento. A previsão do governo federal para 2026 é repassar R$ 17,9 bilhões, segundo levantamento do Observatório do Conhecimento, apresentado em setembro na Câmara dos Deputados. Isso representa 53% a menos do que em 2014, quando o valor era de R$ 32,5 bilhões.
Os pesquisadores ressaltaram ainda que os valores para 2026 se mantiveram os mesmos de 2025, que foram de R$ 17,27 bilhões. Ou seja, 0,12% de reposição. Em contraste, no mesmo mês, foi realizado o sexto debate do Ciclo Nacional de Seminários Autonomia Universitária. O tema foi: “A universidade pública como fator de desenvolvimento nacional”. O objetivo foi trazer reflexões e propostas de todos os seis seminários realizados, que serão encaminhadas ao Congresso Nacional como proposta de aperfeiçoamento do ensino superior brasileiro. O ciclo passou pelas universidades estaduais de Santa Catarina, Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Brasília (UnB) e pelas federais de Pernambuco (UFPE), Pará (UFPA) e de Goiás (UFG).
Durante o seminário, o chefe de Gabinete da Reitoria da USP, Arlindo Philippi Jr., destacou que a discussão era sobre “a universidade pública como fator de desenvolvimento nacional. Onde há uma universidade pública, a região se desenvolve.” A universidade propicia a exploração de uma determinada localidade, levando em consideração seus aspectos sociais, geográficos, econômicos, entre outros, para traçar as demandas e buscar, por meio de conhecimento científico, as possíveis soluções – que podem vir por meio de políticas públicas, por exemplo. Mais uma vez o governo sendo beneficiado com os investimentos lançados nas academias. Por isso, é importante a consciência dos gestores públicos de que a universidade jamais pode ser tratada como inimiga ou ser deixada de escanteio quando se fala em investimento. Parafraseando Arlindo Philippi: “A excelência universitária não é um luxo, mas um pré-requisito para o desenvolvimento. Ela é o elo que conecta a pesquisa científica à inovação tecnológica, a formação de profissionais qualificados à produtividade econômica e o pensamento crítico à construção de uma sociedade robusta e democrática.”
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