Goiás pode mostrar como o Brasil pode recuperar o controle da segurança pública, mote das eleições de 2026
25 outubro 2025 às 21h00

COMPARTILHAR
Já há alguns meses que as pesquisas mostram e re-mostram: a violência é a principal preocupação dos brasileiros, e seu combate será decisivo nas eleições de 2026. O último levantamento da Genial/Quaest sobre o tema, de março de 2025, mostrou que a segurança pública era preocupação de 70% dos entrevistados, com 38% avaliando negativamente o governo federal. Com o privilégio do retrospecto histórico, é possível projetar o ânimo dos eleitores nas cabines de votação, e como vão encarar o projeto de cada candidato para a segurança pública.
Em entrevista ao Jornal Opção de 18 de outubro, uma das maiores especialistas no tema das organizações criminosas do país descreveu os erros e os acertos dos estados brasileiros no enfrentamento ao Primeiro Comando da Capital (PCC). A paulistana Fátima Souza (tão paulistana que nasceu na data do aniversário da cidade, 25 de janeiro, “que é para não deixar dúvidas”, brincou ela) foi quem descobriu a existência do PCC há 28 anos.
Ela fez questão de deixar claro: “Não sou fã do Caiado”. Fátima Souza não parece ser fã de político algum. Na entrevista, não poupou críticas aos governadores de São Paulo, de Mário Covas a Tarcísio Freitas. A falta de paixões políticas tornou sua declaração seguinte mais significativa: “Eu gostaria que o Brasil tivesse tomado decisões como as que Goiás tomou, para que hoje a população pudesse se sentir mais segura.”
Fátima Souza também ressalta que, apesar dos acertos de Goiás nos últimos anos, o PCC não se dá por vencido facilmente: “Desconheço o estado onde não haja PCC, ou onde o PCC não tenha se aliado a alguma facção, como ocorre na Bahia. Porém, existem estados que lidam melhor com a segurança pública. Quando há patrulhamento, presença do Estado, o PCC recua em suas ações, mesmo que não deixe de existir. Porque, na perspectiva da facção, os governos vão passar — um dia essa não será a situação e, quando o governo mudar, o PCC pensa que poderá voltar a agir, portanto é melhor estar presente.”
A declaração mostra que é necessária ação constante. Não basta ter feito — ter feito uma grande operação, ter feito prisões, ter feito um projeto de lei; é preciso estar fazendo. É neste sentido que os eleitores brasileiros avaliam mal o enfrentamento às facções. É como Demóstenes Torres escreveu: “A operação Carbono Oculto contra o PCC funciona… se for feita uma por dia”. Isolada, a operação mostrou a extensão do problema: R$ 30 bilhões investidos na Faria Lima. E agora, o que o governo federal vai fazer a respeito?
A situação é recorrente na história da relação do Estado brasileiro com organizações criminosas. Se descobriu que o Porto de Santos é a “casa do PCC”, onde partem e chegam drogas e armas — e o que foi feito? A cooptação das autoridades pelo dinheiro do tráfico internacional emplacou desculpas: “são muitos containers, não podemos verificar tudo”. Antes disso, outas omissões; Fátima Souza mostrou com reportagens extensas a existência do PCC, e o que foi feito? O secretário de segurança pública de São Paulo, João Benedicto Azevedo Marques, chamou a repórter de “mentirosa” e disse que não existia PCC em 1997. O resultado da negligência, sofremos hoje.
A direita sempre teve monopólio do discurso público sobre segurança. As propostas podem ser criticadas, mas historicamente o campo apresentou sozinho projetos que prescrevem uma linha de ação; enquanto a esquerda se ocupou apenas de descrever o problema em termos de falta de políticas sociais, educacionais, estruturais. Agora, a direita bolsonarista começa a perder essa bandeira, porque só fala de anistia a Jair Bolsonaro.
A Proposta de Emenda Constitucional da Segurança Pública, apresentada pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, é frágil, merece críticas, mas a direita bolsonarista não cumpriu seu papel de oposição neste caso. Apenas os governadores de Goiás e Pará cumpriram suas funções e apontaram os defeitos: a PEC tira autonomia dos governadores e ignora as realidades regionais para centralizar ineficientemente o combate ao crime.
Agora, sentindo a iminência do tema para os brasileiros, o Executivo Federal apresentou outro projeto — este, com boas ideias. Ricardo Lewandowski enviou nesta quarta-feira, 22, para análise de Lula da Silva o PL Antifacção. A proposta é agravar a pena para lideranças e integrantes de organizações criminosas e criar um banco de dados nacional para ter uma espécie de catálogo de informações dessas facções com a finalidade de reunir informações estratégicas para investigação e rastreamento desses grupos.
O movimento é válido e necessário, criticável apenas no ritmo. Ao fim do terceiro ano do mandato de Lula, a primeira proposta significativa para a segurança pública saiu do Ministério da Justiça para ser examinada na Casa Civil. Depois, será formulada e enviada para as duas casas do Congresso… mas o assunto é urgente e 2026 é ano eleitoral, quando nada anda.
Vale lembrar que não basta ter feito um projeto de lei, é preciso estar fazendo algo agora. Goiás tem o que mostrar: de 2018 a 2025, são sete reduções consecutivas nas taxas de homicídios. Não é apenas uma vitória, são sete ocasiões em que o estado cumpriu a meta. Tanto o Atlas da Violência, que usa dados dos óbitos contabilizados dentro da saúde, quanto os dados do Ministério da Justiça, os homicídios caíram muito.
De 2018 para 2024, a redução média de todos os crimes pelos parâmetros da Secretaria de Segurança Pública foi de 55%. Não foi sempre assim. Em 2015, o estado tinha quatro das 30 cidades mais perigosas do país, segundo o IPEA: Novo Gama, Luziânia, Senador Canedo e Trindade.
Renato Brum, secretário de Segurança Pública, explicou o que foi feito em entrevista ao Jornal Opção de 17 de maio de 2025. Inteligência, integração e investimento. Sem valorização dos três Is, é impossível produzir melhora constante na área. O eleitor reconhece os resultados do projeto. Pesquisa Genial/Quaest publicada em 22 de agosto mostrou que, na Segurança Pública, 74% dos goianos consideram “positiva” a atuação do Governo de Goiás.
Para voltar ao diagnóstico, em Goiás as facções arrefeceram porque o estado não ignorou a organização do crime. O vice-governador Daniel Vilela (MDB), e em breve governador, mostrou compreender a necessidade de avanços estruturantes, e não pontuais. Em entrevista ao Jornal Opção, afirmou: “Em breve, vamos lançar um novo plano de segurança pública que será revolucionário. Além de sermos referência, eu costumo dizer: se os criminosos acham que a vida deles está difícil em Goiás, eles não perdem por esperar. Com o projeto de inteligência artificial que vamos lançar para o combate ao crime, a vida deles vai ficar ainda mais complicada.”
